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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Vivemos o prelúdio da Terceira Guerra Mundial?

A única vez que de fato a humanidade chegou à beira de uma guerra nuclear planetária ocorrera durante a Crise dos Mísseis de Cuba, em outubro de 1962, durante a chamada Guerra Fria, conflito político-ideológico-econômico-cultural-científico-tecnológico travado entre os Estados Unidos da América (capitalistas) e a União Soviética (socialistas).

Na época o que era considerado praticamente como um embate inevitável entre as duas superpotências atômicas fora solucionado por meio de acordos diplomáticos entre o presidente americano John F. Kennedy e o líder soviético Nikita Khrushchov.

Com o fim da Guerra Fria e o colapso do Império Soviético, atualmente vivemos situações de conflitos nas mais diferentes partes do globo, com destaque para a Guerra na Ucrânia. Tal invasão ao território que fora no passado parte da União Soviética deu-se com a anuência do presidente russo Vladimir Putin, visando a evitar o ingresso de Kiev à Aliança do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Mas, afinal de contas, o que é e para que serve a OTAN?

OTAN contra Rússia

A OTAN foi criada nos anos 1949, em Washington D.C., nos Estados Unidos e tinha entre os seus objetivos expandir a influência norte-americana sobre o continente europeu, conter o avanço de revoluções comunistas e o avanço da União Soviética no Leste Europeu e defender mutuamente os membros da aliança, visto que, em seu regimento, um ataque contra um dos membros seria um ataque contra todos os seus participantes.

Como já citei anteriormente, a Guerra Fria chegou ao fim com a dissolução da União Soviética, em 1991. Junto com esse declínio, a aliança do bloco soviético, o Pacto de Varsóvia, que tinha basicamente os objetivos opostos aos da OTAN, mas com o mesmo modus operandi (evitar o avanço da OTAN e do sistema capitalista em suas áreas de influência), também chegara ao fim, sobretudo com a criação da Comunidade dos Estados Independentes. Pois então não faria o menor sentido de a OTAN continuar existindo, visto que seus inimigos haviam declinado.

Mas ela, a OTAN, continuou e continua a existir. E mais do que isto. Ela continuou se expandindo para o Leste Europeu, em direção às fronteiras da Rússia, antiga república soviética. Esses avanços ao longo dos anos em que terminaram a Guerra Fria não agradaram em nada Moscou. Muito pelo contrário, o país dos czares via a aliança ocidental como um grande risco à segurança e à existência da própria Rússia.

Quando criada em 1949, a OTAN contava com 12 membros, sob a liderança dos Estados Unidos, demais países como Bélgica, Dinamarca, França, Islândia, Itália, Canadá, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal e Reino Unido formavam a então aliança. Mas, desde 1952 até os dias atuais, a expansão da OTAN passou de 12 para incríveis 30 membros, inclusive com antigas repúblicas soviéticas fazendo parte agora da aliança antes inimiga, como Lituânia, Letônia e Estônia. Lembrando que a aliança pode chegar a 32 membros ainda em 2022, com a adesão da Finlândia e Suécia, países que fazem fronteira com a Rússia.

A Ucrânia, também uma ex-república soviética, tinha e tem fortes interesses de participar da aliança ocidental. O país europeu é vizinho não somente geográfico da Rússia, mas também cultural e histórico e por esses motivos o Kremlin alega que o território ucraniano não é nem sequer um país, mas parte integrante do seu território, tal qual a península da Crimeia. Desse modo, a intenção de Kiev de se juntar à OTAN e de se aproximar da União Europeia foi, ao que tudo indica até então, um dos motivos maiores para a invasão ocorrida em 24 de fevereiro de 2022, a qual é chamada por Putin de “Operação Militar Especial na Ucrânia”.

Abaixo segue a expansão da OTAN até o ano de 2009, representada em azul, e, em vermelho, os países do antigo bloco soviético e a Rússia, o maior país.

