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segunda-feira, 29 de abril de 2024

O preço do preconceito – neste caso, puro “etarismo” .

Olá! Difícil atravessar esta avenida, você não acha? Verdade! O tráfego é intenso, e os motoristas não respeitam as faixas de pedestres.

Você mora por aqui? Não. Vim na casa de uma amiga. Ah! É sempre bom visitar e manter-se em contato com os amigos.

Em que você trabalha? Sou psicanalista! Que bacana, uma profissão de muita responsabilidade. Discípula de Freud? Acertou! Se bem que atendo os meus pacientes, utilizando várias abordagens: Lacan, entre outros…

Deixa o seu telefone! Ah, sim: espera um pouco, vou entrar nesta loja e arrumar papel e caneta, pois não ando com celular. Tá certo: eu espero!

Aqui está, entre em contato!

– Alô, aqui é o João, aquele que você passou o telefone, naquela tarde, na esquina do clube onde faço academia.

– Oi, João! Você quer tomar um café comigo? ok! Vamos combinar. Que tal às 14 horas em frente ao seu clube. Então te espero lá, amanhã, diz Maria!

Dentro do saguão do clube, na hora marcada:

Caramba! Será que é ela? Parece tão envelhecida. Só a vi uma vez, e por pouco tempo – posso estar enganado. Como não tenho certeza vou sair e esperar lá na portaria. Mas é quase certo era ela; lanchando lá dentro do clube.

João acende um cigarro, e se senta na mureta, em frente ao clube para esperar que ela saia. Pouco minutos depois, ela aparece e desce as escadas! Ele fingindo que não a tinha visto, dirige-se a ela e exclama: Oi Maria, tudo bem? Ela responde: eu vi você lá dentro: João se faz de desentendido, e ela acende um cigarro, ele acende outro, meio desconcertado.

Preciso de um palito de dentes, diz ela! Como no clube não tinha, passaram a procurar nas redondezas. Entram em algumas lanchonetes, mas nenhuma delas ofereciam os ditos palitos.

Finalmente, chegam a um bar-restaurante, de quinta categoria, e encontraram o palito de dentes. João pensou: será que ela percebeu que uso prótese na boca, e de maneira indireta, está tirando um sarro de mim… ou estou vivenciando uma paranoia…que me faz refletir sobre à minha própria idade…

Mesmo com a pulga atrás da orelha; João convida-a para uma cerveja. Ela aceita, e pede ao garçom a pior e a mais barata cerveja – parece que de propósito, João aceita, e não comenta nada. Logo ela diz – pena você não ter aceitado nos encontrarmos naquela churrascaria – ela é muito conhecida e badalada.

– João retruca: meu dinheiro atualmente não dá mais para frequentar restaurantes e churrascarias com o status sugeridos por você – estou num nível mais baixo que o seu – sou aposentado!

Ela, faz uma pergunta direta; que o deixa completamente sem jeito? Confessa, você me olhou na lanchonete e fingiu que não me viu? Não quis ser visto com uma mulher aparentemente muito velha:  que por ter os cabelos quase todos brancos, reflete ainda mais a imagem de idosa. E isso te assustou. Confessa!  É verdade: sou uma pessoa de idade, sim, que não usa maquiagem e não tinjo os cabelos como a maioria das mulheres, e por isso aparento ser mais velha do que realmente sou, mas posso te assegurar que sou mais nova que você! Quer apostar?

Foi como receber um soco na cara! Completamente nervoso, João fala com dificuldade: Maria, não é bem isso…

Ela se levanta bruscamente, e com um sorriso cínico, paga a metade da conta, que era quase nada, e vai embora.

João pensa; o que eu fiz!

No dia seguinte, ele manda mensagens e telefona-lhe com a intenção de se explicar e pedir desculpas, mas ela não responde.

Insiste mais uma vez, mas continua ignorado por ela, e fica sem poder se explicar, mas imediatamente a razão prevalece, e ele pensa, minha atitude não tem explicação. Inconformado arrisca-se e liga várias vezes, mas o telefone dela fica em total silêncio. João fica no arrependimento, e finalmente sentindo na própria pele, o que é, e o perigo do preconceito; neste caso o “etarismo” … ele desiste procurá-la, mas confessa a si mesmo, que aprendeu uma grande lição…

Autor:

Jaeder Wiler

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