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sexta-feira, 26 de abril de 2024

E se a gente casar?

Não sei você, querido leitor, mas, sou uma emocionada, que logo pensa no casamento quando está apaixonada, automaticamente, idealizo o felizes para sempre. Não é qualquer um que consegue despertar esse desejo, mas antes do primeiro beijo, alguns já me deixam a imaginar – e se a gente casar?

As expectativas foram lançadas, minha fantasia completamente embaralhada, entre o início e o fim, já que sabemos que nada dura para sempre. Não sei você, querido leitor, mas ao pensar no casamento também já penso no fim. E se ele me trair? se apaixonar por outra? e se um dia, a paixão acabar? se um dia, nada disso for suficiente para mim?  

Sofro antes mesmo de tudo isso acontecer, algumas vezes desisto antes mesmo de começar, só para não lidar com coração partido que é abandonar ou ser abandonada por um amor não correspondido. Pensar na rejeição já é algo familiar, dentro de mim, digo isso, pois sabemos a inferência dos nossos pais, em nossas relações atuais.

Por isso, querido leitor, invisto em terapia, para desembaralhar essas fantasias e para entender, que nem todo mundo vai ser igual ao meu pai. O medo da traição, o trauma de ser traída novamente, mesmo que de fato, ele não me traiu, foi a minha mãe que sentiu a dor de carregar uma traição por anos e juro que a aceitação dela, gerou uma revolta – nunca irei aceitar ser traída pelo meu par.

Até você trair e perceber que é mais parecida do que imagina com seu pai, sim, somos capazes de trair, mesmo que isso não seja mais sobre o nosso par, e sim sobre o nosso desejo de querer sentir novamente a pulsão que se chama paixão. A traição não é sobre falta de amor, mas sim sobre a falta de desejo, de vida, de querer ser pego – só por adrenalina.

O medo da rejeição, de não ser amada é, de fato, o lugar que muitas vezes gozamos, aqui uma pitada de Lacan, não me leve a mal, mas permaneci por muito tempo, onde a rejeição se encontrava, só para sentir esse sentimento que é ser ignorada. Familiar, diria, pois ignorada fui, desde de sempre, por aquele que talvez, nem se quer me desejava – é meu pai, foi um grande idiota na minha vida.

Todas as tentativas de ser vista, de ser amada, de ser a menina do papai – foram em vão, foram diretamente para a rejeição. Logo, percebo uma repetição, um sinthoma, um gozo e um sofrimento que me gera uma pulsão. Mas, claro, tudo isso foi superado, mas não significa que não esteja marcado em meu corpo cheio de cicatrizes.
Antes mesmo de me envolver, já imagino tudo o que pode acontecer, mas quando estou nos braços do amado, esqueço tudo isso, e apenas me entrego ao inesperado. Bobagens seria não viver um amor por medo ou se acostumar com a falta dele, só para, quem sabe, não ser rejeitada ou abandonada.

Bobo, diria, mas prefiro continuar a criar expectativas – de me casar com aquele bom rapaz que me leva a loucura, que me toca nas profundezas do meu corpo nu e que invade minha alma poética. E me decepcionar, mas pelo menos terei histórias para contar. É disso que a vida se faz, de histórias inventadas ou reais.

Querido leitor, sigo apaixonada, querendo me casar. Mas, a expectativa é que talvez isso possa passar, mas ele, o amado, me faz suspirar ao imaginar que terei a família perfeita para chamar de lar. Quem sabe a vida real seja diferente do meu fantasiar, quem sabe a vida supere as expectativas, e talvez, não precise mais trair ou ser traída, pois o amor livre pode reinar dentro de uma casamento que não tem medo de fracassar.

Autora:

Samanta Botelho Kons 

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