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segunda-feira, 29 de abril de 2024

Onde esta o real risco para as eleições?

Acuse-os daquilo que você faz.” Esta é uma estratégia de comunicação tão amplamente utilizada que inclusive a frase é atribuída pelos anticomunistas a Lênin. Seria parte do “Decálogo de Lênin”, um texto que simplesmente nunca foi escrito pelo revolucionário russo. Ou seja, até na hora de divulgar a estratégia, usam dela.

Todos sabemos que o governo Bolsonaro e seus apoiadores levantam suspeitas ao processo eleitoral brasileiro desde 2018. Na campanha para presidente Bolsonaro deixou claro que não aceitaria outro resultado a não ser sua vitória. Mesmo após vencer as eleições ele persistiu na tese que a eleição que ele venceu foi fraudada. Uma tese no mínimo exótica. Os fraudadores alteraram o resultado da eleição, mas alteraram só para não perder muito feio…

O ataque ao processo eleitoral brasileiro é tamanho que Bolsonaro que tem efeitos retroativos. Nosso presidente afirma que Aécio teria ganho a eleição de 2014. Tese que o próprio Aécio defendeu inicialmente, mas hoje reconhece que fez isto apenas “para encher o saco do PT”. Provas da fraude? Bolsonaro passou anos dizendo que as tinha, para quando ameaçado judicialmente reconhecer publicamente que nunca as teve.

Hoje, copiando seu guru americano, Bolsonaro já afirma que caso ele não vença a eleição terá sido uma fraude. Um discurso claro de um mau perdedor, mas que infelizmente ressoa em parte significativa da população, pronta a ignorar até mesmo o fato que o adversário de Bolsonaro é favorito em todos institutos de pesquisa. Uma curiosa situação, típica de teorias da conspiração, de que as evidências contrárias a teoria defendida é uma prova não da falsidade da teoria e sim da manipulação dos dados.

Para os bolsonaristas os mesmos ministros que prenderam Lula em 2018 hoje estão em uma conspiração para elegê-lo. “Acuse-os daquilo que você faz.”

Infelizmente já temos histórico quanto a capacidade do bolsonarismo em manipular uma eleição. O discurso dos governistas é que Bolsonaro fez uma campanha independente, sem dinheiro, contra tudo e contra todos, e teve uma vitória milagrosa (para alguns, LITERALMENTE milagrosa). Apesar de haver certa verdade nesta análise, ela é essencialmente mentirosa.

Bolsonaro de fato foi um deputado de baixo claro, subestimado pela política tradicional, que, usando um pequeno partido e muito as redes sociais, venceu uma eleição presidencial. Mas não esqueçamos todos os detalhes da história. 

A prisão de Lula em 2018 não ocorreu por acaso. Exigiu toda uma preparação, tanto por parte da Operação Lava jato quanto por parte do Supremo Tribunal Federal, que, entre outras decisões polêmicas, permitiu a prisão a partir de condenação em segunda instância (entendimento que curiosamente foi alterado em 2019). E até hoje não se sabe o quanto a pressão de Generais de alta patente teve relação com o caso. Além disto houve um movimento quase uníssono por parte da mídia em traçar Lula e seu partido como os maiores corruptos de toda a história da humanidade.

Este processo culmina com a negociação entre Moro e Bolsonaro. O juiz responsável pela prisão de Lula se torna o futuro Ministro da Justiça do seu principal concorrente antes mesmo da eleição se concluir. Isto nos mostra claramente que os bolsonaristas não tem nenhum prurido em tomar atitudes bastante questionáveis para influenciar os resultados eleitorais.

E isto se repete em 2022. Hoje, 30 de junho, o senado aprovou, por pressão governista, uma Emenda Constitucional que libera mais de 40 bilhões de verba, acima do teto de gastos, para gastos em programas sociais, entre outros, subsídio ao diesel e auxílio a caminhoneiros. O detalhe? A menos de três meses da eleição. Isto iria contra a lei eleitoral brasileira a não ser pelo fato que foi uma Emenda  Constitucional. Afinal nenhuma lei pode estar acima da Constituição.

O que isto representa é um investimento bilionário às vésperas da eleição para apaziguar os efeitos da atual crise econômica temporariamente. Muitos dos problemas que serão amenizados por esta Emenda Constitucional já estavam no debate político pelo menos desde o início do ano. Alguns, desde o início da pandemia, em 2020. O governo optou por produzir cortinas de fumaça e deixar o problema se agravar, para fazer uma resolução temporária e cara as portas da eleição. Parodiando uma frase PTista, nunca antes na história deste país se fez um uso da máquina tão escancarado.

Isto mostra não apenas o desespero de Bolsonaro quanto ao resultado da eleição, como também um cálculo macabro. O buraco fiscal desta medida, combinado com outras como o Orçamento Secreto Impositivo para 2023 preparam um cenário de ingovernabilidade para um possível governo de Lula. Uma forma de garantir que, mesmo que se perca as eleições, o bolsonarismo continue em pauta pelos próximos 4 anos.

Talvez este uso irresponsável de bilhões do nosso dinheiro para tentar comprar votos não seja o suficiente para reverter o atual cenário de repúdio ao governo Bolsonaro. Mas mesmo que não seja o suficiente para reverter o resultado das urnas, terá consequências terríveis para o país, mas positivas para o bolsonarismo.

E mostra também que no mínimo Bolsonaro fará, em caso de derrota, uma política de terra arrasada após as eleições. Infelizmente o mais provável é que nosso presidente imite o seu ídolo americano e tente algo similar a invasão do Capitólio. E caso bem sucedido, vir atender o “apelo popular” e colocar o país em “ordem”. Mas mesmo no melhor cenário possível, Bolsonaro fará de tudo para piorar a transição. Aliás, já esta fazendo.

O real risco as eleições brasileiras é algo muito mais simples que uma fraude eleitoral ou o impedimento as eleições. O risco real é o mais descarado abuso ilegal (mas formalmente constitucional a partir de hoje) do poder da máquina governamental para criar artificialmente um clima que crie um viés cognitivo na população, como já foi feito em 2018. Lá prenderam o legítimo candidato favorito. Agora fabricaremos uma falsa bonança as custas de nosso futuro, ao arrepio de qualquer legislação eleitoral razoável. 

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