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segunda-feira, 29 de abril de 2024

No que vai acreditar o Pedrinho?

Não sei se sou covarde por não assistir os pênaltis da minha seleção, só sabendo depois de ver o choro do Pedrinho, ou então, se não sou a tal ponto desapegada para entender os gritos dos brasileiros, ao ver o primeiros gols do Messi na final da copa de 2022?

Não tenho como me definir. Pedrinho, 6 anos, que acreditou até o fim numa seleção sem carisma, composta por jogadores que não jogam no Brasil, nos nossos times, na nossa casa. Foram embora há tempos para além mar, viverem suas vidas, ganharem seus milhares de euros, sem qualquer compromisso com a paixão brasileira, somente com as finanças. Crítica? Não, só constatação.

Eu, por outro lado, fui fraca. Quando vi a Croácia, um time de uma pátria linda, sofrida, indo buscar aquilo que queria, enquanto a nossa seleção, mal orientada por um técnico pedante, arrogante, supostamente intelectualizado, querendo falar mais palavras do que a frase exige, e sem dar o sentido nem figurado e nem real que os brasileiros pretendiam ouvir, perdia a referência e o jogo, percebi o quanto nos faltava e fraquejei, desisti.

Alguns dirão que ele está elevando o nível futebolístico, para dar vazão a crônica de Veríssimo, mas não, ele estava apenas e tão somente querendo se destacar, querendo ser o mais elegante, sábio, culto, só que … incompetente. Eu mesma não deveria falar assim, já que fez muito pelo meu time e sou grata, mas parece que, quando saiu do Parque São Jorge rumo à CBF, foi se despindo como super herói na busca pela paz mundial, só que para ele, o encontro foi com a localização afofada do seu ego. E deu no que deu, fez um time à sua imagem, blasé, sem graça e nem nexo. Sem orientação, sem posição, totalmente vulnerável a qualquer ameaça que apareça. Cadê a orientação?

Voltando ao Pedrinho e a mim, ele foi forte, assistiu os pênaltis perdidos, acreditando na potência do pentacampeão em busca do hexa. E eu, bem mais velha, já tendo conhecido outras seleções, Romário, Bebeto, Fenômeno, Gaúcho e até o Zico de 86, sabia que dessa vez não ia, mais uma vez, não daria. Por que essa sensação sombria?

Mas Pedrinho não, ele confiava. Sua juventude somada à inocência, deram a ele o que eu não tinha mais, credulidade. Isso me fez ficar covarde, nem assistir eu consegui. Mas Pedrinho não, ele estava lá, forte, firme e idealizando, enquanto eu me escondia na descrença. Só que no final, e eu estava certa, e ele, errado. Que pena!

Foi difícil administrar a frase que não faz feliz a quem fala, mas que, com toda certeza, irrita quem a escuta, eu já sabia. E sabia mesmo! De uma seleção que deixa escapar a vitória, para uma nação que poderia ter se utilizado da neurose e da escassez para justificar-se na

derrota, o que esperar? A Croácia foi buscar o que era dela, mais tarde saberíamos, o terceiro lugar. A guerra os ensinou ao invés de os invalidar, eles acreditaram. E conseguiram. E nós? Os craques, os bons tecnicamente, os ovacionados e elogiados jogadores que nem conhecemos? Onde estão? O que fizeram? O que diriam ao Pedrinho enquanto ele chorava em prantos?

A nós coube a derrota, vindo de um povo dividido, de uma energia pesada, algo que a gente sente no dia a dia, na conversa de botequim. A divisão interna está traduzida, não na seleção, já que os jogadores são unidos em festas europeias, mas sim, na falta de crença, de esperança de um povo. Enfim, a divisão é do país. A nação está adoecida, completamente equivocada de seus valores, um lado por querer alguém incapaz de manter o governo e o outro, achando que uma pessoa com poucas qualidades de caráter, pode vir a substituir o governo que não é bom.

