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domingo, 21 de abril de 2024

Mosquito urbano…

Passávamos alguns dias num sítio perto da capital. Área rara. Com muito verde, montanhas e lagos. A casa que ficamos fora construída bem no alto de uma montanha. Em sua volta, outras moradias e plantações de maçãs. Estradas bem conservadas. Árvores e postes pintados de branco nas suas bases. Água potável e corrente por todos os lados. Tudo perfeito. Vista esplendorosa. Várias maneiras de se divertir; piscina, cavalos, caminhadas na mata virgem. E, foi esse passeio que escolhemos: o caseiro, também guia, prometia adrenalina de um Safari. Antes de sair, um aviso dele; quero todos de botas, calça e camisa de manga comprida, inclusive vocês duas; Zélia e Tati. Éramos um grupo de cinco pessoas, contando com o Sr. José, muito brincalhão por sinal… Todos, caipiras da cidade afirmou em tom de brincadeira. Ele ia à frente, equipado com botas, chapéu, facão e canivete na cintura. Iniciamos por uma trilha já aberta, e conforme íamos caminhando mata adentro a trilha ia estreitando; chegando à fila indiana, passando uma pessoa por vez, e o guia abria o caminho usando o facão. Tudo era excitante. Grunhidos de pássaros e a inconfundível sinfonia das Arapongas, vindo de direções diferentes. Ruídos… De repente todos gritaram:

– Menos o Senhor José que rapidamente nos acalmou; é um inofensivo tatu gente, podem ficar calmos– e o bicho escafedeu-se entre a vegetação. Claro que nossos corações dispararam. Zélia, a mais atirada, deu risada e botou fogo no momento; quero ver quando passar uma onça. Em coro a repreendemos… Fecha essa boca! Havia passado quase uma hora. Outro grito! Todos ficaram em alerta! Será à onça! Não, apenas uma pequena cobra que assustara Tati. Sr. José imediatamente deu um jeito na situação. Não pense que ele matou a cobra. Com carinho, e demonstrando respeito à natureza e aos animais, ele pegou o facão, cortou um galho e com ele cutucou a cobra, que tocada se enroscou no galho. Então ele atirou para bem longe o galho com o bicho enrolado…

Passado o susto, continuamos a caminhada. O sol transpassava as árvores e, mostrava-se em flashes. Todos estavam felizes, porém tensos. Ninguém tinha esquecido a brincadeira da Zélia, que levantou a hipótese de depararmos com uma onça. E havia razão, fora da trilha a mata era assustadora. Não resisti; perguntei ao guia; têm onça nesta região? Ele respondeu; onça grande não, mas onça pequena tem. Todos fizeram cara de medo. Mas ele acrescentou. Essa espécie de onça, chamada de Jaguatirica, não passa de um grande gato e só ataca se for acuada. Mas são muito difíceis de se ver, além do que são animais de hábitos noturnos. Foi neste instante, que Tati, com ar de assustada chamou nossa atenção. Olhem! Todos se viraram. Sr. José pediu silêncio absoluto. Fomos todos de mansinho, perto de uma árvore que crescera inclinada no topo de um barranco. Encostados no seu tronco via-se um riacho que formava uma pequena cachoeira. Lá embaixo um casal de Quatis bebia água. Junto deles alguns filhotes. Todos se voltaram para o Sr. José, que disse em tom de brincadeira: quem sabe na sequência veremos umas “oncinhas”. Onças pintadas, mas menores, como eu disse! Para com isso! Alguém exclamou! Nem brinca seu José! Todos riram, e voltaram a apreciar os pequenos animais bebendo água. Ficamos algum tempo apreciando aquele momento, até que os bichos foram embora. Descemos até a pequena cachoeira. Bebemos água. E aí Sr. José perguntou, estão cansados? Já estávamos há quase três horas naquele safari. E os mosquitos o tempo todo picando-nos e incomodando. O sim foi maioria. Chega de selva, alguém exclamou! Então seguimos o leito do riacho no caminho de volta. O guia explicou que ele era produto de uma nascente logo acima. E que este pequeno riacho na sua trajetória, formava os três grandes lagos do sítio. E ia desaguar num rio maior a quilômetros de distância. Nas suas margens, entre a vegetação, muitas flores coloridas, com predominância de bico-de-papagaio, com suas flores vermelhas.

No lago; brincamos nos barcos e pedalinhos. Voltamos para a grande casa. Antes, depositamos a sobra dos lanches, e as garrafas de água vazias que trazíamos em nossas mochilas, nos latões coloridos, um para cada tipo de lixo; orgânicos, papel, plástico etc. Numa pequena estação de reciclagem estrategicamente colocada perto da casa maior. Que lição de limpeza e preservação! Placas espalhadas por toda a propriedade com os dizeres: Lixo no lixo, por favor. Depois agradecemos, arrumamos as mochilas e partimos de volta para a capital. Cada um foi para sua casa. Lar doce lar. No dia seguinte todos iriam trabalhar e a noite aulas na faculdade.

A semana passou. Marcamos um encontro no sábado no shopping. A ideia era conversar e comemorar nossa aventura da semana passada no sítio.

Chegamos primeiro; Zélia e eu. Joel logo depois. Sozinho. Perguntei?! Cadê a Tati. Ele respondeu: Vocês não sabiam? Está hospitalizada, desde quinta-feira. Ela está com Dengue. Fiquei perplexo. Como pode. Na semana passada enfrentamos tantos perigos; os mosquitos na mata, cobras, e muito mais, e nada aconteceu. Agora, aqui na cidade; onde há Limpeza, há Higiene, há Saneamento, há Tecnologia, e todo o conforto, deveríamos estar protegidos. E aí, somos surpreendidos e derrotados por um mosquitinho… Que ironia é essa – Vamos visitá-la. Coitada nem teve tempo de comemorar nossa aventura… Francamente… Todos tinham certeza de que não fora as picadas dos mosquitos caipiras a causa. E sim pelas picadas dos mosquitos urbanos. Aliás, o sítio servia de modelo de administração de recursos naturais. Tudo funcionava bem; Água. Luz, Saneamento etc. Tudo muito limpo e organizado em detalhes. À água do riacho, pura e transparente. Sem nenhuma poluição abastecendo toda a propriedade, sem exceção, toda infraestrutura do lugar, até os lugares mais altos. Esse minúsculo assassino da cidade é procurado dentro e fora das casas. Como explica as campanhas de prevenção da Dengue. Não sei se vocês viram nos jornais. Mais, a região que a Tati mora está em primeiro lugar, com vários casos de picadas, como dizem os noticiários. Lá parece ter um foco destes marginais, que devem ser combatidos a qualquer custo. Os jornais publicaram o nome científico deste inimigo público, que tem menos de um centímetro de comprimento – Aedes aegypt. Penso! Será que aqui na cidade, para ir dormir, ou para dar um passeio nos shoppings, teremos que lembrar o conselho do Senhor José; nosso guia lá na mata, sair de calça comprida e camisa de mangas longas…

Autor:

Jaeder Wiler

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