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domingo, 5 de maio de 2024

Ética Jornalística na Era Digital: Desafios, Transformações e Compromissos Fundamentais

A era digital trouxe inúmeras oportunidades para o jornalismo, mas também intensificou os desafios éticos enfrentados pelos profissionais da área. Entre esses desafios, destacam-se a propagação de notícias falsas e a crescente pressão por cliques, ambos testando os limites da integridade jornalística.

A queda na confiança na mídia pode ser atribuída a vários fatores. Em determinadas regiões, o jornalismo e os jornalistas têm enfrentado críticas devido a práticas polêmicas e eticamente questionáveis na coleta de notícias, envolvendo enganos injustificados e intrusões. Desde o início do século 20, os jornalistas têm lidado com o desafio de equilibrar o compromisso com a busca da verdade, a minimização de danos e a manutenção da autonomia profissional (PRICE et al., 2018).

A revolução na mídia digital provocou uma reavaliação da ética jornalística. Princípios estabelecidos estão agora sob escrutínio, dando origem a novas práticas, e o consenso profissional previamente acordado em relação aos objetivos e princípios do jornalismo responsável foi perturbado. O panorama da ética jornalística precisa passar por uma reinvenção para lidar com os desafios impostos pelo ambiente global de mídia digital (WARD, 2014).

A disseminação de notícias falsas tornou-se uma preocupação central. Com a rápida propagação de informações nas redes sociais, a autenticidade frequentemente é comprometida. Jornalistas se deparam com a tarefa assustadora de distinguir entre notícias legítimas e informações fabricadas. A pressão para ser o primeiro a relatar notícias de última hora muitas vezes entra em conflito com a necessidade de verificação de fatos, levando à disseminação inadvertida de desinformação. Esse dilema ético exige que os jornalistas atinjam um equilíbrio delicado entre a urgência da informação e a responsabilidade de garantir sua precisão.

Além disso, a crescente pressão por cliques e engajamento em plataformas digitais tem implicações éticas significativas. Depender de métricas de audiência pode levar a práticas sensacionalistas, manchetes exageradas e foco em notícias mais atraentes em detrimento da relevância e precisão. Os jornalistas frequentemente se veem tentados a priorizar o sensacionalismo em detrimento da profundidade e objetividade, comprometendo assim a qualidade e credibilidade do jornalismo.

Embora suas raízes históricas remontem a quase um século, a transparência destaca-se como o princípio ético mais recentemente estabelecido para jornalistas profissionais. O aumento da transparência como ética e valor jornalísticos fundamentais pode ser atribuído principalmente a três desenvolvimentos distintos, mas interconectados. Em primeiro lugar, o progresso sociocultural contínuo na sociedade aumentou gradualmente tanto a disponibilidade quanto a demanda por informações, especialmente em áreas como política e negócios. Essa evolução tem fomentado uma expectativa do “direito de saber”, influenciando assim o cenário jornalístico. Em segundo lugar, o advento das tecnologias de mídia digital proporcionou vias adicionais para divulgação de informações, interação com jornalistas e observação da produção de notícias. Por fim, discussões éticas e normativas entre jornalistas e estudiosos têm advogado por uma maior abertura no campo do jornalismo (KOLISKA, 2021).

Tárcia e Marinho (2008) destacam a imperativa necessidade de a educação em jornalismo colaborar com os alunos na exploração de alternativas que possam se adaptar às mudanças evolutivas, considerando as oportunidades interativas e participativas oferecidas pelos usuários. Atualmente, os programas de graduação em Jornalismo operam de maneira fragmentada, influenciados pelo cenário de mídia analógica, e precisam aprimorar sua abordagem para preparar jornalistas que possam navegar efetivamente nas dinâmicas emergentes do mercado sem comprometer sua capacidade de reflexão ética sobre responsabilidades sociais.

Diante desses desafios éticos, é crucial para os jornalistas reafirmarem seu compromisso com os princípios fundamentais do jornalismo, incluindo precisão, imparcialidade, transparência e responsabilidade. Promover a alfabetização midiática entre o público, investir em tecnologias de verificação de fatos e estabelecer padrões éticos claros nas redações são medidas cruciais para abordar esses dilemas na era digital. A integridade jornalística é mais essencial do que nunca, à medida que os jornalistas enfrentam as complexidades éticas inerentes a um ambiente digital em constante evolução.

Referências

Koliska, M. (2021). Transparency in Journalism. Oxford Research Encyclopedia of Communication. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190228613.013.883.

Price, L., Sanders, K., & Wyatt, W. (2018). Introduction. Sir John Fortescue and the Governance of England. https://doi.org/10.1017/9781787443235.003.

Tárcia, L., & Marinho, S. (2008). Challenges and new ways of teaching journalism in times of media convergence. Brazilian Journalism Research, 4, 29-53. https://doi.org/10.25200/BJR.V4N2.2008.148.

Ward, S. (2014). Radical Media Ethics. Digital Journalism, 2, 455 – 471. https://doi.org/10.1080/21670811.2014.952985.

Autora:

Mayrla Lima. Jornalista com mais de dez anos de experiência no mercado de trabalho, atuando em diversos segmentos da profissão como repórter, editora, produtora, social media, fotojornalismo, assessoria de imprensa e comunicação social. Formada em Comunicação Social – Faculdade São Luís- 2010 (Atualmente Faculdade Estácio). Sindicalizada no Sindicato de Jornalistas de Minas Gerais-BR, com carteira profissional Nacional e Internacional.

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