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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Marrocos, Palestina e o conflito Israelense

O Marrocos, localizado no norte da Africa, historicamente não tem haver com o conflito palestino-israelense, mas acabou implicado por razões geopolíticas e ideológicas, às transformações internacionais após as duas grandes guerras, a queda dos impérios e o início do ressurgimento de ideologias destrutivas e nacionalismo árabe.

Assim, o Marrocos, historicamente não fez parte da política do Oriente Médio, nem tem sido ocupado por qualquer potência colonial otomana, ou ser submetido ao  domínio ditatorial.

Recorda-se do início do Mandato franco-britânico na Síria, Líbano e Palestina, nos contextos dessas regiões, impondo um novo mapa e novos dados, levando Marrocos a entrar neste conflito, sem lhe concerne, através das manobras e aléias de Gamal Abdel Nasser, do egito.

Entre as teses predominantes, à margem do conflito entre Palestina e Israel, são aquelas existentes fazendo dos marroquinos acreditar não tomar posição ou interferir nos assuntos do Oriente Médio.

Mas no final, qual é o conceito do Oriente e do ponto de vista geopolítico, bem como da essência historica?

Tratando do Oriente Médio, percebe-se que cada um tem sua própria lógica sobre a região. No passado, para alguns, inclui o Marrocos e Ásia Central, Afeganistão e Paquistão…Para outros, limita-se apenas à Arábia e ao Egito. Um conceito geopolítico puramente europeia, sem nenhuma base científica, histórica ou geográfica.

Essa região tem sido apontada como Oriente Próximo, em comparação com o Extremo Oriente. A costa leste do Mediterrâneo foi chamada de levante, referente ao sol nascente.

Estes conceitos referem-se a determinados períodos históricos. Cujo conceito do Oriente Médio em termos geográficos implica compreender o contexto, de cada um dos países segundo o seu meio de atração.

Indagando sobre o Oriente Médio, se ele foi esculpido a partir de uma perspectiva geográfica europeia ou americana? cuja região situada no centro do oriente médio, objeto de atenções internacionais?

Perante todas estas interrogações, este conceito impôs-se geopoliticamente uma filosofia política árabe, parte hoje da região MENA, ou seja, Médio Oriente e Norte de África, distinguindo o Norte de África, Egipto a Marrocos, e entre os países localizados na Península Arábica, ou entre o Golfo, Mar Vermelho e Mediterrâneo…

Tudo isso nos remete à história. Alguns que repensam o “mundo árabe” ou Oriente Médio, historicamente, como o “mundo otomano”, ligado a este Império desde o século XVI.

Os otomanos souberam da localização estratégica da região, perante a chegada dos navegadores portugueses no século XVI,  anexando esta região. A qual é conhecida hoje, como Kuwait, Iraque, Bahrein, Emirados, Catar, Iêmen e Hejaz, a exceção de Omã em algumas etapas; bem como o resto da região do deserto habitado por beduínos sob autoridade dos emirados tribais e anciãos.

 Até então, o Marrocos ficou distante dos assuntos dessas regiões, além de não pertencer a colônia otomana, nem foi objeto do protocolo do Sykes-Picot…

Tais regiões, por sua vez, vão conhecer uma nova etapa da história, durante a Primeira Guerra Mundial, quando os franceses, britânicos e russos apoiaram a revolução árabe contra os muçulmanos turcos, no quadro de uma política europeia colonial do momento.

A França enviou forças militares a Meca, além das forças muçulmanas da Argélia, longe dos problemas do Haram (Sagrado), numa altura em que o seu comandante francês, o coronel Bremont, foi mantido sob a cidade de Jeddah.

Esta expedição francesa foi presente na época em que o general Lawrence da Arábia, dono das cores das bandeiras, procedeu a esculpir a lua nas quatro cores das bandeiras, sob autoridade do Hussein Sharif na Meca, por trás seus filhos fundaram o núcleo do Reino Árabe Hachemita, com capital Damasco.

Tais cores das bandeiras, segundo a lógica de Lawrence, remetem aos omíadas,  abássidas e fatímidas, mantidas como símbolos dos otomanos nas bandeiras da Líbia, Tunísia, Argélia, e Egito em 1952, e até 1983, época da troca das bandeiras.

A disputa entre a França e a Grã-Bretanha, de um lado, e os filhos do Sharif de Meca, por outro lado, levaram finalmente, ao acordo inicial que não foi só para manter um reino árabe dessa forma, mas sim estabelecer um acordo de estado árabe no Hijaz, ao lado de um estado hebraico.

Foi o ínicio da repercussão sobre o acordo de Balfour, que não é tanto quanto menos contraditório do que o acordo de MacMahon. Tais acordos inseparáveis ??visaram a remoção do Império Otomano.

