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segunda-feira, 29 de abril de 2024

Companheiros fieis

Minhas crônicas de quinta.

Foi ontem mesmo, lá pela hora do café da tarde, que eu resolvi esticar minhas costas e descansar um pouco as vistas que há 3 horas não saiam da tela do computador. Levantei-me da cadeira e arrastei-a para trás. Imediatamente, a Minnie (uma cachorrinha sapeca, que gosta muito de morder) veio ao meu encontro com uma bolinha na boca, balançando incessantemente o rabo.

Peguei-a no colo e roubei-lhe o brinquedo. Quando devolvi a cachorra ao chão, arremessei o objeto e dei-lhe o comando:

– Vai buscar a bolinha, vai!!

Prontamente, ela foi. Até se esqueceu da chuva e saiu correndo sobre as poças para alcançar a bolinha como se fosse a tarefa mais urgente do mundo. Mais rápido ainda, ela correu de volta me trazendo nos dentes o seu brinquedinho favorito.

E assim a gente ficou: tacando bolinha por uns quinze minutos, até a cachorra cansar, beber água e deitar na varanda, olhando pro portão.

Do assento de outra cadeira da mesa que eu estava, Tom – o gato – observava. Sua atenção dividia-se entre acompanhar a correria com algum espanto no olhar e lamber as patas dianteiras em movimentos rápidos, contínuos e delicados. Depois do banho – enquanto eu e a Minnie ainda brincávamos – o gato virou o pescoço para cima, ajeitou-se da maneira mais confortável que conseguiu e caiu no sono profundo. E assim ele ficou por horas, alternando, de vez em quando, entre as dezenas de posições possíveis.

Nesse meio tempo, voltei para a mesa onde estava antes, e abri o notebook novamente.

Não sei quanto tempo depois, já não chovia, e lá estava eu concentrada em minha tarefa, quando os latidos incessantes da Minnie desviaram-me a atenção. Era a gata da vizinha, caminhando – ou melhor, desfilando – sobre o muro de casa com uma lagartixa na boca, enquanto encarava, soberba, a reação canídea.

Essa gata, preta, gorda e de rabo torto – chamada Minduína – embora, oficialmente cria da vizinha, vive meio lá, meio cá. Come e dorme onde bem lhe convir. Sente-se à vontade nas duas casas. E, por sinal, ela é mãe do Tom.

Pulou do muro, deu uns tapas na cabeça da cachorra – que não parava de latir – e veio ao meu encontro, por cima da mesa, trazendo-me o presentinho. A minha reação imediata foi a de pegar aquele bicho e jogar no jardim, dentro de um buraco pré-cavado pela Minnie. Há quem goste, mas, particularmente, répteis não me agradam muito… ainda mais se estiverem mortos. De todo modo, retribui a gentileza com um longo afago nos pelos fartos e macios daquela felina ronronante e carinhosa, que cheirava à manjericão.

Depois disso, a gata pulou no chão, esticou as patas da frente, e em seguida, as de trás. O seu filho acordou e miou, sonífero e manhoso. Pulou da cadeira e esticou-se do mesmo jeito que a mãe. Os dois começam a lamber a cabeça um do outro, como quem diz: “eu te amo”. Isso, pouco antes de se agarrarem em pequena briga, como quem diz: “me deixa em paz”.

Naquele momento, ouvi o barulho do portão. Era minha mãe chegando do trabalho. A cachorra saiu correndo – provavelmente do jardim – e pulou, eufórica, com suas patas sujas na dona que desde cedo não via!

– Ah, meu Deus, o que é isso??! – disse minha mãe, desviando o quanto podia dos pulos carimbantes do pequeno animal.

– Ah Minnie, uma lagartixa! Onde cê achou isso?! – ela completou, quando percebeu do que se tratava aquele pedaço de bicho na boca da calorosa companheira.

O que aconteceu depois? Você já sabe: beijos, abraços, lambeção e conversinhas com voz de bebê. Porque é isso que esses seres incríveis são: eternos bebezinhos.

Luana Carvalho
Luana Carvalho
Arquiteta, cria da Unesp - Presidente Prudente. Brasileira, com 27 anos de sonho e de sangue, e de América do Sul. Escrevo porque não sei guardar segredo.

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