Define-se a modernidade como aquele movimento que o mundo conheceu, liderado pelos países ocidentais nos últimos séculos, a título do descobrimento do feudalismo, do desaparecimento dos padrões de vida, da ascensão dos movimentos burgueses ou do processo de industrialização, objeto das duas primeiras revoluções, surgimento da máquina a vapor e a invenção da eletricidade, além do movimento de urbanização e aparição de espaços, cidades modernas, inovando na economia, na administração, e na organização do trabalho e produção, com bases científicas, atendendo a opinião pública graças a escrita, a edição, o jornalismo e leitura; bem como do papel do sagrado na vida das pessoas e na emergência de comportamentos sociológicos secularizados.
Tais profundas transformações e mudanças só podem contribuir a fortalecer o retorno à democracia, os movimentos de protesto e o protagonismo de intelectuais, sindicatos e partidos políticos. Tal impacto profundo foi sobre a sociedade, pois cresceu uma nova cultura baseada no individualismo, no consumismo, na família, na forte crença na ciência, no papel do homem no mundo, na natureza e no desenvolvimento do interesse pelo corpo, no vestimento, entre outros.
Essa revolução dita silenciosa e a sensibilidade cultural renovada acompanharam o movimento colonial dos séculos XIX e XX.
Os franceses, ingleses e outros trouxeram para as colônias novos modos de vida, do trabalho, da economia, da cultura, das transações cotidianas e até mesmo da guerra. Construindo novas cidades, escolas, laboratórios e administração, mantendo abordagens modernas de gestão e administração, escrevendo livros e ensaios, publicando artigos e relatórios sobre as novas ideias e métodos inovadores. Atirando assim a atenção da população graças ao comportamento “racional” e “civilizado”, apesar da ferocidade da repressão e dos oponentes ao colonialismo. Existe muito dos jovens egípcios, tunisianos e marroquinos que envolveram tal comportamento e a ação social.
Levando a perguntar, sobre como os pioneiros do renascimento, Muhammad Abdo, Jamal al-Din al-Afghani e Abd al-Rahman al-Kawakibi, criticaram as décadas atrás?
Qual é a razão do desenvolvimento e progresso do Ocidente, contra o atraso e subdesenvolvimento dos países islâmicos?
Ou seja, como lidar com o ímpeto, a força e a atratividade da modernidade no âmbito de uma cultura tradicional nebulosa e profundamente enraizada ao longo dos tempos, e nas interpretações conservadoras da religião e teorias da sociedade, mergulhadas no tradicionalismo?
O impacto só deve ser o resultado da divergência das referências, valores, visões e métodos de organização e gestão, dada superioridade tecnológica, cultural, militar e econômica dos países ocidentais em relação aos países do Sul, em relação aos islâmicos, e no campo político, moral, cultural e social, cujos efeitos continuam surtindo efeitos até hoje.
Reações
A maioria dos intelectuais mostraram posição defensiva, levando-os a buscar soluções ao impacto, ou ainda as explicações ou as justificativas deste atraso. Os intelectuais marroquinos, a título do modelo para os intelectuais árabes em relação ao impacto da modernidade.
Focando o período pós-independência, onde a geração de veteranos e outra geração encarnaram esta poderosa luta, visando a buscar soluções a este choque entre as partes – Ocidente-Oriente, explicando e justificando o atraso. Uma vez que só poucos entraram na arena do conflito com ideias, desmantelando o discurso da modernidade e a realidade dos países do Sul no quadro da interação com os valores e ideias oferecidos pela modernidade num projeto societário e alternativo. Contribuindo ao próprio projeto de modernidade sem cair no binário “Oriente e Ocidente”. A exemplo dos indianos, chineses, alguns países latino-americanos e outros.
Enquanto os intelectuais árabes e muçulmanos, juntamente com as sociedades árabe-islâmicas, permaneceram presos a uma visão maniqueísta do outro e de si, sem superá-la, até nestes tempos atuais.
Um balanço analítico de produções intelectuais e críticas possibilita uma ideia de como os intelectuais marroquinos enfrentam tal choque da modernidade e quais as abordagens adotadas para superar tal choque, interagindo sobre como fortalecer e poder transitar, envolvendo a modernidade sem influenciar-se?.
Tais mecanismos intelectuais podem ser resumidos na receita do salafismo, base do patrimônio cultural religioso histórico, desmantelando ao mesmo tempo o gênero do texto jurisprudencial, e a questão da identidade, imaginária e pretendida, numa tentativa de criar formas intelectuais, retóricas e metodológicas, do coletivismo diante da influência da modernidade.
Estes salafistas ( referentes aos religiosos da fonte) investigaram abordagens políticas, éticas e sociais das juristas, bem como dos estudiosos e políticos na Idade Média, mesmo antes de adotar práticas referenciais da história e da modernidade ocidental. Diante de tudo isso, o processo de inspirar-se nas experiências ocidentais questiona a ideologia da pátria e a nação auto fundada. Razão pela qual os salafistas criticam o processo e as questões dos conservadores, da metodologia fundamentalista e arqueológica, bem como da história da pátria antes de sua existência.
Tais salafistas têm uma teoria teleológica da história, e da identidade nacional desde o início, uma vez que as ações dos predecessores, preocupados em proteger a si mesmo, identificaram a pátria das impurezas da modernidade.
Finalmente, os patriarcas não estão longe dos salafistas. Mesmo se, eles continuam divididos em dois grupos: aqueles que seguiram os passos de Hussein Marwa, Mahmoud Amin al-Alam, e outros que procuraram derrubar as tendências materialistas, racionais ou esclarecedoras do patrimônio; além de outra parte que analisou a mente árabe (Al-Jabri) ou islâmica (Arkoun), no sentido de entender os componentes arabo-islâmica e mantê-los para enfrentar a modernidade.
Em relação a Marrocos e aos países islâmicos, os intelectuais acreditam que modernidade não começou de zero, segundo Abu Dhar al-Ghafari, El Kramita, Ibn Rushd e entre outros, abrindo-se sobre práticas a titulo da capacidade do ambiente árabe-islâmico e pensamento avançado, dito moderno. Tal sentido modernidade foi uma das razões para estudar o patrimônio em seus mistérios avançados frente ao seu tempo. Dada a posição defensiva, como tentativa malsucedida de apresentar alternativas do que propõem os teóricos da imitação, do pensamento de Al-Ghazali, da visão da decadência, Al-Khatibi, Ibn Taymiyyah.
“A crítica à mente é uma parte essencial e primária de qualquer projeto do renascimento, mas o seu renascimento árabe moderno depende de muitos requisitos…“, segundo o pensador marroquino, Al-Jabri, teórico da mente árabe.
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Autor:
Lahcen EL MOUTAQI. Professor universitário-Marrocos
Ótima análise e artigo.