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quarta-feira, 17 de abril de 2024

Eustáquio, o Homem Rabugento

Minhas crônicas de quinta (que dessa vez saiu na sexta).

No episódio de hoje… Eustáquio, o rabugento!

Enfadiço, queixumeiro, ranheta, lamurioso, resmungão, pechoso, ranzinza. Quem não se lembra do vovozinho reclamão de “Coragem, o Cão Covarde”? Seu mood era sempre o mesmo:

– Cachorro idiota!!!

A melhor habilidade do Eustáquio é reclamar. Ele é minucioso em encontrar defeitos… Pro Eustáquio o copo sempre está meio vazio (mesmo que esteja transbordando!), ele quer encher o recipiente até a boca mas quando a água escorre pra fora, se desespera. Ninguém entende direito o que o homem quer… nem ele mesmo!

O velho tem um vocabulário próprio. Costuma trocar o “Bom dia! Aiii, que frio!!” por coisas como “Que caramba! Esse frio não vai passar não?!”. Seu estado de humor é um só: bravo. Mas é um bravo que deixa de ser bravo porque é sempre bravo. Aleatoriamente bravo, de uma braveza leviana e viciada. A braveza real é funcional: aparece na hora certa e pelos motivos certos… A do Eustáquio é disfuncional e crônica, por isso deixa de cumprir seus objetivos (se é que ela tem algum).

De uma coisa ninguém pode discordar: o Eustáquio é criativo! Criador de casos, enxerga problema onde não tem e constantemente fala sozinho ao pensar alto suas invenções. O cara é uma figura! Uma piada (de mal gosto…). Conviver com o Eustáquio é um desafio, prova diária de resistência social. Se você olhar bem – e com os olhos de Buda – consegue enxergar nisso tudo uma forte oportunidade para aperfeiçoar a sua capacidade em aplicar o “dane-se!”, ignorar o irrelevante e se ocupar menos com problemas alheios…

“Coragem, o Cão Covarde” não praticou o treinamento e até hoje acredita que é mesmo um cachorro idiota… afinal, ele é um cachorro típico que ama o seu dono mais que tudo…! Não soube separar as coisas e acabou desenvolvendo Síndrome de Estocolmo.

A rabugice tende a surgir de forma espontânea nos indivíduos assim que recebem a primeira de todas as parcelas da aposentadoria e, no geral, perdura até o fim da vida, quando os sintomas atingem o ápice da manifestação. O problema não são as pessoas ao redor e nem as coisas como elas acontecem… é que Eustáquio está cronicamente zangado e, por isso, comumente se entrega à bebida e às apostas e diz que tudo vai ficar bom quando ganhar na Mega-Sena. Pelo menos ele ainda tem desejos e objetivos… Se ganhar na Mega lhe trará prazer da vida de volta eu não sei… só sei que, se depender disso, 99% dos Eustáquios estão fadados a morrer de desgosto.

Luana Carvalho
Luana Carvalho
Arquiteta, cria da Unesp - Presidente Prudente. Brasileira, com 27 anos de sonho e de sangue, e de América do Sul. Escrevo porque não sei guardar segredo.

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