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segunda-feira, 6 de maio de 2024

Quedas de energia e apagões podem ser ainda mais intensos: o que podemos fazer?

As quedas de energia são um problema recorrente que atingem diferentes localidades ao redor do mundo e embora a substituição completa da rede aérea por subterrânea possa ser considerada impraticável (em algumas regiões) devido a logística e aos desafios financeiros, é primordial explorar soluções inovadoras para aprimorar a confiabilidade das redes de distribuição existentes, visto que este tipo de solução já existe em outros países como Argentina, Estados Unidos, China, França e Inglaterra. Caso contrário, poderemos enfrentar quedas constantes e o agravamento da crise energética, em nível global.

Falando especificamente de São Paulo, durante os anos 2003 a 2006, liderei pela AES Eletropaulo (hoje Enel SP) uma grande iniciativa da PMSP para converter as redes de energia das avenidas Rebouças, 9 de Julho, Cidade Jardim, Faria Lima, e das ruas Amauri e Oscar Freire. Esse projeto durou em torno de três anos, mobilizou um exército de profissionais, e transformou essas avenidas em um canteiro de obras para instalação de todas as infraestruturas (eletricidade, telefone, internet, entre outros), no asfalto e nas calçadas, gerando trânsito caótico e impactou também em cada uma das casas e comércios; sim, cada cliente teve que ter sua entrada de energia ajustada para a entrada subterrânea, e isso requer também obra civil e elétrica para ser feita. Por isso, essa conversão em grande escala é impraticável. E tudo isso sem falar no fator econômico (redes subterrâneas são de 6 a 10 vezes mais caras que as aéreas).

Essa visão prática deixa claro que apresentar a conversão de rede aérea para subterrânea como solução de curto/médio prazo é, no mínimo, uma visão inocente, se não for populista ou parcial. Essa decisão deveria ter sido tomada há mais de 100 anos atrás, quando foram instaladas as primeiras redes subterrâneas na cidade de São Paulo, que acabaram ficando limitadas a uma área basicamente central da cidade. 

Ou seja, diante disso, uma maneira eficaz de começar a reduzir as quedas de energia é investindo em melhorias nas redes aéreas já existentes. Isso pode ser alcançado por meio de um projeto de engenharia avançado, que leve em consideração opções de socorro entre circuitos, investimentos em tecnologia com chaves automáticas e simulações digitais para prever situações adversas. Estas medidas automatizadas ajudariam a transferir trechos de circuitos de uma fonte para outra, isolar trechos defeituosos e restabelecer a energia de maneira eficiente. 

Além disso, o dimensionamento de recursos, aliado ao uso de tecnologia para monitorar as cargas em tempo real nos diversos pontos do circuito, pode prevenir sobrecargas e otimizar o fluxo de energia. A utilização de simulações digitais para antecipar situações catastróficas, como vendavais e enchentes, também é uma abordagem proativa que pode ajudar a evitar interrupções prolongadas no fornecimento de energia. Dessa forma, a melhoria contínua das redes aéreas não apenas contribui para a estabilidade do fornecimento de energia, mas também promove uma gestão mais eficiente e resiliente, alinhada com as demandas de uma sociedade cada vez mais dependente da energia elétrica.

Voltando a falar da substituição por redes subterrâneas, somente uma abordagem que envolve a união de aspectos técnicos, iniciativa pública e interesse da iniciativa privada pode tornar isso viável. Além disso, a alta densidade de carga em algumas regiões pode tornar a transição para redes subterrâneas vantajosa, ressaltando os benefícios e facilitando a aplicação. Ou seja, com o envolvimento do poder público e de empresas interessadas na revitalização da infraestrutura, os custos podem ser compartilhados, tornando o investimento mais acessível. 

Compensação a longo prazo: Retorno financeiro e sustentabilidade

Em um cenário não tão distante, é viável esperar que investimentos em redes subterrâneas de energia possam se tornar compensatórios. A redução de perdas em negócios e produtos perecíveis, juntamente com o aumento da atividade comercial resultante da revitalização da região, poderia gerar um retorno financeiro satisfatório- mesmo que o custo de implantação de uma rede subterrânea possa ser de 5 a 12 vezes maior do que o de uma rede aérea, dependendo do sistema adotado.

Apesar do desafio financeiro associado às redes subterrâneas, a alternativa de adotar redes aéreas protegidas traria benefícios visuais para a cidade. Essa escolha permitiria uma maior arborização e evitaria podas radicais, contribuindo significativamente para a redução da poluição visual. Além disso, a transição gradual para redes subterrâneas poderia reduzir a necessidade de veículos de manutenção circulando pela cidade, resultando em uma diminuição adicional de emissões de CO2.

Portanto, destaco a importância de investir em inovações nas redes aéreas e de explorar de forma gradual as redes subterrâneas. Esses são passos concretos em direção a um futuro energético mais estável, sustentável e resiliente para as gerações futuras.

Conheça Juliano Gonçalves: Engenheiro eletricista e Head da Divisão de Cabos Megger Brazil possui 25 anos de experiência no mercado de energia com foco em confiabilidade de redes, melhoria de desempenho e redução de custos. Foi também responsável por converter as redes de energia das avenidas Rebouças, 9 de Julho, Cidade Jardim, Faria Lima, e das ruas Amauri e Oscar Freire, entre os anos de 2003 e 2006, liderando a iniciativa da AES Eletropaulo (hoje Enel SP) o especialista viu de perto os inúmeros desafios enfrentados pela equipe, moradores, comerciantes e transeuntes locais durante esse período. Possui sólida experiência em projetos internacionais de redesenho de processos multi-sites, com foco em otimização, automação, padronização e ganho de eficiência e nos últimos 15 anos está focado em obter resultados expressivos por meio de manutenção preventiva, inovação, digitalização, automação, melhoria de processos e desenvolvimento de pessoas conduzindo projetos ao redor do mundo.

Autor:

Juliano Gonçalves, engenheiro eletricista e Head da Divisão de Cabos da Megger no Brasil

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