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domingo, 28 de abril de 2024

O Maior Erro De Sigmund Freud

Freud, sobre o desejo, entre outras coisas disse: “O primeiro desejo parece ter sido uma catexia alucinatória da lembrança de satisfação.”.

Trocando em miúdos: Freud postulou que o desejo é uma “busca por aquilo que se perdeu”, um “retorno à marca psíquica” deixada pela experiência primeira de satisfação, que, segundo ele _e não só segundo ele_ aplacou uma necessidade, como, por exemplo, a fome, no bebê. Porém, se “algo foi perdido”, já havia relação de dependência, do sujeito em relação ao objeto, isto é, o desejo fazia parte dessa relação, era intrínsceco, inerente… Uma “necessidade foi aplacada”? Mas, se havia, no bebê, a necessidade em relação ao organismo que o nutria, o “desejo” já se revelava ali, na relação de dependência entre sujeito e objeto. Não há como separar desejo de organismo, como se o desejo fosse algo surgido posteriormente pela contraditória “falta do que se perdeu”.  O desejo é, simplesmente, um misto de instinto e subjetivação, isto é, a união mais ou menos caótica de fisiologia e interpretação, visto que se desenvolve no organismo e a partir deste, na relação com o meio. Não haveria existência se o desejo não fosse intrínsceco, inerente, porque, sem o desejo, o sujeito não iria em direção ao objeto e, devido a inércia, pereceria.

O maior problema da psicanálise é subjetivar em demasia o que é natural, achando que, em tudo, há um tal Inconsciente, uma repressão atuando… Há, na própria estrtutura da psicanálise, o reflexo de fixações humanas, que se revela no analista que não se satisfaz enquanto não dá um significado um tanto mirabolante às questões de seu paciente. E nem cheguei, aqui, a falar sobre Lacan…

Seguindo esse erro conceitual, Freud diz que “o sonho é realização de desejo”. (Você encontra essa afirmação de Freud em A interpretação dos sonhos – 1900; edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud).  Isto é, “em sonho _segundo Freud_ realizamos aquilo que, em estado vigil, reprimimos”. Tal erro se constata ao estudar, dedicadamente, as origens do sonho, no homem primitivo, coisa que tem direta ligação às origens da cognição. Os sonhos tiveram seu início já no homem primitivo e, a cognição, que é um dos principais fundamentos para o desenvolvimento da linguagem conceitual, do raciocínio mais complexo, “a partir da mesma raíz brotou”. E que “raíz” foi essa? A “raíz” da cognição e dos sonhos se constituiu de experiências sensoriais-mnemônicas, ou seja, as “impressões que o ambiente ia deixando na memória celular e neurofisiológica”. Os sonhos resultaram dessas “impressões sensoriais”, do acúmulo mnemônico de cenas e sensações a elas relacionadas”. O sonho é uma realidade compartilhada entre todos os mamíferos. Dizer que é “realização de desejo reprimido em estado vigil” equivale a dizer que gatos, cães, cavalos etc., vivenciam comflitos morais, éticos, o que, obviamente, todos sabemos ser um absurdo gigantesco!

Podemos, ainda, em linguagem metafórica, dizer que os sonhos são “espasmos da alma”.

Assim como nosso corpo algumas vezes produz, involuntariamente, movimentos que chamamos de espasmos, a “alma” ou “mente” (síntese de funções do organismo sob suas bases constituintes e de inter-relação com aspectos socioculturais: ambiente) tem, seja por assim dizer, “movimentos involuntários”, “espasmos”. Os sonhos seriam, desta forma, “espasmos da alma”, que, na maioria das vezes, são aleatórios, sem qualquer elencamento e significado, resultados de acúmulo de tudo que, ao longo da vida, fazemos, assistimos, lemos, tocamos, cheiramos… Os sonhos podem, obviamente, revelar importantes coisas sobre a nossa vida, sem que isso seja, necessariamente, “função dos sonhos”. Em nosso corpo, esses movimentos involuntários, ou espasmos, decorrem de acúmulo, excesso de força ou eletricidade utilizada ou distribuída. Esse excesso ou acúmulo de força, de eletricidade no organismo, pode ocasionar lesões (por exemplo, lesões musculares), inflamação ou estriamento, e nesses casos, os espasmos constituem um importante sinal de que algo não está bem, e de que é preciso mudar alguma coisa no organismo ou em relação ao organismo, e pode ser, em outras vezes, apenas uma forma de liberação dos excessos, para que não ocorram tais problemas ao organismo. De modo semelhante, os sonhos podem, algumas vezes, sinalizar que algo está errado com a pessoa, com algum aspecto da vida da pessoa, mas também pode ser, apenas, “espasmos involuntários da alma”, para liberação de excessos eletroquímicos oriundos da produção de informações e do acúmulo dessas informações. Para saber mais sobre o referido tema, oriento que leia outro artigo meu no Jornal Tribuna, cujo link é: https://jornaltribuna.com.br/2023/05/o-que-sao-e-para-que-servem-os-sonhos-uma-abordagem-neuropsicanalitica-para-muito-alem-de-sigmund-freud/

Digo tais coisas com toda admiração que tenho pelo grande Sigmund Freud…, a quem devo parte do desenvolvimento da Neuropsiquiatria Analítica.

Autor:

Cesar Tólmi – Psicanalista, filósofo, com Graduação/Licenciatura em Filosofia, pós graduando em Neurociência Clínica, jornalista, artista plástico autodidata, escritor e idealizador da Neuropsiquiatria Analítica com integração dos campos clínico, forense, jurídico e social.

cesartolmi.contato@gmail.com

https://youtube.com/@SALAVIRTUAL.CesarTolmi

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