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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Movimentos jihadista no Mali, Burkina Faso e Níger

Os países africanos do Sahel-Saara, sobretudo, Mali, Burkina Faso e Níger, enfrentam uma série de problemas, dos quais a estabilidade política e económica, mas eles compartilham áreas superiores, um milhão de quilômetros quadrados, salvo  Burkina Faso com uma superfície que não ultrapassa 273 mil quilômetros quadrados.

Pergunta-se sobre o tamanho do perigo e ameaças enfrentadas por Mali, Níger e Burkina Faso?

Além das causas estruturais e conflitos iminentes objeto de: (i) alterações climáticas; (ii) pressão demográfica; (iii) fraturas sociais; e (iv) défice de governação económica e social.

Somando a isso a extensão geográfica em termos de fronteiras entre as partes, o que torna o controle das fronteiras cada vez mais difícil.

O Mali dispõe de fronteiras que chegam a 7.561 km, com apenas  14 postos fronteiriços, desafios enfrentados face ao contrabando de armas, de imigrações ilegais, de crime organizado ou de movimentações dos grupos radicais e criminais.

Estes países sahel-Saara pertencem aos grupos dos países ditos menos desenvolvidos, apesar de muita riqueza mineral e subterrânea. Onde o produto nacional por cidadão não excede a 790 dólares. Representando um baixo índice de desenvolvimento humano, quase um terço da população vive  abaixo do limiar da pobreza.

Tal região sofreu ainda mais com as repercussões do Covid, afetando duramente estes países, devido às secas e inundações, face a uma taxa de crescimento de milhões de pessoas sob a extrema pobreza.

Além dos profundos desequilíbrios de governação e economia, da corrupção, e do baixo nível educacional, e também da falta de conscientização, de instituições e estatais, onde os poderes soberanos ficam delegados aos actores não governamentais, assim é difícil a separação entre os intervenientes nacionais e intervenientes estrangeiros.

Assim, a região do Sahel e Saara tornou o foco de movimentos terroristas, exemplo do colapso do regime líbio de Muammar Gaddafi, 2011, objeto das relações ambíguas entre os regimes e movimentos jihadistas, e do movimento “ISIS”, como caso da Síria e Iraque, provocando desordem dos extremistas e guerra civil.

Este Terrorismo, segundo o índice global do movimento terrorista, 2022, levou a  um aumento de dez vezes entre 2007 e 2021, dos atos criminais, tanto em Burkina Faso, Mali ou Níger, respectivamente 732, 572 e 554 mortes em 2021.

Representando 35 por cento das mortes globais, comparados com os criminais em 2007, limitado a apenas 1%.

Este desequilíbrio de insegurança exacerba as intervenções estrangeiras, sobretudo as francesas.

Projetando o legado colonial, impondo regimes econômicos e militares, sob controle de bases militares e intervenção nas operações militares, como caso da Operação Serval, Mali, 2012, ou da Operação Barkhane, 2015.

Interroga-se sobre a utilidade e essência desta intervenção francesa?

Uma das razões desta intervenção é de se deixar cair nas mãos dos jihadistas. Os quais vão atrás de alguns interesses, perturbando a segurança e estabilidade, além das tensões e confusão entre estabelecimento militar e  civil.

Tais manobras atrapalham o regime colonial, seus interesses e estratégias na região, bem como  incapacita os governos civis, diante dos riscos das revoltas populares, e levantamentos sociais.

Tal preocupação do extremismo na região do Sahel-saara confunde a opinião pública entre contra e a favor da presença francesa e governo civil. Enquanto que a posição americana deixa a margem  de ação para o Níger, sem exigir qualquer regresso do Presidente Mohamed Bazoum, nem intervir do militar, diante do grupo “Sediao”, em favor da posição francês.

Para os Estados Unidos, o Níger  deve enfrentar a expansão russa na região do Sahel, Mali e Burkina Faso. Por que  o poder russo continua a exercer a sua influencia, a exemplo da Síria, preocupada com o terrorismo radical e intervenção do Grupo russo, Wagner.