Durante a Primeira Guerra Mundial, o Acordo Sykes-Picot foi acordado, não só entre França e Grã-Bretanha, mas ele envolve outra parte, sob acordo tripartite, envolvendo o Império Russo.

Sob este acordo, o estado otomano foi conspirado e conluio das riquezas entre as potências coloniais ocidentais, bem como entre as terras instituídas pela República Turca, posteriormente.

Após o fim da Primeira Guerra Mundial, os impérios limitaram-se à Europa, e o mandato foi no sentido da administração colonial, segundo o qual os países do “Oriente Médio” passaram a ser sujeitos ao mandato franco-britânico.

O que é então o mandato?

O mandato é uma fórmula legal proposta pela Liga das Nações, fundada em 1919. Essa liga a pedido da França e Grã-Bretanha tem por objetivo delegar ou mandatar, no sentido de administrar os assuntos das ex-colônias do Império Otomano, e ações a executar na região.

Caso do Mandato imposto da Britânico sobre a Palestina e da Francês sobre a Síria e Líbano.

No momento em que o Al Saud derrotou o Sharif de Meca, instaurando o Reino da Arábia Saudita, resultado da independência  do Reino Hachemita Iraquiana, sob autoridade do Rei Faseel, e do Reino da Arábia em Damasco, onde o General Henry Gouraud, nomeado pela França, após a Batalha de Maysalun, julho 1920, como governante, influenciando as políticas coloniais. Enquanto no Egito, o poder ficou mantido sob o protetorado britânico desde 1883.

Isto é o mapa geopolítico da região até o final da Primeira Guerra Mundial.

O Marrocos, longe deste mapa geopolítico até então, continua com uma política neutra vis a vis dos aliados.

Para a Grã-Bretanha esta região oriental é fundamental por dois motivos:

1- Detém colônias no Egito e Índia, estratégia controladora das estradas entre o Egito e a Índia, bem como entre elas e a Península da Arábia.

2- Tornar-se uma questão fulcral e essencial, rumo ao controle da Índia, caminho da posse e do Canal do Suez e Golfo Pérsico.

Como ficou a situação após a Segunda Guerra Mundial, as transformações  geopolíticas operadas na região?

De fato, depois da Segunda Guerra Mundial, os acontecimentos e fatos mudaram no sentido da Síria e do Líbano, reivindicando a independência, sob apoio da Grã-Bretanha em 1944.

Enquanto a França não teve suficiente a força para manter o controle sobre essa região, em consequéncia de uma defesa acirrada dos partidários de Vichy e De Gaulle que detém controle sobre todas as colônias.

Os libaneses e os sírios reagiram contra esse conflito e reivindicando unilateralmente sua independência por um lado, apesar da instauração do próprio estado nacional, por outro lado.

Após a Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha instituiu a Liga dos Estados Árabes, através do Pacto de Alexandria e Cairo. Trás desta foram reunidos os estados independentes: o Egito independente desde 1932, Síria e Líbano, independente em 1944, o Reino da Arábia Saudita, fundado em 1926, o Reino Hachemita Iraquiano, fundado em 1927, bem como o Reino Hachemita da Jordânia e Iêmen.

Interroga-se sobre a Grã-Bretanha porque ela procura manter os países árabes sob uma bandeira diferenciada?

Com base nos fatos da história, a Liga árabe tem sido um prelúdio para o voto das Nações Unidas, a criação de dois estados de Israel e Palestina, apesar da refutação dos estados árabes membros da Liga, levando a um confronto com Israel, onde os países árabes agiram sob o destino de um povo e de um país, mas longe de uma  consulta e direito à autodeterminação, capaz de efetuar as transformações da história da Palestina, apesar da tragédia oriunda desde 1948.

As Nações Unidas foram elas, que criaram dois estados, através do voto, a exemplo do estado da Líbia em 1951, caso da colônia italiana. Fator culminante do voto, atribuindo a legitimidade internacional a Israel.

A história também anotou que o rei do Marrocos, Mohammed V, revelou ser satisfeito com a criação da Liga dos Estados Árabes.

Uma vez que tal acontecimento deu início ao envolvimento do Marrocos no Oriente Médio.

O discurso histórico em Tânger, do sultão Mohammed V, 9 de abril de 1947, revelou aspectos que não foram abordado até hoje, a política de Franco da Espanha, interpretada a título da “ política árabe”.

À luz dessa política, Franco fundou a Casa do Marrocos no Cairo, enviando missões estudantis do norte do Marrocos ao Egito, e outros da região francesa. Tal política tem afetado a política interna de Marrocos, além das elites do norte abraçarem as ideias de Franco ligadas aos árabes e ao arabismo…

Essa política de Franco, mantida no quadro da política colonial no norte e sul, foi consequência da aproximação da Espanha e Marrocos, no aspecto geopolítico, culminando assim com a aliança concluída entre Franco e Abdel Nasser.

