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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Desfile de futebol na terça-feira de Carnaval

Em maio do ano passado, em Paris, Real Madrid e Liverpool se enfrentaram na decisão da Champions. O confronto foi muito bom, mas não chegou nem perto do que assistimos essa semana. O futebol europeu nos presenteou com um novo espetáculo sensacional em plena terça-feira de Carnaval.  A vitória do clube espanhol foi simplesmente inesquecível e as equipes protagonizaram o jogo mais “louco” e inusitado das oitavas de final da Champions League.

O clube inglês iniciou como um trator e em menos de 15 minutos já vencia por 2X0. O primeiro gol foi uma pintura e já sinalizava em direção ao jogo épico e incomum que assistiríamos. O egípcio Salah lançou a bola na área espanhola, o uruguaio Darwin Núñez se antecipou ao zagueiro brasileiro, Militão, e com um toque de letra jogou a bola no fundo das redes.

Poucos minutos depois, o gigante belga Courtois, goleiro que eu considero o melhor do mundo, cometeu uma falha ridícula, digna de um filme pastelão. O quase infalível arqueiro, que costuma salvar as equipes que defende, recebeu uma bola recuada, se atrapalhou todo e deixou-a toda faceira para o chute de Salah que, inapelavelmente, ampliou o placar. O Liverpool parecia o senhor do jogo e dava a impressão que garantiria, com facilidade, sua classificação em Anfield, seu estádio, e que a partida no Santiago Bernabéu seria apenas para cumprir tabela.

Se a eletricidade de sua casa acabasse aos 20 minutos do primeiro tempo e se duas horas depois, sem o retorno da energia, alguém lhe perguntasse quem venceu o jogo, com a convicção dos profetas você afirmaria, sem um pingo de dúvida, que foi o Liverpool. No entanto, quando se fala do Real Madrid, a equipe mais vitoriosa da Europa, que conquistou o continente por 14 vezes e o mundo em outras 8 oportunidades, o mais correto, mesmo que todos os indícios mostrem o oposto, é permanecer calado e descobrir o que realmente se passou. O Liverpool, a partir dos 21 minutos, viu o seu domínio simplesmente exaurir.

Quanto mais vilipendiado e agredido pelos ridículos racistas, mais Vinícius Júnior responde aos seus detratores com futebol de altíssima qualidade e altera os rumos de uma partida. Ele foi simplesmente o nome do jogo. O craque brasileiro marcou duas vezes e participou de quatro dos cinco gols de sua equipe. Como um mágico, capaz de truques incríveis, Vini Jr. iniciou a reação do Real Madrid com um golaço que ele tirou da cartola. O preto, brasileiro, vitorioso e feliz, talvez por carregar tais atributos ele seja tão atacado, recebeu a bola entre três marcadores e, no meio de tantos atletas de vermelho, conseguiu abrir um espaço para chutar cruzado, com a precisão de um míssil, para recolocar a sua equipe na disputa.

O goleiro Alisson, titular de nossa seleção nas últimas duas Copas do Mundo, parece não ser muito afeito a jogar com os pés. Em janeiro, o Wolverhampton empatou o jogo pela Copa da Inglaterra após o goleiro errar um passe e entregar a bola nos pés do atacante adversário. Passados um pouco mais de um mês, ele voltou a errar feio. Joe Gomez recuou a bola para o brasileiro que chutou em cima de Vini Jr. A bola subiu e entrou no gol. As equipes foram para o intervalo com o placar empatado.

O domínio espanhol se acentuou no segundo tempo e a equipe construiu sua folgada vitória de maneira natural. A virada ocorreu logo aos 2 minutos. O croata Modric cobrou falta lateral e Éder Militão se antecipou ao zagueiro adversário e cabeceou com força para as redes do Liverpool. A equipe inglesa sentiu profundamente o gol e ficou zonza. Aproveitando o momento favorável, o Real Madrid ampliou o placar após uma primorosa troca de passes entre Rodrygo e Benzema. O atacante francês chutou e contou ainda com o desvio em Joe Gomez, do Liverpool, para enganar o goleiro do time inglês.

Aos 22 minutos, o imparável Vinícius Júnior deu uma assistência perfeita para Benzema que driblou Alisson e, com requintes de crueldade, escolheu com calma o canto antes de fuzilar para o gol e fechar o placar em 5X2. O excelente resultado construído em Anfield deixou o gigante espanhol em uma situação muito confortável para avançar para as quartas de final da Champions, uma vez que os comandados por Carlo Ancelotti podem perder, jogando em casa, por até dois gols de diferença.

Depois do show do futebol europeu, foi dramático acompanhar os diversos confrontos que abriram, por aqui, a Copa do Brasil. A milionária competição, democrática como nenhum outro torneio nacional, reúne 92 equipes de contextos completamente diferentes, vai de clubes que disputam a Copa Libertadores da América e a Série A do Brasileirão até aqueles que sequer estão classificados nas quatro divisões do nosso futebol.

Apesar do futebol de baixíssima qualidade, as boas e engraçadas surpresas, um pouco mais comuns nas fases iniciais da competição, já começaram a ocorrer. Duas delas envolveram equipes do Mato Grosso: o Nova Mutum e o Cuiabá. O primeiro deles, que não se encontra nas quatro divisões do nosso futebol, optou, após ser campeão da desconhecida Copa FMF de 2022, por jogar a Copa do Brasil ao invés de participar da Série D de 2023. Atuando no seu acanhado estádio, a equipe mato-grossense superou o Londrina, que atua na série B, por 4X2 e, segundo a imprensa paranaense, o clube “repetiu os vexames históricos contra equipes menores do futebol brasileiro na estreia do torneio nacional”.

Eu assisti outras duas partidas de nível técnico horroroso, mas foram emocionantes pela dramaticidade que as envolveram. Em Roraima, o Cuiabá, time que atua na Série A, foi desclassificado pelo modesto São Raimundo. A equipe de Mato Grosso terminou a primeira etapa perdendo por 3X1, mas parecia encaminhar a classificação quando empatou o jogo já nos últimos minutos. No entanto, nos descontos, Allan Rosário marcou o gol da vitória do São Raimundo e o seu terceiro gol no jogo. Vejam bem caros leitores, Allan Rosário não era o centroavante da equipe, mas um dos seus zagueiros. Saindo de Roraima e chegando ao Rio Grande do Sul, em Ijuí, o Juventude, campeão da Copa do Brasil em 1999, continua o seu calvário e parece ter desaprendido a vencer. Na última quinta-feira, no jogo em que sobrou vontade e faltou a mínima qualidade, o Juventude conseguiu ser derrotado pelo fraquíssimo São Luiz que comemorou a classificação como se fosse o título mundial.

Já pela Copa Verde, o Brasiliense derrotou o Tocantinópolis por 4X2, mas o que chamou a atenção nas manchetes da imprensa foram os nomes dos jogadores que podem causar embaraço para qualquer narrador: Bilau do Tocantinópolis e Tobinha do Brasiliense. Imaginem a seguinte cena no jogo e sua narração: “Bilau entrou com excesso de força na jogada e não se preocupou com a integridade do Tobinha”. Não há expulsão que dê jeito.

Autor:

Luiz Henrique Borges

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