29.6 C
São Paulo
terça-feira, 30 de abril de 2024

Antropologia E I.A. Desvelam Possível Rosto De Pocahontas, A “Criança Metida”

Após apresentar ao mundo a reconstrução dos rostos de Maria, mãe de Jesus, da Virgem de Guadalupe e da Mona Lisa, o pesquisador e designer, Átila Soares da Costa Filho, pós-graduado em Arqueologia e Antropologia, recorre novamente à inteligência artificial e a conceitos da Antropologia para revelar como teria sido uma das mais célebres personagens da História norteamericana: Matoaka (1596-1617). A índia pamunkey mais conhecida por seu apelido nativo, “Pocahontas”, foi popularizada internacionalmente graças à animação homônima da Disney em 1995. Posteriormente, em 1998, os estúdios ainda fariam uma continuação, Pocahontas II: Journey to a New World, e uma versão live-action do clássico encontra-se em pré-produção. Desta vez, a base dos experimentos foi o retrato feito em 1616 pelo gravador holandês Simon de Passe, considerado a fonte sobrevivente mais próxima à Pocahontas real.

De acordo com Átila, além de algumas ferramentas de I.A. e softwares de edição de imagens, foram consideradas várias questões históricas e antropológicas – especial atenção para o povo pamunkey – a fim de se conseguir um resultado mais fiel ao que a experiência se propunha. Uma delas foi tentar descartar, parcialmente, o estilo pessoal de De Passe na procura do rosto original da personagem: “Cada ilustrador, mais ou menos conscientemente, deixava a sua marca pessoal na forma como retratava um tema – é o seu estilo. Isto é positivo em termos da expressão de inovação do artista, mas, por outro lado, a sua técnica poderia trazer alguma dissonância à chamada realidade objetiva da verdadeira fisionomia do sujeito retratado”. Num sentido ainda mais técnico, é notória a padronização dos traços ao longo da obra de De Passe – por sua vez, nunca considerado um grande retratista -, onde a homogeneidade facial de seus modelos salta à vista. Isto fica em clara evidência quando comparamos estes retratos entre si, como os de Katherine Manners, Magdalena De Passe (a irmã), o Conde Filips de Hohenlohe e o de Francisca Carr: todos recordando fortemente o de sua Pocahontas. Some-se o fato da gravura ser, na verdade, apenas uma versão do holandês sobre o único retrato perdido da “princesa” powathan. E, finalmente, também não devem ser ignoradas as tentativas de se europeizar ao máximo a imagem da nativa, batizada no Cristianismo como Rebecca Rolfe, e que terminariam por nublar suas características ancestrais e étnicas.

Retratos de De Passe: Pocahontas e Francisca Carr: rostos padronizados sugerem pouca fiabilidade histórica  (IMAGENS: National Portrait Gallery / Smithsonian, Washington, D.C.).

A reconstrução resgatou uma possível aparência de Pocahontas aos 9 anos (idade assim considerada por Meera Baswan, co-fundadora da Indigenous Foundation, Shannon Quinn da History Collection, e E.L.Hamilton do New York Post), quando se deram os eventos que a aproximaram do capitão e colono John Smith em Jamestown, Virginia (EUA). Apesar de imortalizada na literatura e nas artes, a tão romantizada ficção e o mito que se construiu em seu entorno chocam-se violentamente contra a realidade. Longe de um conto típico da Disney, morreria onze anos depois a mais notória das indígenas, filha de chefe e representante powathan, Pocahontas, a “Criança Metida”, e responsável por alguns acordos pacíficos entre colonos e nativos. A causa, especula-se, pode ter sido pneumonia ou tuberculose.

Autor:

Átila Soares da Costa Filho é licenciado em Desenho Industrial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e possui pós-graduação em História, História da Arte, Filosofia, Antropologia, Sociologia, Arqueologia e Patrimônio. Autor de 5 livros e vários artigos publicados em mais de 100 países, é membro do comité científico da Mona Lisa Foundation (Zurique), da Fundação Leonardo da Vinci (Milão) e do Comitê Nacional para a Valorização do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Roma).

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio