Alberto sentiu antes de acontecer.
Sua esposa estava dormindo, suas filhas também.
Ele estava sozinho na sala, como de costume.
Fumando um paieiro e vendo um jogo da série B.
De repente, bateram em sua porta.
Alberto sabia quem era.
“Pode entrar.”, ele disse.
A porta se abriu.
É a Morte.
“Boa noite, Alberto. Acho que sabe por quê estou aqui.”
Alberto olhou para seu paieiro.
“Acho que sei sim”, ele respondeu.
A Morte riu e se aproximou.
“Também. Mas não só isso. Chegou sua hora, Alberto. Simples assim.”
Alberto pensou e pediu à Morte por mais tempo.
Disse que sua família precisava dele.
Que sua mãe era sozinha e precisava de alguém a visitando todo dia.
“Sua esposa consegue alguém melhor pra isso.”
Que sua esposa teria dificuldades financeiras.
“Tem o seguro pra isso.”
E que suas filhas precisavam de um pai.
“Sua esposa consegue alguém melhor pra isso.”
Não importava o quanto ele pedia.
A Morte não ligava.
“Chegou sua hora. E tenho um trabalho a cumprir.”
Assim era, e assim deveria ser.
Alberto não pôde se despedir.
Alberto não pôde abraçar nem sua esposa, nem suas filhas,
nem mandar uma mensagem de texto para sua velha mãe.
Alberto teve que se conformar que o que viveu até ali, tinha que ter sido suficiente.
Não haveria nada além.
Pelo menos, a Morte o deixou abraçar seu vira-lata, o Gilsinho.
E Alberto a convenceu a ver o fim do jogo entre Vasco e Cruzeiro com ele.
Alguns diriam que ganhou uns minutinhos, e outros diriam que era melhor ter ido antes.
De qualquer forma, acabando o jogo, Alberto partiu desse mundo.
Sem segundas chances.
Morreu com medo, sim.
Mas o medo passou quando morreu.
Pra quem ficou foi muito, muito pior.
E todo mundo, sem exceção, culpou o paieiro.