Expansão da OTAN durante décadas pós-Guerra Fria
Expansão da OTAN através de décadas durante e após a Guerra Fria

Embate China e Estados Unidos

Seria inimaginável que nos anos em que acontecera a guerra civil chinesa (1927-1949) acreditar que, dentro de algumas décadas, a China ocuparia uma posição influente na economia, produção e poderio militar no mundo. Após massacres e genocídios que envolveram os lados nacionalista e comunista da guerra, milhões ainda viriam a morrer de fome após o regime comunista de Mao Tsé-Tung (1949-1976) perseguir e oprimir toda e qualquer revolta contra a ditatura agora instalada em solo chinês.

Os perdedores da guerra civil tiveram que fugir para a ilha de Taiwan e criaram governo próprio, sob a égide da democracia e do capitalismo, mas havendo grandes perseguições aos opositores na ilha nos primeiros anos de governo nacionalista. A China sempre tivera Taiwan como parte de seu território e uma província rebelde. Os taiwaneses, por outro lado, sempre se declararam ser a “verdadeira China” e que a parte continental era um território ocupado por um governo ilegítimo e ditatorial. A comunidade internacional, todavia, sempre consideraram e consideram a China continental como a “única China” e Taiwan como um território autônomo da China, tal qual como Hong Kong já foi um dia.

Após a morte do seu líder (1976), a China passa a descentralizar a sua economia e se abre gradativamente para o capital estranheiro. Abriu-se de maneira tão abrupta que os Estados Unidos trataram logo de considerar o país asiático como um de seus grandes parceiros comerciais, aproveitando-se do acirramento que o regime chinês vivia com a União Soviética, ambos regimes totalitários comunistas.

Durante o fim dos anos 1970, a China tivera o ambicioso objetivo de modernizar a sua economia, aumentar exponêncialmente o seu PIB (produto interno bruto), investir em infraestrutura e educação, esses foram os pilares basilares para o crescimento da China e, com tamanhos objetivos e investimentos, a nação começara a obter investimentos estrangeiros de diversos países.

As décadas se passaram e a China no início do milênio já seria uma potência asiática em termos econômicos. Estimativas apontam que o os chineses passarão os EUA como a maior economia do mundo até 2030. A mão-de-obra barata e a baixa carga tributária de impostos sob as empresas desenvolvem a economia da China em uma velocidade surpreendente. O poderio militar também cresce assustadoramente e hoje a China já conta com o maior exército do mundo, em termos de número de soldados: mais de 2 milhões. O gigante asiático é também uma potência nuclear.

O embate comercial logo se tornara inevitável com o país do Tio Sam. Durante o governo de Donald Trump (2017-2021), o presidente norte-americano iniciara, em 2018, uma ofensiva maciça contra a economia da potência asiática. Trump iniciou sua ofensiva com tarifas sobre uma lista de produtos chineses comercializados em território americano: 50 bilhões de dólares em tarifas. Como retaliação, o governo de Pequin impôs tarifas em mais de 128 produtos norte-americanos, incluindo inclisive o principal produto de exportação dos EUA, a soja.

Basicamente essa medida protecionista de Trump objetivava, obviamente, salvaguardar o PIB norte-americano, diminuir a diferença entre as vendas chinesas e estadunissenses de um para o outro – para afeito comparativo, em 2018, os Estados Unidos venderam 120 bilhões de dólares em produtos para a China, enquanto o país asiático vendeu 530 bilhões de dólares em produtos para os americanos – e por último e o principal objetivo: enfraquecer (ou tentar) a economia chinesa.

As tensões China x Estados Unidos se acirraram ainda mais neste mês de agosto de 2022, quando, no dia 2, a presidente da câmara dos representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a terceira autoridade da linha de sucessão da presidência da república dos Estados Unidos, chegou à ilha de Taiwan. É a primeira vez, em mais de 30 anos, que uma autoridade notável dos EUA visita o território taiwanês. A visita, claro, deixou a China atônita.

Uma propagandista do governo de Pequin alertou para o risco de os militares chineses derrubarem o avião americano com a parlamentar a bordo. Todavia a política ianque pousou em território tawanês com segurança e fora aclamada pelas autoridades e população do território autônomo. Ainda assim, a China viu a visita como uma ameaça à sua soberania e a Rússia, seu aliado, viu no ato como uma provocação dos EUA ao seu vizinho e um incentivo às tensões na região.

