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terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Chega de Medidas Protetivas

Contra fatos não há argumentos

Há um grito silencioso ecoando em nosso meio que nos faz refletir se realmente nossa sociedade é civilizada. Com nossas próprias mãos tapamos os ouvidos como quem não quer ouvir. O feminicídio no Brasil é uma chaga aberta que parece que não quer se fechar.

São aproximadamente 109,4 milhões de vozes correndo risco de serem silenciadas a cada dia por “seres humanos” inescrupulosos; mais da metade da população brasileira está suscetível à violência nutrida entre quatro paredes. 

Essa violência enrustida no inconsciente dos próprios agressores têm deixado um rastro de tristeza e uma multidão de órfãos. Todos esses casos de feminicídio no Brasil, tem chocado a sociedade, inclusive a internacional.

Ainda que alguém(homens) tente suavizar esses números, eles são gritantes, as estatísticas não mentem. Portanto, contra fatos não há argumentos, pois a todo momento grande parte desses milhões de mulheres sofre algum tipo de violência verbal ou física.

As mulheres brasileiras, sem dúvida, são sobreviventes em meio a uma guerra contra o feminicídio.

Estatísticas

Em 2021, o Brasil registrou um feminicídio a cada 7 horas, segundo um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). De acordo com essa pesquisa, a cada 7 horas perdemos mães, avós, irmãs, tias, primas, filhas e amigas. 

Os casos de feminicídio no Brasil tem se tornado um pesadelo para muitas famílias. Além da morte como a principal chaga dolorosa , seguem-na os problemas psicológicos deixados aos familiares através desse grande trauma.

Quem são esses agressores?

Maniacos, sociopatas, psicopatas, talvez. Mas, aquele seu vizinho gente boa, que te dá bom dia todas as manhãs,  aquele médico que já te atendeu várias vezes em seu consultório; o mecânico, o advogado, o policial, pais de família,”cidadãos de bem”, homens comuns; todos estes  estão na lista de potenciais agressores.

Estes homens, a grosso modo, estão abaixo de qualquer suspeita, porém a cada duas horas, no Brasil, eles acabam se tornando  feminicidas. 

Segundo uma pesquisa feita pelo psicólogo e criminologista espanhol Raúl Aguilar Ruiz, existem quatro tipos de feminicidas são eles:

Tipo 1: doentes mentais

São homens que padecem de algum transtorno mental, mas sem traços prévios aparentes de periculosidade criminal. 

Tipo2: antissociais/coativos

Esse tipo de homem conta com um histórico de violência prévia, com consumo abusivo de álcool e entorpecentes. Tem antecedentes de violência dentro e fora do ambiente familiar.

Tipo 3: normalizados/temerosos

Apresentam quadros severos de depressão e ansiedade diante do abandono ou do término de uma relação amorosa. 

Tipo 4: antissociais moderados/ciumentos

Esse quarto tipo de homem parece ser mais afetado não pelo abandono da mulher, mas sim se for trocado por outro homem.

Conforme pudemos ver, todos eles têm características bem peculiares e,  através desses dados é possível traçar o perfil do tipo de agressor e inclusive identificá-lo ainda na fase mais precoce de um relacionamento.

No entanto, de forma alguma quero culpar as mulheres por contraírem relacionamento com um possível agressor. Até porque, nada justifica a agressão física ou verbal, pois os problemas podem e devem ser resolvidos  de maneira civilizada.

Dessa forma, digo que a identificação de algumas dessas características podem surtir um  efeito de prevenção.

Covardes

A covardia é extrema, pois se aproveitam da desvantagem física em que as mulheres se encontram, para atacá-las , estrangulá-las e matá-las.

Portanto, o feminicídio configura a atitude de matar uma mulher simplesmente pelo fato  dela ser uma  mulher.

Na verdade, os agressores, são mais frágeis do que elas, não tem estrutura para suportar a frustração de uma separação (muitas vezes ocasionada pela própria agressão), a  sensação de abandono ou de perda, o estresse, a ruminação de pensamentos e, portanto, preferem matar.

Chega de medidas protetivas

O objeto de proteção mais contundente atualmente são as medidas protetivas. Entre janeiro de 2020 e maio de 2022, o Brasil registrou 572.159 medidas protetivas de urgência para meninas e mulheres em situação de violência doméstica. Nove em cada 10 pedidos são deferidos, o que mostra a adesão do Judiciário ao instrumento das medidas protetivas de urgência.(https://www.cnj.jus.br/)

Definitivamente é preciso reconhecer, através desses dados, a celeridade da justiça na concessão dessas medidas, algo que demonstra a gravidade do problema.

Por outro lado, fica a minha indignação e questionamento. Até quando elas terão seus direitos de ir e vir tranquilamente, prejudicados? Ficarão dependentes de um botão de pânico para sempre? Até quando serão dependentes de medidas protetivas, que muitas vezes são quebradas pelos seus agressores? Quando deixarão de ser mortas na frente de seus próprios filhos?

Chega de medidas protetivas! Essa afirmativa, mais do que tudo, clama  pelo endurecimento das leis no que diz respeito ao feminicídio. Desse modo, sentenças mais pesadas desestimulariam o ato e também frustrariam a sensação de impunidade, pois mesmo com uma pena de 12 a 30 anos de prisão, as estatísticas não tem se mostrado favoráveis. Quem dera, elas pudessem viver tranquilamente sem ter de acionar medidas protetivas, isso mostraria a nossa capacidade evolutiva de uma sociedade que respeita o seu semelhante.

O debate

Debater sobre o tema é algo que fortalece a ideia de que a sociedade não está adormecida frente a tudo isso que está acontecendo. É preciso promover campanhas periódicas junto a entidades, como escolas e associações de bairros, igrejas; engajar a população acadêmica incluindo essa pauta em trabalhos a serem realizados junto a comunidade local, tudo isso, é algo que pode fazer a diferença na atuação contra o feminicídio.

Por fim, nós homens que temos a capacidade de respeitar nossas mulheres, somos agentes fundamentais no combate ao feminicídio. Respeitando, amando e denunciando qualquer caso de abuso ou agressão que chegue ao nosso conhecimento.

Carlos Literato
Carlos Literato
Carlos Literato é Articulista, Graduando em Pedagogia, Psicanalista e Bacharel livre em Teologia.

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