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sábado, 27 de abril de 2024

Pra quê Teologia? – Parte I

Em 2015 concluí o curso de Bacharel em Teologia e de lá para cá, muita coisa aconteceu. Segui na carreira acadêmica fazendo uma especialização lato sensu, em seguida um mestrado e atualmente estou no doutorado, todos em uma área diferente à qual me graduei. Porém, conforme fui avançando, eu percebia que sempre faziam referência à minha formação inicial. Conforme dizia uma professora que tive, a graduação é uma identidade, é nela que se espelha toda a vida e a carreira da pessoa, pois para que a curse e conclua, é preciso identificação com o curso e uma série de fatores que a apontaram a essa escolha. Todos me perguntavam, entretanto: Por que você escolheu o curso de Teologia? Qual a profissão você vai exercer após formado? Existe mercado para um teólogo? Você vai virar pastor? Pra quê, afinal, Teologia?

Conforme aponta o Parecer CNE/CES nº 241/1999, aprovado em 15 de março de 1999 pelo Conselho Nacional de Educação, um órgão do Ministério da Educação (MEC), os cursos de Teologia no mundo tinham uma visão ecumênica, de formação de lideranças religiosas do catolicismo romano. Após desdobramentos advindos da Reforma Protestante, no ano de 1517, a religião cristã evangélica, também chamada popularmente de protestante, estabeleceu suas escolas teológicas mesmo nos conflitos Estado versus Igreja, muito comum ao período pós reforma protestante.

No Brasil, pela questão da obrigatoriedade de se estabelecer currículos mínimos educacionais de cursos superiores, passou-se a interferir nos conteúdos a ser ministrados por essas instituições, visando não apenas uma padronização de conteúdos mínimos, mas também visando o exercício profissional desse formando. Isso, de acordo com o documento, teve potencial de interferir nesse pluralismo religioso presente nas diversas Teologias, evidenciando uma vez mais a questão complexa do Estado versus Igreja. Essa é, entretanto, uma questão de debate longo com muitos detalhes e desdobramentos. Outro dia podemos falar um pouco mais sobre.

Nesse mesmo documento, é estabelecida algumas questões, como a autonomia aos centros universitários, seminários e outras instituições, de abordar, em seus currículos de ensino, as questões pertinentes aos seus assuntos, desde que respeitada a pluralidade e as tradições das religiões. Em outras palavras, é uma das normativas legais estabelecidas, no ano de 1999, para que esse curso superior seja reconhecido e validado no Brasil.

Me lembro de procurar em um jornal local durante minha graduação, nos classificados de empregos, vagas para Teólogos. Não existia. Na internet, em sites de vagas de empregos, também não. E para ser sincero, mesmo que tivesse, eu não saberia dizer o que, enquanto teólogo formado, eu poderia fazer no exercício da profissão. Assim, quando me perguntavam, eu não sabia o que responder.

A teologia para mim foi uma escolha pessoal. Cresci em uma família cristã e desde pequeno minha vivência social era em casa, na escola e na igreja. Meu pai não chegou ao nível de pastor ordenado, mas era uma liderança importante na igreja, sempre nos cultos seja na organização, na ministração da palavra ou de outras formas, nos demais eventos, no centro do palanque ou fora dele. Íamos para a igreja não apenas aos domingos, mas muitas vezes ao longo da semana para resolver diversos assuntos. Logo, ao atingir a maioridade, tentei fazer outros cursos, mas não tinha identificação alguma.

Em meados do ano de 1999, minha mãe iniciou os estudos em Teologia. Eu a via sempre empolgada com aqueles novos conhecimentos que se descortinavam para ela. Como servidora pública, ela já tinha uma certa estabilidade financeira e uma carreira dentro de sua profissão. A escolha por realizar um curso superior, então, não foi por motivos profissionais, mas uma escolha pessoal. Eram noites realizando estudos individuais e em grupos, na casa dos colegas, conciliando a difícil rotina de trabalho, estudos e vida doméstica, sendo esposa, mãe, filha, mulher trabalhadora e cristã ativa em ministérios específicos. Em 2002 ela se formou Bacharel em Teologia, sendo a primeira da família a atingir esse feito. Sua formação foi orgulho para todos nós, e eu vi de perto alguns conteúdos inseridos naquele curso, como metodologia de pesquisa, filosofia, sociologia, ciência das religiões e outros temas relacionados.

Esse foi meu primeiro contato com a teologia acadêmica, aquela fora dos muros da igreja. Ainda tinha uma forte fonte cristã, assim como as escolas dominicais na igreja e outras classes de doutrina, mas era também inclusiva à outras religiões, com muitos debates (as vezes embates, como diria minha mãe) sobre outras formas de religiões, não apenas à cristã evangélica protestante. Minha mãe seguiu os estudos realizando duas pós graduações lato sensu, me inspirando a estudar.

Em 2010 decidi então largar o curso de Engenharia de Produção, o qual eu estava cursando já no terceiro semestre, e migrei para a Teologia. Os debates sobre religiões, sobretudo a cristã, eram fervorosos. Muitas questões eclesiásticas, ecumênicas, mas também céticas e com outras vertentes religiosas. Lembro que as reflexões filosóficas sempre apontavam questionamentos pertinentes sobre a vivência religiosa, a importância da religião na humanidade e outros temas. Eu voltava para casa extasiado e cheio de empolgação por tantos conhecimentos importantes. Ainda assim, a pergunta ‘Pra quê Teologia?’ me rondava e fazia parte dos meus sonhos e pesadelos. Será que eu encontraria a resposta em breve? (continua…)

Autor:

Josué Carlos Souza dos Santos

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