Faz um ano que estive trabalhando pela última vez. Sinto falta? Não. Saudade? Sim. Saudade dos ótimos momentos que minha profissão me trazia. Fiz parte de uma pequena fração de 7% dos profissionais, que se sente plenamente realizado na atividade, e levando-se em conta que passamos um bom tempo da vida nesse local, posso dizer que me sinto gratificado.
Faz um ano, que eu esperava iniciar uma rotina diferente, com a aposentadoria, mas que virou 180 graus, junto com o planeta, com a pandemia. Dou graças por ter a comodidade e tranquilidade na minha vida, ao contrário de milhões de brasileiros e bilhões de humanos na terra. Mas planejava poder fazer algo que, na maioria das vezes, não tinha na minha rotina de trabalho, principalmente no lado social.
Faz um ano que estou trancado em casa, aterrorizado por uma pandemia e pela falta de controle desta no meu país, que agora atinge um descontrole. Um ano de uma prisão domiciliar. Não faço crítica a existência da necessidade desta no combate à pandemia, se não a extensão desse momento pela falta de ação e articulação nas tratativas do momento sanitário.
Faz um ano que busco atividades que me preencham o dia, e não só vivenciar um noticiário triste e doloroso. Diante de tanto caos, busco ter forças e um pouco de humor. Também tenho tentado criar aceitação para a possibilidade real, no sentido que ela pode ocorrer em alguns dias, pois é certa que vai acontecer, da morte. Já houve a morte de quase 400 mil brasileiros e alguns milhões já estiveram internados nos hospitais.
Faz um ano que vejo um verdadeiro exército da salvação nacional, representado principalmente, mas não exclusivamente, por profissionais da saúde, tentar combater, infrutiferamente, uma pandemia, na qual o outro lado, o vírus, recebe suprimento através de inações, ou ações a favor dele, de quem deveria estar à frente, liderando o combate a este.
Daqui um ano, serão dois anos, e como cada um de nós estará? Há um ano, vi e ouvi previsões de um “novo normal”, que teoricamente chegaria em breve, e ainda não chegou. Pelo contrário, há um aprofundamento do “novo normal”, cujo maior símbolo é a normalidade da aceitação de 2.500 mortos diários. Pare por alguns segundos e imagine 2.500 corpos na sua frente. Estamos completamente num estado anormal, e espero que essa anomalia jamais tenha espaço, para a aceitação de um “novo normal” tão trágico para a humanidade. Pode ser utopia, mas sem utopia não há sonho realizado. Que seja afastado o clichê “novo normal”, pois tudo está muito anormal para assim ser assim admitido.
13/03/2021
Francisco Martins Neto
Faz um ano, mas parece que já faz uma eternidade! Parabéns pelo texto!!
Obrigado Laura. Não será eterno, e roguemos que não dure.
Excelente texto, parabéns..
Obrigado Júlia.