Seu Jesé chegou na ilha em uma manhã de segunda-feira.
Lá, encontrou apenas mato, pedras e muito espaço para cultivo.
De barulho, apenas o cantar dos pássaros e o bater das ondas no entorno da ilha.
Mais nada.
Mais ninguém.
Seu Jesé olhou em volta e, satisfeito, pensou:
“Vai servir.”
Duas semanas antes, havia perdido sua esposa.
O motivo não cabe a mim lhes contar.
Mas o que importa é que agora estava sozinho, com três filhos para criar.
Em um mundo ao qual nunca pertenceu.
Tomou, então, uma decisão.
Iria para aquela ilha que seus olhos sempre encontravam no horizonte do mar.
Aquela ilha, que sempre parecia tão distante.
Tão vazia.
“Vai servir.”
E serviu.
Deixou seu filho menor com parentes.
Levou os outros dois.
Levou gado, sementes e materiais de construção.
Levou, mais importante que tudo isso, sua vontade de partir.
Ergueu sua morada e deu início a sua plantação.
Construiu uma cruz de pedras, em homenagem ao seu eterno amor.
Construiu um vínculo de amor com a ilha em que escolheu.
Não construiu, porém, a mesma coisa com seus filhos.
Uma, a mais velha, fugiu com seu barco em uma manhã de sol.
O outro foi menos radical, mas o deixou de toda forma.
Seu Jesé, enquanto isso, nem cogitava sair.
A Marinha dizia ser a dona do local e visitava-o constantemente.
E nem assim Seu Jesé se abalava.
Não iria sair de lá, nem que fosse a força.
E, quando soube que a força iria chegar para retirá-lo, foi ao seu canto favorito da ilha.
Olhou para as pedras, suspirou e disse:
“Vai servir.”
E serviu.
Seu Jesé cometeu suicídio em uma manhã de segunda-feira.
Em sua carta, pediu para não sentirem pena de sua morte.
Para ele, voltar ao continente seria uma sentença pior que essa.
Não iria se acostumar.
Não queria se acostumar.
Hoje, na ilha, apenas a cruz de pedras está de pé.
E, em falta de uma homenagem adequada ao nosso eremita:
Ela vai servir.