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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Do sublime e do ócio:

“Gosto das coisas mais simples, dentre elas o marcante rosto dela”, pensava o garoto.

Com seus fones de ouvido, ele caminha perdido em seus próprios e sórdidos pensamentos. Aquele olhar vazio, lotado de falsas esperanças e diversas valsas com suas dúvidas.

Caminhando, ele passa pelo portão de entrada do prédio, caminha mais um pouco e avista aquela árvore com suas folhas alaranjadas; o inverno lentamente se aproxima.

  • Pensando novamente aí sozinho? – indaga a moça. “Ela continua linda, gosto de ouvir a doce voz dela.”
  • Pensando naquelas “paranoias” filosóficas de sempre.  – fala o garoto rindo.

Uma moça com um metro e sessenta e poucos, cabelos compridos e vestindo um casaco quente. Era visível que ele tinha grande carinho e admiração por ela.

  • Fala a verdade, estava pensando em alguma mulher! – diz a moça rindo.
  • Não… sabe que não fico pensando sempre em mulheres! – ele responde rapidamente.
  • Das 24 horas, 23 tu pensa em mulher, menti? – ela retruca com um sorriso arrogante.
  • É, te pego mentalmente e tu não sabe. – disse o garoto, num tom baixíssimo.
  • O que disse?  – pergunta a moça.
  • Nada. – retruca ele rindo.

Ela fica com uma expressão de brava, mas no fundo ele achava fofo. Indo para a sala onde deveria estar, lá estava aquela outra mulher de cabelos avermelhados.

Sentada de pernas cruzadas, seus olhos atentos liam Madame Bovary. Ela é uma moça baixa, visível que nosso protagonista demonstra grande respeito e muita admiração, só não sabemos o quão irônico isso é…

As horas passam e aquele garoto continua igual, escuta, responde, mas o autoproclamado filho do Sol se sente estranho; falta algo, todas as mulheres da vida dele estão ali.

  • A Escola Romântica é um movimento… – Dizia a moça de cabelos vermelhos.

“… É um movimento que a maioria dos jovens está possuído, lotado por diversas desilusões, quem caminha nessas ilusões sou eu, sozinho, seja sóbrio ou bêbado caminharei nisso, ninguém salvarei, afinal não posso, não importa o quanto eu me esforce, as cicatrizes sempre se abrem…” – pensava o garoto.

  • Jovem Maier, algo a falar? – Indaga a moça de cabelos vermelhos.
  • Não, apenas pensando no grande Assis.
  • Falando em Assis, sinto a ironia daqui.
  • O que quer que eu diga sobre o Romantismo? – Ele indaga.
  • O que acha do movimento?
  • Displicente, incoerente, inconveniente… apaixonante.

A troca de olhares de todos naquela sala era cômica, sarcástica, apaixonante e, acima de tudo, intrigante.

  • Qual a mulher que tu ama?
  • Minha saúde, Srta D.

O sorriso arrogante, o olhar confiante, talvez aquela melancolia tenha passado, mas assim como o clima, a vida muda de repente. Uma memória o aterroriza, um passado de agressões, relacionamentos abusivos, laços cortados.

“Qual o teu problema, Maier? Vai terminar sozinho assim, vai se olhar no espelho e ver o monstro que se tornou.”

Rapidamente o olhar de confiança se tornava um olhar vazio.

  • Sabe qual o mal do Romantismo, Srta. D? Ele lentamente mata seu parceiro.
  • Ué, não eras tu o último dos românticos?

A pequena reunião acaba, todos saem, fica apenas a Srta. D e o último Maier.

  • O que te assusta ainda, meu aprendiz?
  • Aquela autocrítica…
  • No geral, tu não reconheces teu potencial, gosto de ti, mas pelo visto todas aquelas perdas ainda se refletem na tua cabeça, não sei no que te ajudar, afinal é a mulher da minha vida quem sempre me ajuda.
  • Me apresente a essa mulher, esse caminho tá sendo longo demais. – Queixa- se.
  • Ela está em todos os lugares, em todos os pensamentos, em todas as pessoas, ela é a mulher de muitas pessoas, ela é a mulher da minha vida, ela é a mulher da tua vida e assim vai.

O garoto sai daquela sala, acende seu cigarro. O dia hoje está agradável, nem quente e nem frio, está uma temperatura confortável. Ele sente suas pernas queimarem, uma chama em seu peito.

  • Talvez seja hora de eu desbravar esse oceano e me desligar desse pequeno mar.
  • Talvez tu tenha razão, vou para um novo mar também. – Diz a moça que estava com ele observando a árvore.
  • O que sugere? Um beijo de despedida? – Fala o garoto, rindo.
  • Merecia um tapa, mas vou considerar que está possuído pelo mal dos românticos. –
  • Nem um beijinho mesmo? Afinal, sou o último dos românticos!
  • Pra quantas mais tu disse isso?
  • Tu foi a primeira.

Rapidamente ele consegue desviar do tapa.

  • Calma, é brincadeira… – Explica, esperando que ela fosse crer nisso.
  • Por que não disse meu nome?
  • Porque isso não passa da minha imaginação trabalhando, vocês duas são as mulheres da minha vida, mas não passam de personagens do meu conto o qual escrevo. Confesso que adoraria me deitar nos teus braços, fechar os olhos e descansar, mas tudo isso não passa de uma memória poética, vou sentir falta dos dias que passamos juntos, mesmo sendo frutos de uma mera invenção da mente humana. Vou sentir tua falta.

Lá está ele, deitado na sua cama, escrevendo em seu telefone, fazendo uma talvez referência às mulheres da sua vida, uma podendo ser duas, ou até mesmo podendo ser quem está lendo… Quem sabe quem estava nessa memória poética… Mas já dizia Bukowski: “Nunca diga quem é sua musa inspiradora.”

Autor:

Daniel Maier, 2022

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