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terça-feira, 23 de abril de 2024

Bariátrica: mitos e verdades sobre o procedimento

Especialista explica os benefícios e os mitos que envolvem essa cirurgia

A cirurgia bariátrica é, atualmente, o método mais eficaz para a remissão e controle da obesidade. Ela visa não apenas reduzir a gordura corporal, mas também controlar as diversas comorbidades ocasionadas pelo ganho de peso, como por exemplo, a hipertensão arterial, diabetes, hérnia de disco, apneia do sono e até alguns tipos de cânceres.

Segundo a médica especialista em Cirurgia Digestiva e Bariátrica, Dra. Thayla Amaral, para definir se o paciente tem indicação para a cirurgia, é preciso analisar alguns critérios clínicos. “Para a indicação, é preciso observar se há falha no tratamento clínico da obesidade por um período mínimo de 2 anos (mesmo fazendo dieta, atividades físicas ou tomando medicação), associado a um Índice de Massa Corporal (IMC) de 35 a 40 Kg/m², juntamente com alguma comorbidade ocasionada ou piorada pela obesidade, ou para pacientes com IMC acima de 40 Kg/m² independentemente de comorbidades apresentadas”, informa a especialista.

Com a evolução de novas técnicas, os cuidados no pós-operatório proporcionam rápida recuperação com o menor risco. O tempo de realização da cirurgia é, em média, de 1 hora e a internação dura cerca de 24 horas.

Hoje, o procedimento é feito principalmente por videolaparoscopia ou robótica, onde o acesso à cavidade abdominal é feito por meio de pequenos orifícios. Dessa forma, o retorno às atividades habituais do paciente acontece de forma mais breve, já que há menor desconforto pós-operatório. Após receber alta, a alimentação é realizada inicialmente através de uma dieta líquida.

Em média, o paciente perde 30% de seu peso total após a cirurgia. “Claro que alguns indivíduos necessitam eliminar um pouco mais para terem uma saúde melhor, e isso depende do planejamento alimentar e atividades físicas adotadas. Esse processo dura, aproximadamente, de 12 a 18 meses; por isso, o alinhamento de expectativa é importante para evitar a ansiedade. Após esse período, a diminuição de peso é estabilizada, possibilitando a realização da cirurgia reparadora (cirurgia plástica) caso o paciente necessite”, explica a Dra. Thayla.

Mas a diferença não aparece apenas na balança. A bariátrica diminui consideravelmente o risco de problemas de saúde que podem trazer limitações às atividades diárias, além de atenuar risco de infarto, de AVC (Acidente Vascular Cerebral), de trombose, e cerca de 20% dos cânceres.  Além desses benefícios, melhora o potencial de remissão de problemas de saúde causados pelo ganho de peso, tais como diabetes, hipertensão, dores lombares, refluxo gastroesofágico, apneia do sono, falta de libido, entre outros. Com tantos benefícios a longo prazo, a expectativa de vida pode aumentar com a retomada da qualidade de vida que havia sido perdida por causa da obesidade.

Apesar de muito difundida, existem diversos mitos sobre a cirurgia bariátrica. A médica Thayla Amaral esclarece alguns deles:

  • A cirurgia bariátrica é a solução definitiva para a obesidade:

É preciso deixar claro que a obesidade é uma doença crônica e progressiva, e assim como uma hipertensão, por exemplo, necessita de acompanhamento profissional para ser controlada. Com isso, a cirurgia precisa ser vista como um recurso para a melhora, e não ser responsável por, sozinha, resolver os problemas de saúde do indivíduo; ou seja, a bariátrica é responsável por 50% de todo o sucesso da redução do peso e problemas associados, os outros 50% dependem do comprometimento do paciente com o tratamento completo;

  • A cirurgia bariátrica é uma escolha fácil e rápida para emagrecer:

A cirurgia nunca deve ser a primeira tentativa de emagrecimento para um obeso, mas geralmente quem opta pela bariátrica já fez inúmeros tratamentos para combater o excesso de peso. Esse paciente chega ao consultório “cansado” de tentar e não conseguir emagrecer, ou às vezes, até consegue eliminar alguns quilos, mas não consegue manter o resultado por muito tempo. Muitos são taxados de “preguiçosos” e com “falta de foco”, absorvem esses julgamentos, se deprimem e se retraem. Por isso, quem julga quem faz a bariátrica, julga sem entender do assunto e, muitas vezes, sem entender a história como um todo;

  • A cirurgia bariátrica causa automaticamente deficiências nutricionais:

É importante que o indivíduo saiba sobre a necessidade da reposição de vitaminas no pós-operatório, pois como a cirurgia proporciona uma saciedade precoce e diminuição da fome, além de ativação do metabolismo, o paciente come em volume menor. Dessa forma, as vitaminas são necessárias para manter a reposição de nutrientes que não são ingeridos pela alimentação oral.

Geralmente as deficiências nutricionais acontecem naquelas pessoas que não fazem o acompanhamento regular com a equipe multiprofissional e que não tomam as suplementações recomendadas. Por isso, é importante a compreensão da obesidade como uma doença que necessita de controle;

  • Todos os pacientes recuperam o peso após a cirurgia bariátrica:

Um grande mito. Grande parte dos casos de reganho de peso após a bariátrica estão associados a erros alimentares e não em falha anatômica da cirurgia. Com o passar do tempo, pacientes que não mantém o acompanhamento podem “burlar” a dieta ou mesmo interromper a realização de atividades físicas, o que facilita essa recuperação do peso;

  • A bariátrica trata a compulsão alimentar;

A compulsão alimentar precisa ser tratada antes da realização da bariátrica, e não após. Esse processo acontece principalmente por problemas psicológicos do paciente que vê na alimentação uma válvula de escape. Para que isso não prejudique o processo de emagrecimento, é necessário o acompanhamento psicológico antes e depois da operação.

A conscientização do paciente é essencial para o sucesso de todo esse processo, pois a bariátrica não é a solução de todos os problemas. “A cirurgia foi idealizada para trazer bem-estar e saúde, a estética é apenas uma consequência e não deve ser o único fator motivacional. Pessoas que não possuem indicação e mesmo assim realizam o procedimento, aumentam o risco de deficiências nutricionais e reganho de peso”, finaliza Thayla Amaral.

Sobre a Dra. Thayla Amaral | @drathaylaamaral 

Thayla Amaral é médica formada pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), com residência médica em cirurgia geral pelo Hospital do Servidor Municipal, de São Paulo e residência médica em cirurgia do aparelho digestivo pela Gastromed/Instituto Zilberstein, em São Paulo.  

Possui o Título de Especialista em Cirurgia Digestiva pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD) e Título de Especialista em Cirurgia Bariátrica e Metabólica pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).

A profissional é sócia-proprietária da Clínica Bellit, localizada em São Paulo – SP.

Autora:

Karine Bastida

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