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domingo, 28 de abril de 2024

O passado volta a assombrar: A ameaça de um segundo mandato de Trump

Dia 8 de novembro de 2016. Os Estados Unidos protagonizaram uma das piores catástrofes políticas da história mundial. Surpreendendo a todos, inclusive a eles mesmos, os estadunidenses elegeram o então candidato republicano e líder da extrema-direita, Donald Trump, para assumir o controle da Casa Branca.

Desde o começo da campanha eleitoral, sob o lema “Make America Great Again” (“Faça a América Grande De Novo”), Trump soube explorar como ninguém os piores sentimentos de uma parcela significativa da classe média e operária branca que via a ascensão das minorias e a presença cada vez maior dos imigrantes como uma ameaça aos seus empregos e a sua identidade nacional.

Dessa maneira, utilizando-se de uma retórica altamente bélica, com discursos preconceituosos e frases de efeito, o republicano criava para si a imagem de ser um sujeito destemido, que dizia o que pensava sem temer as consequências de suas falas e, acima de tudo, de ser o único capaz de salvar os Estados Unidos e devolver o país aos “verdadeiros estadunidenses”.

Para se ter uma ideia, no discurso de abertura da sua candidatura, Trump já mostrava para que veio. Ele prometeu proibir a entrada de muçulmanos no país que, na visão dele e sem fazer qualquer tipo de distinção alguma, eram extremistas e potenciais terroristas.

Além disso, em uma de suas promessas mirabolantes, para barrar a entrada de hispânicos, em especial de mexicanos que, para o líder da extrema-direita estadunidense, eram todos “bandidos e estupradores”, ele construiria um “grande e lindo muro” na fronteira com o México.

Ao chegar ao poder, Trump conseguiu fazer com que a sua bandeira anti-imigração se espalhasse para outras regiões, fomentando, principalmente, o surto de xenofobia contemporânea que tomava conta da Europa.

Países europeus liderados pela extrema-direita passaram a implementar cada vez mais políticas restritivas contra estrangeiros. O ápice da onda anti-imigração, contudo, se deu no Reino Unido. No movimento que ficou conhecido como Brexit, para impedir, justamente, a entrada de mais imigrantes, a maioria dos britânicos decidiu se retirar da União Europeia.

Por mais que conseguisse influenciar a política de outras partes do planeta, graças ao sistema constitucional estadunidense de freios e contrapesos, somados com os esforços de congressistas democratas e dos poucos republicanos que resistiam às suas investidas, Trump não conseguiu – pelo menos não da maneira que queria – emplacar a sua agenda anti-imigração e reacionária.

O governo trumpista, na verdade, ficaria marcado por uma série de escândalos envolvendo principalmente o então presidente, por uma política externa desastrosa de abandonar pactos internacionais e pela incompetência de seus membros na administração pública, sobretudo, em gerir a crise da pandemia da COVID-19.

Em 2021, no entanto, é que os trumpistas chegaram ao auge do delírio e da irracionalidade. Instigados – como não poderia ser diferente – por Trump, movidos pelo ódio e cegos pela loucura, os mais fervorosos e fiéis seguidores do republicano invadiram o Capitólio na tentativa desesperada de manter o seu líder no poder.

Apesar de terem conseguido furar o bloqueio policial e adentrar no edifício, paralisando a sessão que oficializava a posse do democrata Joe Biden como o novo presidente dos Estados Unidos, a tentativa de golpe, no final das contas, foi um fracasso.

Mais tarde, Donald Trump, por ser o autor mental do golpe, sofreria uma sucessão de processos na Justiça e, desse modo, sua vida política se encerraria. Ao menos, era o que deveria acontecer.

Devido à incrível inabilidade dos democratas e da Justiça estadunidense, Trump, durante esses anos todos, não sofreu nenhuma consequência grave – nem tanto jurídica como política – de suas ações golpistas.

Agora, uma nova eleição presidencial se aproxima no horizonte dos Estados Unidos e, ao que tudo indica, o líder da extrema-direita volta mais forte do que nunca para assombrar a democracia e a geopolítica mundial.

Desde agora, o republicano busca recolocar a sua agenda reacionária a todo vapor. Para se ter uma ideia, enquanto que, no México, uma marcha de imigrantes – chamada pela grande mídia como Êxodo da Pobreza – caminha em direção aos Estados Unidos; em um comício em Nevada, Trump prometeu realizar a maior deportação da história do país.

Não resta dúvidas, para chegar à Casa Branca, ele irá reavivar a sua base eleitoreira, procurando despertar nela os sentimentos mesmos sentimentos de medo, frustração, raiva e angústia que o conduziram à vitória em 2016.

Pior ainda, com o republicano novamente no poder, é certo que as minorias, os imigrantes e qualquer outro grupo considerado como rival pelos trumpistas serão perseguidos durante a sua gestão. Isso sem mencionar, claro, os desdobramentos e os reflexos que a sua política ultraconservadora pode trazer para o mundo.

Por isso, mais do que nunca, é necessário que os democratas e os poucos que ainda são contrários a Trump no Partido Republicano se unam para impedir a sua volta.

É fundamental estabelecer uma estratégia de comunicação clara e eficaz para conscientizar a população sobre os reais perigos de ter o líder da extrema-direita novamente no comando de uma das maiores superpotências mundiais, ainda mais, em tempos de guerra e de alta polarização em que vivemos.

Que os estadunidenses entendam de uma vez por todas que a verdadeira ameaça não é a marcha de imigrantes vinda do México, mas sim que é um demagogo, machista e reacionário que atende pelo nome de Donald John Trump.

Autor:

Gianluca Florenzano (mestre em ciências sociais pela PUC-SP, jornalista e pesquisador)

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