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sábado, 27 de abril de 2024

A vida real de uma pseudo-psicologa

Olá, possuo 25 anos e gostaria primeiramente de me apresentar para vocês verdadeiramente.

Eu sou pobre, pobre mesmo. De dinheiro. Mas sou muito rica de esforço e dedicação! Além de ter uma família extremamente bondosa e de coração gigante, que sempre me incentivou a estudar.

Estudei durante toda minha vida em rede pública. Em 2014 me formei no ensino médio, na ETEC Dra. Ruth Cardoso. Os aprendizados obtidos nesta instituição foram fundamentais para ingressar na faculdade em 2015 com 100% de bolsa através do ProUni. Obrigada a cada professor que pegou no meu pé! Aliás, obrigada à cada educador que passou pela minha vida e me ensinou algo – eu sei que vocês existem.

Obrigada aos educadores do CAMPSV, que me ensinaram sobre valores e sabedoria na área de trabalho! Sem vocês, eu teria sido um verdadeiro peixe fora d’água.

Em 2015, iniciei os estudos na área de Psicologia na Universidade Católica de Santos. Aqui foi um portal para um novo mundo. No começo, eu pensei que iria desistir, não me sentia pertencente. Pouco a pouco, algumas professoras queridas me deram exemplos de representatividade e eu senti fazer parte de algo pela primeira vez na vida.

Em outubro de 2017, perdi meu namorado num acidente de moto e isso me levou a um nível de adoecimento profundo, que eu jamais ousei admitir.

Passei por inúmeras dificuldades, inclusive cheguei a fazer uso abusivo de drogas, na tentativa de anular a minha dor. Entretanto, nunca abandonei os estudos.

Em 2018, já quase descrente da vida, me inscrevi num projeto iniciado pelo Banco Santander, que me daria a possibilidade de realizar intercâmbio em algum país iberoamericano. Descrente, fui realizar a prova, embora tenha estudado um pouco de espanhol no Google, jamais pensei que conseguiria ir para outro país.

Encontrei uma amiga na porta da faculdade que me disse: “Ah meu deus, eu não acredito que você vai fazer a prova também! Espero que a gente consiga!”. Eu ganhei a bolsa e ela não. E nós duas fizemos intercâmbio no início de 2019. Ela foi para Portugal e eu para o México. Obrigada, amiga, por sempre ver esperança em mim.

Para mim, o intercâmbio fora um presente divino, pois pude vivenciar inúmeras formas de felicidade, conheci diferentes culturas, aprendi a falar espanhol (até que rápido) e fiz muitos amigos, de todas as nacionalidades possíveis.

Mas eu estava no meu momento, e quis vivência-lo sozinha, por mais que meus amigos, principalmente os brasileiros me disponibilizassem ajuda de bom grado.

Às vezes, a gente só quer um buraco para se enfiar… O meu foi no México, onde eu pude resgatar o meu coração!

Quando regressei, tive uma espécie de depressão, chorava absolutamente todos os dias. Literalmente dormia e acordava com uma pocinha de água nos olhos. Minha amiga tinha me falado sobre isso, e a Universidad La Salle também alertou sobre o que poderia ocorrer quando retornássemos ao nosso país. Mas eu não queria acreditar que estava deprimida.

Oxi! Brasileira recém chegada de outro país com depressão? Bora trabalhar!!!

Voltei a trabalhar no shopping como lojista, ai ai… Chorava todos os dias. Trabalhava igual uma camela enquanto tentava terminar a faculdade e escrever meu projeto de TCC.

No início de 2020, decidi ir morar sozinha. Em janeiro eu saí da casa da minha mãe, já adoecida. Optei por morar em uma região periférica de Santos, obviamente pelo baixo custo. Em fevereiro eu me demiti pois iria iniciar o trabalho em uma franquia de outro shopping (como prestadora de serviços, ou melhor, anônima, pois nunca tive um contrato formal). Em março eu terminei um relacionamento abusivo, duas semanas depois começou a pandemia.