O Marrocos foi atento, após a independência da Liga Árabe, sob o comando de Gamal Abdel Nasser, apoiante dos golpes militares contra todas as monarquias da região, consequência do golpe no Egito,em 1952.

Abdel Nasser transformou a liga árabe num instrumento de pressão, como líder, ordenador e proibidor dos “árabes” do mar ao mar, no quadro do conceito da “unidade” ou “nacionalismo árabe”.

Controlando o Estado argelino, após a independência, quando Ahmed Ben Bella, chefe de Estado, tornou-se numa altura crítica, chege do governo interino, gozando da sua legitimidade.

Abdel Nasser tornou a Argélia uma ponta de lança para assediar o Marrocos à luz de seus esforços, no sentido de derrubar ou erradicar a monarquia.

O Marrocos, sob o reino de Hassan II, fez concessões iniciais a Abdel Nasser, por medo e ameaças da derrubada dos prestígios monarquicos, caso do Iraque, da Síria, da Tunísia ou dos sucessivos golpes na Jordânia.

Preparando-se a qualquer mal do nacionalismo e do líder, Marrocos armou-se através dos meios do bom relacionamento, do princípio da arabização, da intervenção da Liga dos Estados Árabes na educação marroquina, da programação escolar e estabelecimento da teoria do arabismo. Acordando, assim, com o Acordo Sykes-Picot, e não com a Conferência de Berlim de 1885, pela qual Europa colonizou África. Envolvendo Marrocos como parte dessa história colonial.

Os marroquinos aprenderam então com a história do Oriente Médio e colonial, diante dos problemas do Oriente Médio, transmitidores do conteúdo ideológico e educacional, seja nos livros do nacionalismo ou arabismo. Tendo a um terrível confusão, impactando até hoje as gerações, o conceito de nacionalismo árabe, o liberalismo, o esquerdismo e progressismo.

Uma mistura de ideias, entre o fascismo italiano e o pensamento de esquerda. Trata-se de  uma ideologia adotada pelos países do Norte da África e Oriente Médio, visando a pureza religiosa, e o cepticismo, dados objetivos, emancipadores do Marrocos no sentido do nacionalismo, perante qualquer acontecimento do mal tornante.

Citando a participação dos exércitos marroquinos na guerra de 1973, considerada como uma manobra de Hassan II, no sentido de domar o nacionalismo “inflado” de Gamal Abdel Nasser.

O falecido, rei Hassan II, tem tratado da questão em vários níveis. Seja na guerra, 1967, em forma de “indulgências” para com os nacionalistas. Ou ainda com a participação dos exércitos marroquinos ao lado de outros exércitos, sem atingir os objetivos das terras ocupadas por Israel na guerra de 1967.

Neste contexto, o Marrocos não teve crença ou conhecimento sobre os assuntos do Oriente Médio, com astúcia do falecido rei, Hassan II, perante os nacionalistas, acreditando ser um aliado perspicaz da região.

Envolvendo o Marrocos com a Tunísia, Argélia e Líbia, num conflito longe de ser o próprio, ou de interesse, localmente ou continentalmente, ou ainda o reconhecimento das fronteiras existentes.

Estes países do Magreb foram mantidos no centro do problema, da Liga dos Estados Árabes, das manobras do Gamal Abdel Nasser, o qual foi comparado a Hitler, duas figuras da história, apesar de algumas diferenças sutis.  Sem se surpreender com o artigo de Anwar Sadat, glorificando Hitler.

Assim, o Marrocos não tem nenhuma relação histórica com o conflito palestino-israelense; apesar de ter organizado muitas cúpulas, sobre a questão árabe-palestina.

Caso da Cúpula de Rabat, 1974, visando a Organização para a Libertação da Palestina, a única e legítima representante do povo palestino. Tal cúpula foi organizada a título da legitimidade face a  instável relação entre egípcios e jordanianos. Uma vez que a Palestina, numa clara tramitação do problema a nível internacional não deixa nenhum horizonte para seus donos.

E aqueles que falam em seu nome não têm nada a perder, tornando os palestinos uma mera ferramenta ideológica política e carta de pressão geopolítica, repetidamente implorada pelo Egito, Síria e Jordânia, no intuito de alcançar outros objetivos não palestinos.

Tal tragédia do povo palestino foi mantida sob ideologias até agora, de países que intrometem nos assuntos que não lhes dizem respeito.

Finalmente, o Marrocos não tem que se envolver nesse conflito de forma direta ou indiretamente. Suas boas ações e posições refletidas pela mídia, sobre as relações com Israel, rejeitando qualquer reconhecimento da marroquinaidade do Saara, o que não reflete de fato a verdadeira visão estratégica da política externa marroquina, da determinação real, de acordo com o conceito de interesse do país, do estado, da sociedade e do futuro.

Autor:

 Lahcen EL MOUTAQI. Professor universitário-Rabat, Marrocos

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