Considerada a maior poetisa mística da literatura brasileira, Auta de Souza publicou mais de 100 poemas. Geralmente curtos, divididos em uma pequena estrofe ou sonetos, a poesia de Auta de Souza se destaca pela dramaticidade e pessoalidade, características decorrentes de sua vida breve e seu final comovente.

Durante a vida além de vários problemas de saúde, Auta de Souza enfrentou perdas irreparáveis e pareceu encontrar na literatura uma maneira de desabafar sobre seu sofrimento.

Após sua morte, um poema de sua autoria psicografado por Chico Xavier, também a tornou uma figura importante para o espiritismo. A descrição da morte de maneira intensa transformou Auta de Souza, de acordo com muitos pesquisadores, na maior poetisa mística do Brasil.

Vida

Auta Henriqueta de Sousa nasceu em 12 de setembro de 1876 na cidade de Macaíba, no interior do Rio Grande do Norte, filha de Elóy Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues, tendo quatro irmãos, dois dos quais se tornaram políticos influentes, Elói de Souza e Henrique Castriciano, além de Irineu de Souza e o mais novo João Cândido.

A mãe de Auta, Henriqueta Leopoldina, morreu quando ela tinha apenas três anos, de Tuberculose, doença que também levou o Elóy Castriciano de Souza à morte no ano seguinte. Órfãos de pai e mãe, os cinco irmãos foram viver com a avó Silvina Maria da Conceição, em uma chácara no Recife.

Vinda de uma família com muitos recursos, Auta e os irmãos receberam uma excelente educação, porém ela teve que interromper seus estudos no Colégio São Vicente de Paula, onde havia sido matriculada, ao ser diagnosticada com Tuberculose aos catorze anos de idade.

Mesmo assim, Auta continuou se dedicando aos estudos, tendo começado sua carreira como escritora aos dezesseis anos de idade. Ainda enquanto estudava, começou a atuar como professora de Catecismo, uma vez que teve uma influência católica forte em sua criação, o que se caracterizou depois em sua obra, o que a torna uma das principais poetisas católicas da história.

Apesar de sua saúde frágil, nos seus poucos anos de vida, Auta sempre frequentou ambientes de leitura e discussão e se colocava como uma grande escritora em vida, não somente divulgando seus próprios trabalhos, mas também incentivando a leitura de outros autores famosos da época.

Mas no decorrer dos anos a doença veio a piorar, e ela acabou não resistindo. Morreu em 1901 aos 24 anos, em Natal na capital do Rio Grande do Norte, estando hoje enterrada no jazigo da família na Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Macaíba.

Doença retratada nas Poesias

Conforme dito anteriormente, Auta foi diagnosticada com tuberculose aos catorze anos de idade, doença com a qual conviveu durante dez anos, até sua morte. A escritora também foi obrigada a enfrentar mais uma tragédia, quando seu irmão Irineu morreu aos doze anos vítima de um acidente ocasionado pela explosão de um candeeiro.

A tuberculose foi um fator decisivo na história da família Castriciano de Souza, uma vez que os pais morreram da doença, mas para a jovem teve um impacto ainda maior, porque além dela mesma ter sido vitimada, a doença limitou muito suas possibilidades.

No final do século XIX Auta conheceu o promotor público de Macaíba, João Leopoldo da Silva Loureiro, com quem planejava se casar. No entanto os irmãos proibiram o casamento e a obrigaram a se separar de João, uma vez que temiam por causa de sua saúde frágil e, portanto, não queriam que a jovem deixasse a família.

A coincidência trágica veio um ano depois da separação, quanto o próprio João Loureiro morreu de Tuberculose. Naquela época a Tuberculose era uma doença que atingia à muitas pessoas e era na maior parte das vezes fatal, sendo a maior preocupação de saúde no final do século XIX e início do século XX.

Análise resumida de suas Obras

Auta e os irmãos foram criados pela avó, e a autora presta uma homenagem à Silvina Maria da Conceição no poema “A Minha Avó”:

“Minh’alma vai cantar, alma sagrada!
Raio de sol dos meus primeiros dias…
Gota de luz nas regiões sombrias
De minha vida triste e amargurada.
Minh’alma vai cantar, velhinha amada!
Rio onde correm minhas alegrias…
Anjo bendito que me refugias
Nas tuas asas contra a sina irada!
Minh’alma vai cantar… Transforma o
seio
N’um cofre santo de carícias cheio,
Para este livro todo o meu tesouro… –
Eu quero vê-lo, em desejada calma,
No rico santuário de tu’alma…
– Hóstia guardada n’um cibório de ouro!”

Como naquela época a Tuberculose era vista como um mal irremediável e fatal, e por haver passado por perdas em decorrência da doença, a análise das obras de Auta de Sousa, permitem compreender que ela sempre esteve conformada com a morte. Além de expressar por meio de seus poemas a dor e a tristeza que essas tragédias lhe causaram, parecia esperar e escrever sobre seu destino. O poema que mais deixa claro essa percepção é “Ao Pé do Túmulo” onde os versos falam em tom de conformidade:

“Amarguras da Terra!
Eu me desligo
Para Sempre de Vós”

Apesar de ter sido reconhecida à nível regional enquanto ainda estava viva, o trabalho de Auta de Souza foi mais amplamente divulgado após sua morte, especialmente pela coletânea de poemas “Horto” lançada em 1910, com prefácio escrito por Olavo Bilac, que era amigo de Henrique Castriciano.

Durante anos o médium Chico Xavier psicografou uma série de poemas e sonetos atribuídos a Auta de Souza, o que a tornou uma figura importante no espiritismo brasileiro.

O irmão de Auta Elói Castriciano de Souza foi um político influente tendo sido eleito deputado estadual e depois deputado federal, tendo seu mandato interrompido pela Revolução de 1930. Morreu em 1959 aos 86 anos de idade. Seu outro irmão Henrique Castriciano foi vice-governador do Rio Grande do Norte e presidente do Congresso Legislativo, tendo sido também escritor, morreu aos 73 anos de idade.

Autora:

Anna Flávia Lopes – jornalista