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terça-feira, 23 de abril de 2024

Escrevendo sonhos com tinta azul

Concentrada em suas escritas, Ana observava atentamente aquela caneta azul recarregável que a acompanhava por anos nos rabiscos que fazia todos os dias.

Nada dava mais prazer a ela do que aquele objeto cilíndrico azul que estava sempre à sua espera, parecendo estar aguardando ansiosamente para ser utilizado.

Ana tinha um apego emocional por aquela caneta. Era como se ao pegar naquele instrumento, suas ideias brotassem e as letras fossem se encaixando, uma a uma, transformando palavras em mensagens de amor e esperança e tudo fazia sentido quando ela escrevia.

Brincando com a caneta entre os dedos, recordou-se do momento em que foi presenteada pelo pai aos quinze anos de idade: numa caixa ornamentada com um tecido aveludado azul marinho com um laço de cetim pink, ela nunca imaginava qual presente estaria naquela embalagem tão linda. Ao abrir a caixa, se deparou com aquele objeto reluzente que mais parecia uma joia de tão bonito que era.

Ana sempre amou a escrita, mas daquele dia em diante, ela teve mais prazer em escrever. É como se aquele presente dado pelo seu pai ratificasse o que ela mais sabia fazer.

Estar na companhia daquele objeto era certeza de que as ideias iriam bailar em sua cabeça e, ao final, tudo faria sentido.

O tempo voava quando ela estava escrevendo e, quando percebia, mais um caderno havia sido utilizado por inteiro.

Ana sentia que aquele objeto era seu amuleto de sorte, não por ele parecer uma joia, mas pelo prazer que ele proporcionava a ela.

Com aquela caneta em mãos, Ana tinha certeza que seu futuro lhe renderia muitas escritas e ela poderia concretizar seu mais almejado sonho de ser uma grande escritora e foi o que aconteceu. Dos rabiscos no papel feitos por aquela caneta, resultaram em vários livros que foram publicados e ela, enfim, pode desfrutar daquele momento mágico para um escritor que é a noite de autógrafos. Ana autografou cada livro com o seu amuleto de sorte: sua velha e linda caneta azul.

Mas, infelizmente, quando Ana completou quarenta e cinco anos, seu pai veio a falecer.

Ana juntou os cacos de sua alma e não sabia como agradecer ao pai por todos os anos de amor e dedicação a ela.

Entre lágrimas e soluços, sentiu necessidade de fazer uma homenagem ao pai que tanto amava. Resolveu, então, escrever seu último soneto numa folha amarelada, externando todo o seu amor pelo pai e colocou no caixão aquele papel com sua inestimável caneta azul.

Ao ver o caixão ser fechado, Ana sentiu que havia dado ao seu pai o melhor que ela tinha com a intenção dele nunca esquecer o quanto ele contribuiu para ela externar seus melhores sentimentos por meio da escrita: a caneta azul.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

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