Taiwan é um território disputado pelas influências chinesa e americana

Conflito iminente: Paquistão versus Índia

Trata-se de duas nações com armamentos nucleares. Paquistão e Índia eram colônias britânicas e, após a Segunda Guerra Mundial, ao conquistarem suas independências, reivindicam a região da Caxemira, região ao norte do subcontinente indiano. As duas nações são de religiões e culturas distintas: o povo paquistanês são muçulmanos e o povo indiano são hindus. Para eles, a Caxemira é uma região sagrada, além de ser rica em recursos hídricos.

Um possível atentado terrorista na região da Caxemira poderia desencadear um conflito direto entre os dois países, visto que, apesar de o território ter suas partes dividido dentro dos territórios indiano, chinês e paquistanês, cerca de 95% da população deste lugar é muçulmana.

A Caxemira é um dos lugares mais militarizados do planeta. Em 2017, em meio a conflitos na região, houve um atentado terrorista com carro-bomba contra soldados indianos, deixando 40 mortos. Na ocasião, a Índia passou a disponibilizar cerca de 500 mil soldados para ocuparem a região. O Paquistão sempre negou que estivesse envolvido com o atentado e se ofereceu para investigar o caso e punir os autores.

Todavia a Índia não aceitou tal proposta do vizinho e, desconfiada do trágico, se encarregou de avisar que pretente contra-atacar possíveis terroristas dentro da região da Caxemira em território Paquistanês. O Paquistão disse que reagirá a qualquer ataque indiano.

A fronteira paquistanesa e indiana da Caxemira é uma das zonas mais militarizadas do mundo

A questão das Coreias

Ainda durante a Guerra Fria, uma guerra por procuração que envolveu os Estados Unidos dividiu a península da Coreia em duas nações antagônicas: Coreia do Sul (Capistalista e apoiada pelos EUA) e a Coreia do Norte (Ditadura comunista e apoiada pela União Soviética). Os coreanos que eram um só povo durante séculos se vira dividido após se livrarem do Império Japonês com o término da Segunda Guerra Mundial.

Para quem já estudou a história da Guerra da Coreia (1950-1953), sabe que nunca houve a assinatura de um tratado de paz, mas de um armistício e que o conflito se segue até os nossos dias. A linha do paralelo 38 é o ponto que divide as duas coreias e trata-se de um dos lugares mais militarizados do planeta.

Em outrobro de 2006, os comunistas realizaram o seu primeiro teste nuclear, com uma bomba de 1 quiloton. O teste fora um sucesso. Os testes atômicos tornaram-se a se repetir ainda em 2009, 2013, 2016 duas vezes e o último e mais devastador em 2017, de 250 quilotons (com uma bomba de hidrogênio).

O vizinho do Sul claro que não gostou nada destes testes. Por não possuir armas nucleares, a Coreia do Sul se vê mais vulnerável em caso de uma possível invasão por parte da Coreia do Norte ao seu território.

A Coreia do Norte já realizou inúmeros testes de lançamento de mísseis intercontinentais, alguns com capacidade de chegar até mesmo ao seu maior inimigo, os Estados Unidos.

A Guerra da Coreia continua até os dias atuais, adormecida pela assinatura de um armistício em 1953, podendo acordar a qualquer momento

Hostilidade Israel x Palestina

Diante do holocausto de 6 milhões de judeus, em campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial, pela Alemanha Nazista, a comunidade internacional viu a necessidade de atender aos anseios do povo semita, com a criação de um Estado, diante de tamanha perseguição sofrida por esse povo.

O primeiro conflito entre árabes e israelenses, conhecido como guerra árabe-israelense, contou com cinco países (Transjordânia, Egito, Síria Líbano e Iraque) contra Israel, ocorrido em 1948, um dia após a fundação do Estado judeu. Após um ano de batalha, Israel saiu vencedor e expandiu o seu território, ocupando inclusive a parte ocidental de Jerusalém, cidade sagrada para as religiões abraâmicas.

