O ano era 97 (ou nove oito?) e Márcia estava grávida. Finalmente, chegara o dia do ultrassom que responderia a uma pergunta que, nas últimas semanas, pairava sobre a cabeça de toda a família Vieira: “é menino ou menina?”
Realmente, é uma grande dúvida. A gente precisa saber pra… não errar a cor do enxoval, e… porque já temos tecnologia pra isso… então… vamos usá-la…!
Marina, irmã da futura mamãe, acompanhou a gestante nesse dia, a fim de ser a única pessoa que saberia o sexo do bebê. Márcia, assim como toda a família, teria que esperar mais duas semanas, até o Chá de Revelação, pra descobrir se o seu útero encaminhava ao mundo o Gabriel ou a Gabriela.
“- Eu sabia!!!” – disse Marina ao médico, emocionada.
A maioria das simpatias clarividentes tinha batido: a do teste da colher e do garfo; a da presença de mancha na barriga; a do paladar da mãe; a da aliança; a do repolho; a da idade dos pais; a do queixo da mãe; e a da palma da mão. Só aquela do coração de galinha que não deu certo.
As duas mulheres saíram da consulta e, embora tomadas pela ansiedade, cumpriram o combinado. Marina fez boca de siri por duas semanas e Márcia caiu de cabeça nos preparativos do chá. A mulherada toda ficou animada e, por isso, elas ajudaram a preparar a tradicional reunião feminina, cheia de brincadeiras, que revelaria o sexo do bebê (naquela época esses eventos eram bem restritos… hoje em dia, homens também participam, em certo nível).
Bexigas rosas e azuis, bolo recheado com uma dessas cores e um bastão de fumaça colorida, comprado via Mercado Livre, pelo qual a cor que sairia só a Marina sabia. A festinha foi uma delícia e, mais pro fim do evento, a mulherada cantava e batia palmas – igualzinho seria nos futuros aniversários do bebê:
“- Aêêêêêê!! Gabrié, Gabrié, Gabrié…“
Ouvia-se de longe o alvoroço, mas não dava pra entender se gritavam Gabriel ou Gabriela… percebia-se apenas que elas estavam muito felizes: e é isso que importa, né?
O engraçado nessa história, é que os anos passaram, e com eles, muitas festinhas de aniversário, com gritarias parecidas, aconteceram. Gabrié cresceu feliz, com seus primos, primas, e amigos, e nunca lhe faltou inteligência, vigor, saúde, amor e muita compreensão.
Hoje em dia Gabrié tem seus 22 (ou 23) anos, já está na faculdade, e nos seus afazeres cotidianos, frequentemente lhe direcionam a pergunta:
“- Você é menino ou menina?“
Gabrié aprendeu a levar essa pergunta numa boa. Primeiro, porque sabe muito bem quem é; segundo, porque, apesar de meio chata, ela não muda nada em sua vida e; terceiro, porque volta e meia alguém vai fazê-la, pois a expressão da sua personalidade é assim: nem muito lá, nem muito cá. Nem muito rosa, nem muito azul: tons de roxo.
E tá tudo bem.