Para variar, o brasileiro achando que tem um fator externo que o impede de ser feliz, ou então, na existência de um salvador, que chegará e nos tirará do sono eterno, ou do alto da torre, ou do fundo do mar.

Deveríamos ser retirados da indolência, desse marasmo brasileiro de dar ao outro a responsabilidade que é só nossa. Não choverei no molhado dizendo que gostamos só de samba, carnaval e futebol. Isso é piegas e mentiroso. Mesmo porque, eu também gosto de samba, carnaval e futebol, e passo longe de ser insolente, e muito menos indolente, como nosso técnico. Esses prazeres são míseros deleites que nos são proporcionados diante de muita luta, trabalho, suor e procedimento. E ai de nós que não se cumpra uma regra; o guarda prende, o poder público multa e a igreja excomunga. Por isso, não, não é essa conotação que nos deixa apáticos, o povo brasileiro sabe ir atrás. Só precisa saber do quê.

Apesar de acreditar nessa garra existente abaixo dos trópicos, nesta extensão territorial magnânima que quase fala outra língua de um extremo ao outro, não consigo entender no absurdo de vibrar com um gol da Argentina, como se fosse um brasileiro.

A minha pergunta é, para quê? Por que se torce desse jeito por uma outra nação, como se fosse o nosso país disputando? Existe um motivo filantrópico de torcer para os hermanos? Ou seria um desejo cruel de castigar quem não gostamos?

Ah! Dentre os piores, o melhor… é possível isso? Não sei. Sinceramente, me espanto em ver tal garra na população, que não importa a classe, está torcendo por algo que não nos pertence.

O Pedrinho não se identificou com os jogadores, nem mesmo com o símbolo da CBF, mas sim, com as cores da bandeira e o clima de festa que proporcionamos. A torcida junta, aguerrida, querendo um mesmo objetivo.

Mas e agora? E essa festa que estão fazendo por um atleta de outra nacionalidade, que passou maior parte da vida em outro continente, e que, para nós, na verdade, nada trouxe, a não ser as suas jogadas, que são muito bonitas. Ué, mas a do francês de vinte e poucos anos também não são? Não entendo o motivo de vibração. E o Pedrinho, será que entende?

Tento acreditar que, então, estão querendo dar a chance para a América do Sul. Já que não fomos nós, que seja um sul americano. Serio mesmo? Nosso sentimento continental está tão forte assim? Jamais pensei. Teríamos então, que ajudar a população do Peru, ou dos demais países que não tem pasta de dente e nem papel higiênico. Agora, gritar a ponto de todos levantarem os braços após o apito final de um jogo bom, mas de seleções que nada significam para nós brasileiros, me parece meio fora de contexto, de contorno, ou até mesmo, de verdade. Será que queríamos que o Messi fosse nosso? Ou que o nosso fosse igual ao Messi?

Seria isso? Quando perderam da Arábia Saudita, nos condoemos ou vibramos em plena 8 horas da manhã de um dia qualquer de semana?

Essa falsa alegria há de ser estudada! Ou na verdade, será que sou eu que preciso me estudar para entender a falta de conexão com essa entusiasmo inexistente dentro de mim, pela identificação clara de que a minha seleção não estava lá, e que o meu povo, talvez pelo sofrimento, pela desorganização, pela falta de referência, está sofrido, cego, alguns vendidos, outros perdidos, mas com toda certeza, vejo um país dividido.

E o Pedrinho, ele vai entender? Não era para torcer pelo verde amarelo? Mas e agora esse azul e branco, será que é porque faz parte da minha bandeira?, talvez ele pergunte.

Não, querido — responderemos — é que preferimos gritar por um em comemoração à derrota do outro. E assim você não chora, vibra.

—Mas o que isso tem a ver com a gente? — ele vai continuar em dúvida.

—Nada, mas a nossa seleção também, não, então…

Autora:

Evelyn Roberta Gasparetto, escritora e advogada
@evelyngasparetto – instagram
https://www.facebook.com/gasparettoevelyn/

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