Outros conflitos vieram ocorrer, como a Guerra do Yom Kippur (1973), e alguns duram até os dias de hoje. O que eleva o risco de tensões, além da questão religiosa e cultural dos dois povos, árabes e israelenses, é a disputa territorial sobre a cidade Santa de Jerusalém.

Além disso, estudiosos e pesquisadores de temas militares acreditam que Israel possa conter em seu arsenal militar armamentos nucleares, visto que o programa nuclear israelense, no ano de 1979, teria, de acordo com observações de satélites norte-americanos, realizado seu primeiro teste com artefato atômico e, mesmo após isso, o governo do Estado Judeu nunca declarou possuir armas nucleares, mas também nunca negou tê-las.

O Irã, inimigo declarado de Israel, também possui um programa nuclear, mas o país persa, até o momento, assegura não possuir bombas nucleares em seu arsenal, embora esse seja o seu maior objetivo, para impor igualdade militar perante Israel.

O conflito árabe-israelense perdura desde a fundação do Estado Judeu até nossos dias

Outros conflitos ocorrendo neste exato momento pelo mundo

  • Conflito na Etiópia – Beirando a uma guerra civil, as batalhas travadas entre grupos já deixaram 900 mil mortos em 16 meses;
  • Guerra civil do Iêmen – Forças separatistas do sul e tropas leais ao governo travam um sangrento conflito que já conta com mais de 370 mil mortos (entre eles, mais de 8 mil civis) e quase 50 mil feridos;
  • Guerra civil do Mianmar – Após o golpe de Estado em 2021, o país mergulhou em uma onda de conflitos sem precendentes que está em andamento até os dias de hoje;
  • Instabilidde do Haiti – Desde 2004 que missões de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) tentam reestabelecer a ordem do país caribenho. Todavia os movimentos insurgentes seguem causando caos e terror social naquele país;
  • Guerra na Síria – O conflito interno que se iniciara em 26 de março de 2011 já envolveu a participação de potências como Estados Unidos e Rússia. O governo de Bashar al-Assad segue no comando do país em meio a turbulências causadas por insurgentes contra a autocracia vigente naquela nação;
  • A situação do Afeganistão – Após a invasão americana em solo afegão, a guerra naquele país durou exatos 20 anos, tendo o seu término após a evacuação das tropas norte-americanas em 30 de agosto de 2021. Até aqui, foi estabelecido um governo no país do Oriente Médio sob a liderança do grupo islâmico Talebã. Vale lembrar que desde a data da invasão até a data da evacuação das tropas dos Estados Unidos, Guerra do Afeganistão (2001-2021) deixou um rastro de destruição, contabilizando algo em torno de 73 mil mortos, entre eles sendo a maioria de civis: mais de 51 mil mortos. Destarte a situação continua instável na nação afegã, com um governo que reprime fortemente seus opositores e as ditas minorias.
Mundo vive uma série de outros conflitos que causam milhares de vítimas, sendo a maioria de civis

O mundo vive uma situação caótica, na qual forças adversárias têm deixado rastros de destruição e mortes. Tal momento que os conflitos são deflagrados lembram de forma aterrorizante os inícios das Primeira e Segunda guerras mundiais, bastando apenas que o último barril de pólvora fosse acesso para eclodirem os conflitos globais supracitados.

Deseja-se que nunca vivenciemos um terceiro conflito mundial, visto que as possibilidades de o mundo se transformar em um apocalipse nuclear é real, todavia vale ressaltar que as relações políticas entre as superpotências têm se acirrado ao longo das últimas décadas e que, se nada for feito para evitar uma escalada de conflitos, podemos sim, de fato, chegar à tão temida Terceira Guerra Mundial, a primeira (e acredito que a última) guerra nuclear.

Walisson Jonatan de Araújo Maia
Wallysson Maiahttp://lattes.cnpq.br/8683005938555663
Walisson Jonatan de Araújo Maia (Wallysson Maia) é graduado em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e Suas Respectivas Literaturas pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; blogueiro, designer e professor.

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