Quer ficar sozinha? Então fica. Sozinha e sem dinheiro, aprende a se virar. E, novamente, eu aprendi…

Obrigada, meu vizinho e professor, por ter sido gentil comigo desde nosso primeiro contato, e por me emprestar a senha do Wi-Fi sem eu pedir. Você me salvou porque me permitiu seguir estudando durante o isolamento social. Graças a você, eu comecei a fazer as benditas aulas de yoga toda manhã. O que seria da gente semInternet, não é mesmo?

No início da pandemia, fiz uma compra para minha casa e uma para a casa do meu pai. Na época ele estava desempregado e meu irmão também, foi minha amiga que me transferiu R$700 para pagar as contas de luz, que estavam atrasadas há alguns meses – ela praticamente me obrigou, no sentido literal, a passar meus dados bancários, e disse que jamais aceitaria devolução. Um pouco depois, eu inteirei com o dinheiro do auxílio emergencial e paguei. Imagina ficar sem luz e sem comida na pandemia… A gente sabe como é.

Desenvolvi transtorno de ansiedade no meio do processo e tinha crises todos os dias. Até que conheci um anjo. Ele me ajudou e me acalmou muito num período caótico da minha vida, me aconselhava, enfim, me salvava todos os dias. A tela do meu computador pifou; ele me emprestou o dele. Me faltava dinheiro para tudo, ele tirava do próprio bolso para me ajudar, como se não lhe fosse muito – e eu, como estudante de psicologia na época, sempre sabia que era.

Enfim. Seguimos. Apoiando-nos um no outro. Voltou a pandemia. Saí do emprego no shopping que me adoecia para em 2021 entrar em outro que me adoeceu mais ainda, só que agora com registro em carteira.

Eu chorava de ódio todos os dias e de tristeza todas as noites. No shopping eu era a engomadinha de jaleco branco que realizava um excelente atendimento.

Mas o bom atendimento não pagava as minhas contas, nem as goteiras da casa de meu pai…

Seguia doente e trabalhando em uma escala 6×1. Quando trabalhava no domingo, ficava duas semanas sem folgar. Sem vida.

Fiquei o que? Doente da cabeça! Um dia cheguei a chorar no meio de uma reunião com minha chefe. Eu estava concorrendo ao cargo de gerente e desagüei na frente dela. Ela sabia que eu não queria estar ali, meu sonho era ser psicóloga.

O meu anjo me apoiou a pedir as contas e, em agosto de 2021, nós fomos morar juntos. Era para eu ficar fazendo sobrancelha em casa. Mas eu estava com medo de virar dona de casa.

Acabou calhando de aparecer uma oportunidade de estágio em Setembro, caracas! Fiquei felizona. Ele também, mas nem tanto… Porque meu trabalho só aumentou, agora na rua e dentro de casa. Ele é que virou dono de casa! E trabalhando numa multinacional home office! Lavava, passava, cozinhava, faxinava.

Tudo impecável pros outros. Pra gente, só o descanso na hora de dormir.

Mas tudo bem! Em Dezembro nós demos de presente de Natal os pisos para a casa da minha avó, era só o que faltava depois que ela juntou seu dinheirinho por anos para reformar sua casinha, e minha mãe e meu padrasto ajudaram na reforma para que não entrasse mais água de enchente em seu tão querido lar.

No Natal o meu anjo que teve uma crise de ansiedade, acho que de tristeza, por estar longe da família. Aí fui eu que cuidei dele, e no final da tarde nós conseguimos sair de casa para almoçar na minha mãe. À noite eles adotaram sua primeira cachorrinha, veio o vizinho entregar na porta e meu padrasto a apelidou de Amora. Amor, né. O nome colou.

Aos trancos e barrancos, me formei Psicóloga em dezembro de 2021.