Assim, o Sahel-Saara virou a plateia do jogo das potências internacionais, dos golpistas na África agir sem denúncia internacional, do governo civil incapaz de enfrentar os problemas sociais, a corrupção e a ingovernabilidade, bem como as tensões motivo de uma guerra civil no Níger.

Estes golpes militares no Mali, Burkina Faso e Níger traduzem as dificuldades  de governabilidade e do sentimento de desamparo, da falta de segurança, da pobreza, da concorrência entre os Estados Unidos e Rússia no novo arranjo geoestratégico.

Guiné e Gabão, problemas da alternância e poder

Os dois golpes de Estado derrubaram o Presidente guineense Alpha Conde, Setembro de 2021, e o Presidente Ali Bongo, no Gabão, 2023, diferendo quanto aos motivos diretos ou indiretos do exército servir ao povo e ao bem social.

Se Guiné, com uma população de aproximadamente 14 milhões de pessoas, um dos países muito atrasados e subdesenvolvido, arrisca uma crise global, enquanto o Gabão, dada uma população sem ultrapassar os dois milhões e meio, com muita riqueza, petróleo e gás, sendo classificado como o quarto produtor do continente, produtor de madeira e outros minerais, segundo maior produto nacional per capita da África.

Apesar de tudo isso, a população gabonês convive com  baixo nível desenvolvimento, mais de 37 por cento no desemprego. Nível alto da corrupção, objeto do regime da família Bongo, dirigente por  mais de 55 anos.

Na Guiné, o Presidente Alpha Condé, professor universitário, foi um dos mais proeminentes opositores da era do Presidente Ahmed Sekotori, face a muita repressão e falta de regras de competição. Tornou-se presidente em 2010, mas logo mudou a Constituição para poder se candidatar a novos mandatos.

Tal atitude e comportamento alimentou a tensão social, levando o Coronel Mamadi Doumbia a tomar a decisão de destituir o presidente através de um golpe militar, 5 de Setembro de 2021, consequência de uma transição prevista dentro de 39 meses.

 Os militares agem segundo estratégias geopolíticas ou ideológicas, mas ao mesmo tempo em reação a um regime controverso do Presidente Ali Bongo.

Este último assumiu a presidência, 16 de outubro de 2009, após a morte de seu pai.

A sua reeleição em 2016 foi criticada, sofreu a doença vascular cerebral,  2018, seu governo conheceu um declínio, consequentemente, de  popularidade insatisfeita e criticante.

Perante tudo isso, as divisões foram sentidas dentro da sua família, contradições e atritos.

O presidente, Ali Bo Ngo eleito a um terceiro mandato, considera o seu filho  o seu sucessor, apesar da forte oposição contra a corrupção, a ausência de uma política justa e social, motivo da estabilidade e reformas democráticas.

Assim, muitas questões foram levantadas sobre a ruptura com a era anterior e a influência da França na família Bongo .

Acarretando, o golpe militar, do novo líder, General Price Olegy Nguema, comandante da Guarda Republicana, próximo do antigo regime, sendo a alternativa para o Gabão sair da situação atual e encontrar meios de salvaguardar a riqueza do país.

Tal golpe de Estado tornou-se um processo de democratização de forma irreversível. Dado respeito às relações e instituições para um Estado de direito. Buscando assim corrigir a situação atual, através de práticas fundamentais de liberdades e de combate à corrupção desenfreada, e facilitar a transição política e legitimidade constitucional. Para com as instituições reguladoras africanas, a União Africana ou a CEDAW, a Organização Económica dos Estados da África Ocidental.

Assim, interroga-se sobre os problemas dos países africanos, até que ponto podem afetar  outros países onde algumas famílias ainda monopolizam o poder sem nenhuma transferência de poder, caso do Chade, Togo, Camarões ou Equatorial e Guiné, podendo agir rapidamente para corrigir o que deve corrigir, sem a margem de manobras para os golpes militares agirem.

Autor:

Lahcen EL MOUTAQI

Pesquisador universitário- Rabat, Marrocos

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