Solange sentia que sua casa era assombrada.
Se era ou não, não temos como saber.
O que sabemos, apenas, é que Solange sentia que era.
Não foi sempre assim.
E ela saberia.
Afinal, vive na mesma casa desde os seus cinco anos.
Seus pais a compraram com a esperança de permanecerem ali para sempre.
E enquanto durou o para sempre deles, por ali ficaram.
Solange saiu para fazer faculdade, mas visitava seus pais com frequência.
Quando voltou, teve pouco tempo com seu pai antes dele partir.
E mais pouco tempo ainda de luto, antes de sua mãe a deixar também.
Solange viveu, por um tempo, sozinha nessa casa vazia.
E, de acordo com ela, assombrada.
O peso do passado amassava seu futuro e, então, ela decidiu se mudar.
Vender a casa não foi fácil.
Muitos dos possíveis compradores compartilhavam a crença de Solange de que não estavam sozinhos por ali.
Quando chegou a hora de ir, Solange esperou que a casa tentasse a convencer a ficar.
Pareceu o momento mais oportuno para surgirem os fantasmas de seus pais, que ela tanto sentiu por tantos momentos.
Não houve nada além de silêncio.
Solange, então, partiu.
A assombração, porém, partiu junto com ela.
Pois o que realmente a assombrava, era não ver, ouvir, ou tocar a assombração.