Seguimos adiante, cada vez com mais trabalho, e menos saúde mental. Apesar de os dois fazerem terapia. Cada vez mais demandas e a mesma remuneração.

Ué, eu pensei que seria estagiária, quando percebi me vi já psicóloga. Mas tudo bem, gratidão. Aprendi mais de 30 testes psicológicos e psicossociais. Fiquei craque em inteligência, memória, raciocínio espacial, raciocínio lógico, diferentes tipos de personalidade… Gente, quanto número! E eu que pensei ter nascido pra ser do povão, da favela.

Cada vez mais trabalho e menos felicidade. Falei pro meu anjo: vou fazer um novo curso de sobrancelhas, pois a Psicologia já não me faz feliz, eu gosto de cuidar das pessoas de verdade.

Ele não só me apoiou, como pagou (ou está pagando) o curso pra mim. Ele sempre me convenceu na base do “vai, faz, se nada der certo, eu te ajudo”, e adivinhem? Para mim, nada nunca deu certo. Acho que é porque no meio desse processo de ser feliz e querer ajudar os outros, eu esqueci de limpar meu nome na praça. Com CPF e CNPJ queimados a gente vai pra onde?

Eu pensei que iria longe, tadinha de mim. Mas tá bão, valeu o aprendizado. Devia fazer como minha irmã, que trabalha numa padaria artesanal, estuda pedagogia na Unisanta, e faz doce para “desestressar”, ou seja, para pagar a mensalidade da facul.

Comuniquei à minha chefe que só permaneceria na empresa até julho, e no dia 14 de março de 2022 eu mesma elaborei um contrato de trabalho.

Inteligente pacas, vai vendo. Mas ela não teve tempo de assinar… Ela nunca tinha tempo. Em janeiro eu tinha conversado sobre a possibilidade dela me registrar e ela me respondeu em março que a contabilidade só enrolava ela.

E os clientes da empresa dela me enrolavam. As minhas clientes me chamando no celular. Minha família toda doente precisando de um psicólogo e de um bom médico. Mas a gente só vive enrolado trabalhando pros outros, sabe?

E olha que meu avô paterno, tem uma loja que é dele. Deem uma passadinha lá. Ou não, ele já trabalha muito, coitado, está precisando se aposentar.

Desculpe, minha família é grande e eu falo muito. É que são muitas histórias para contar.

O fato é que: a mulher mais feminista e empoderada da família, a luz no fim do túnel, teve um surto psicótico no dia primeiro dia de abril. Não se sabe a causa certa, o médico do Caps diz que foi devido a uma sucessão de abusos. Eu acredito nele, viu?

Minha tia e minha prima disseram para eu me cuidar. Minha avó Vera mandou eu ir para a Igreja, meu avô João permaneceu calado, assim como se manteve durante toda sua vida.

Cada amigo meu pegou sua bike e foi embora. Até meu mais leal companheiro, meu anjo, precisou se afastar de mim. O meu surto foi grande!

Agora que eu estou me tratando, eu resolvi aceitar ajuda. Pela primeira vez na vida eu tô aceitando ajuda de todos!

Meu intuito é:

Confesso que primeiramente ficar bem.

Em segundo lugar, publicar um livro a partir do TCC que eu já escrevi. O tema se relaciona à Arte como forma subjetiva de encontrar/construir sentido na vida. Afinal, diante de todo sofrimento, somente fazendo arte a gente se salva! Tem que brincar, pois a vida não está sendo fácil.

Em terceiro lugar, entregar um pequeno grande livro chamado: “O Pequeno Príncipe” na mão de cada criança (adulto também, se ainda estiverem dispostos a ler).

Em quarto lugar, entregar uma cesta ESSENCIAL (porque a básica já não tem sido suficiente) na mão de cada família brasileira, mensalmente.

E, por último, meu maior objetivo é mudar o mundo.

E aí, será que cê me ajuda?

Não custa nada sonhar, né? Eu sonho muito alto, mas ainda tenho medo de sair de casa.

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