por Cristiano Souza, em 03 de Fevereiro de 2021
Estamos em 2021, em meio a uma série de desafios para todas as empresas e profissionais, e com perspectiva de ainda mais desafios, ao menos de imediato. E, como todo desafio traz em si uma oportunidade, estamos vendo um conjunto de avanços tecnológicos incríveis, em diversas áreas.
Estamos vendo, em um prazo curtíssimo, vacinas construídas em tempo recorde, um crescimento exponencial no volume de e-commerce, aplicativos mobile para quase tudo o que se pensar, e empresas, antes conservadoras, adotando o trabalho remoto como regra devido à restrições sanitárias – tendo, como subproduto, redução de custos e aumentos significativos na produtividade.
Neste contexto, muitas empresas estão investindo cada dia mais em desenvolvimento de software, seja para uso interno, seja como parte – ou totalidade – de seus produtos. E a pressão de mercado por eficiência e velocidade de resposta, em geral, acaba agindo como um impulso para a adoção da Metodologia Ágil.
O Manifesto Ágil
A Metodologia Ágil surgiu em 2001, há 20 anos, de um entendimento comum de que seria possível lidar com projetos de software de forma mais eficiente, devidamente documentado e publicado no Manifesto Ágil.
Desde então, a metodologia tem sido adotada por muitas equipes ligadas ao desenvolvimento de software, e até mesmo adaptada e utilizada em diversas outras áreas. Praticamente toda empresa que produz software, de uma forma ou de outra, aplica tal metodologia. E certamente, nos tempos em que vivemos, ser ágil é essencial para sobreviver e crescer no mercado.
O próprio conceito de agilidade, conforme proposto na Metodologia Ágil, diz respeito ao mindset da equipe e da empresa, não a processos e ferramentas. Aliás, o primeiro Princípio do Manifesto é justamente “Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas” – o que é, por si só, um alerta para que se evite confundir agilidade com a adoção de determinadas ferramentas, como o Scrum, ou processos, como uma daily meeting.
Infelizmente, nem sempre há este momento de reflexão, e a cada dia surgem mais distorções da metodologia, que têm potencial para tornar a vida dos membros da equipe bem mais difícil, ao invés de facilitar seu trabalho e trazer benefícios.
O “Dark Agile”
Adotar a metodologia ágil sem, de fato, compreender seus princípios e valores, é como construir uma casa começando pelas paredes, não pela fundação. De acordo com Claire Drumond, em um artigo publicado no site da Atlassian, a tentativa de “agilizar” a equipe sem um embasamento sólido, por vezes, leva à “…situações que vão de encontro às intenções do Manifesto, como microgestão, estimulação da taxa de sobrecarga, falta de entrega e a priorização de processos em relação a princípios”.
O resultado potencial é o oposto do que se espera: aumento dos prazos e custos, desgaste da equipe e qualidade inferior no produto entregue, além de uma péssima experiência por parte dos clientes, tanto internos quanto externos. E, por falta de uma compreensão das reais causas, culpa-se a metodologia por isso.
Como evitar?
A metodologia ágil é um conceito, uma cultura. E como toda mudança cultural, não existem atalhos para o sucesso: é preciso muito trabalho, no tempo correto e com compreensão e adoção ampla por parte de todos os envolvidos.
Não é possível, por exemplo, uma equipe de desenvolvimento ágil conduzir um projeto sem envolvimento do cliente. A colaboração com os clientes é um dos princípios do Manifesto, e é essencial para prover um dos maiores benefícios de projetos ágeis: a capacidade de manobrar o projeto, identificando e corrigindo problemas cedo, ou adaptando-se a mudanças de escopo. Ainda assim, o cliente às vezes alega “não ter disponibilidade” para participar de reuniões de sprint ou priorização – o que significa, de fato, que ainda é preciso melhorar a compreensão de conceitos fundamentais de projetos ágeis.
Um dos conceitos principais para se compreender o quanto antes é: ser ágil não é fazer correndo, nem necessariamente fazer mais rápido. Ser ágil é começar a entregar cedo, em iterações curtas, e trabalhar em parceria contínua com quem vai, de fato, utilizar o software em desenvolvimento. Em alguns casos, significa levar o mesmo tempo ou mais para concluir totalmente um projeto.
Em resumo, a metodologia ágil tem sido adotada em larga escala, mas tal adoção precisa passar por uma compreensão profunda, tanto dos conceitos ágeis quanto das limitações e capacidades da equipe e da empresa. Cortar caminhos ao se adotar a Metodologia Ágil pode não só inviabilizar os ganhos, como até mesmo trazer prejuízos diversos. Entretanto, quando devidamente fundamentada e implantada de forma adequada, pode trazer uma verdadeira transformação da empresa, com aumento significativo na eficiência e na lucratividade da empresa, bem como um melhor ambiente de trabalho e uma equipe cada vez mais capaz.
Muito bom o artigo, Parabens!