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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Festinha Surpresa

Festa de aniversário de criança nunca foi minha praia, mas era o filho do Groselha e (infelizmente) não dava para faltar. Procurei chegar mais cedo com a intuição de que o Grosa tivesse se esquecido de alguma coisa (talvez até da própria festa) e de fato, antes que pudesse descer do carro precisei fazer treze viagens para buscar várias coisas e algumas pessoas. Ao entrar, pensei que o garoto estivesse com algum problema (grave) nos músculos da face. Mas era pura alegria… não conseguia conter o sorriso pela festinha e presentes e já vestia as roupas novas (e bonitas) que havia ganho dos pais.

Logo após uma “chuva de ovos” organizada pelos amiguinhos os músculos voltariam ao lugar. Uma boa quantidade de água e sabonete resolveriam quase tudo, mas o choro foi mais prolongado, ainda mais com o monte de bexigas se desprendendo da parede e caindo sobre a churrasqueira, “alagada” logo em seguida por uma chuva inesperada.

Os bifes então passaram para a frigideira, mas o gás acabaria já na “primeira rodada”. Saí novamente. Ao voltar, Groselha e eu começamos a tomar cervejas e a apartar brigas das crianças, na proporção de uma para uma. Com a chuva, todos ficaram dentro da (pequena) casa. A gritaria e o “pula-pula” certamente podiam ser registrados pelo mais insensível dos sismógrafos.

O garoto agora me parecia triste, mas não era para menos: sua mãe me disse que já de manhã ao ajudar o pai a “ajeitar” o quintal derrubara uma telha numa unha encravada, pisoteada algumas vezes em meio a tanta gente. — Ele está com dor – concluiu.

Pedi ao Grosa, então, que fosse até o carro pegar o presente. Era um bonito carrinho (exatamente o que ele tanto queria), antes do Groselha escorregar e cair sobre a caixa. O menino então usou algumas lágrimas que ainda tinha de reserva. Tentando minimizar as coisas, Grosa disse a ele (e nunca fora muito bom com as palavras) que poderia brincar de “sucata”… Que dó!

Prometi então que no dia seguinte, sem falta traria outro igualzinho. Bem… hora de cortar o bolo que, por um lapso, ninguém havia encomendado. Quase sugeri ao Grosa que mudasse o apelido de seu filho para “pequeno Jó”, pois fiquei com pena dele. E de mim. Foi minha décima quinta saída, desta vez para procurar um bolo. Depois, Grosa me diria que o filho era muito sensível… mas eu também seria se tivesse queimado o queixo ao assoprar as velinhas.

A chuva havia parado alguns minutos e as crianças foram correndo ao quintal para pegar um papagaio que havia caído por lá. Fiquei pensando como seria possível alguém empinar papagaio (ou pipa, como queira) com um dilúvio aqueles, mas logo que o menino entrou com a mão toda bicada (e chorando), entendi tudo.

Bem… nada como uma festinha absolutamente normal. Com a noite chegando comecei a fazer as “entregas” e fui para casa. Às 2h15 da madruga atendi o telefone. Era o Grosa, me convidando para a festinha surpresa do filho. Disse a ele que como ainda faltavam 364 dias, não havia motivos para me acordar àquela hora. Mas aí é que está… a festa do dia anterior havia sido “fachada”… a de surpresa seria naquele domingo e eu estava convidado… Por que fui prometer que levaria outro carrinho no dia seguinte?!?!?!

Autor:

Miguel Arcangelo Picoli é autor do livro Momentos (contos) e Contos para Cassandra (em homenagem à escritora Cassandra Rios).

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