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quarta-feira, 24 de julho de 2024

Apreciação de atitude: características da nova política externa brasileira pela Causa Palestina

Os parâmetros da política externa do novo governo brasileiro, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Partido dos Trabalhadores Brasileiros PT, começaram a ficar claros para a questão palestina com a posse do presidente Lula e a assunção de seu governo de seus deveres constitucionais pelo país na semana passada. Suas indicações vieram por meio de declarações que não são novidade para o presidente Lula, que destacou que os palestinos merecem toda a nossa atenção e solidariedade, e é a concretização de seu sonho que sempre repetiu no passado, representado por ver uma Palestina livre e independente que vive em paz no Oriente Médio. Essas declarações coincidiram com a adoção de decisões políticas no terreno, que contrariavam a política seguida pelo derrotado presidente Jair Bolsonaro.

As declarações do presidente Lula em apoio à causa palestina são as mesmas que ele vem reivindicando desde que era dirigente sindical e dirigente do Partido dos Trabalhadores, fundado em 1979 e lançado em 1980, e são as mesmas quando ele foi presidente do Brasil nos anos 2003-2010. Esses princípios que se enquadram no princípio do respeito pelo direito à autodeterminação e da solidariedade com os povos oprimidos, que o partido adoptou no programa fundador que aprovou em 1980, e reafirmou na segunda reunião realizada em 1982, na qual expressou claramente seu apoio à luta do povo palestino para reconquistar sua terra. Esta posição não saiu do programa de campanha presidencial do partido nas eleições de 1989, quando enfatizou o apoio à luta do povo palestino para estabelecer seu estado independente. Essas afirmações também estão em consonância com a constituição brasileira aprovada em 1988, que contém disposições claras incluídas no artigo 4º, na cláusula que diz respeito ao apoio constitucional ao direito à autodeterminação dos povos e à ênfase na solidariedade entre os povos, especialmente os pobres.

É importante dizer que o compromisso do Presidente Lula com a Palestina e sua causa é um compromisso pessoal e um sonho que o Presidente buscou realizar. O presidente Lula considerou que resolver a crise do Oriente Médio e alcançar a paz e a estabilidade na região é um de seus sonhos pessoais que busca realizar, pois queria ver um Oriente Médio livre de armas nucleares, como é o caso de seu querido país, América do Sul. Ele sonhava também em que o Oriente Médio fosse como o Brasil, onde todas as raças e culturas convivem em perfeita harmonia, onde mais de dez milhões de brasileiros de origem árabe convivem com 120 mil

judeus brasileiros. Este sonho não será realizado sem a realização dos direitos legítimos do povo palestino representados em seu direito à autodeterminação e ao estabelecimento de seu estado independente.

O interesse pela causa palestina veio de forma equilibrada e paralela, em linha com um aspecto das prioridades da segurança nacional brasileira, representadas pela profundidade regional do Brasil, o relacionamento com os Estados Unidos da América EUA, o empenho do Brasil em reformar o Instituições das Nações Unidas ONU, incluindo o Conselho de Segurança, e o respeito do Brasil pela Vaticano, centro da religião católica que é devido pela maioria do povo brasileiro. Assim, o corpo diplomático presenciou as primeiras decisões urgentes do governo brasileiro com prioridade sobre os demais, e essas decisões foram nomear embaixadores próximos ao novo governo, da Argentina, dos EUA, da ONU e do Vaticano, além de a encerrar as funções do embaixador brasileiro em Israel antes de nomear um novo. Maria Luisa Viotti foi indicada para Washington, Antonio Patriota, ex-assessor da presidente Dilma Rousseff, foi nomeado embaixador na ONU, Antonio Simões para a Argentina e Gilberto Carvalho foi nomeado para o Vaticano.

A exoneração do embaixador brasileiro em Israel, O general Gerson Menandro García de Freitas, em uma das decisões do início do governo Lula, expressa a rejeição do novo governo à política seguida pelo governo anterior e traz um recado à potência ocupante sobre a mudança na política brasileira em relação a Israel, e o retorno de todas as decisões tomadas pelo ex-presidente Bolsonaro, inclusive o alinhamento com a posição de Israel nas instituições internacionais.

Além disso, a posição oficial do novo governo brasileiro em relação às práticas israelenses nos territórios palestinos veio rapidamente desde o primeiro momento de sua formação. O Ministério das Relações Exteriores não hesitou em condenar a invasão da Mesquita de Al-Aqsa por Itamar Ben Gvir, o ministro da Segurança Nacional de Israel, que o Itamaraty qualificou como Nobre Santuário “Alharam Alsharif”, em nota divulgada no dia 3 de janeiro, dois dias após a posse do governo do presidente Lula. A nota afirmava o repúdio e condenação do Brasil a essa incursão, que contraria o direito internacional e a atual situação histórica de Jerusalém, e a necessidade de respeitar a tutela hachemita na administração dos locais sagrados islâmicos em Jerusalém, conforme estipulado nos acordos de paz entre Israel e Jordânia em 1994. A nota afirmava também a firme posição brasileira de seu compromisso com uma solução Dois Estados, onde Palestina e Israel convivem em paz e segurança e dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas e pactuadas.

Não há dúvida de que a tarefa do ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, será difícil. Por um lado, ele trabalhará para reparar os danos

causados pelas políticas do ex-presidente Bolsonaro à política externa brasileira, que o removeu da cena internacional e, por outro lado, trabalhará para reorientar a política externa de acordo com os princípios aprovados pela Constituição da República de 1988. E não há dúvida de que a primeira dessas reformas afetou a Palestina, ao encerrar as funções de seu embaixador em Tel Aviv, que ficava próximo ao ex-presidente Bolsonaro. E a nomeação de um embaixador nas Nações Unidas que antes era assessora da presidente Dilma Rousseff, a quem a imprensa palestina chamou ela de amiga do povo palestino quando ela assumiu a presidência do Brasil de 2011-2016 e foi demitida em um golpe constitucional liderado pela direita brasileira e apoiado pelos EUA. A natureza da relação Brasil- Israel dependerá das práticas israelenses nos territórios palestinos, sobre as quais o Brasil não se calará, o que ameaça a deterioração das relações Brasil-Israel. E se levarmos em conta a boa relação do Brasil – antes do presidente Bolsonaro – com o continente latino-americano, a relação do Brasil com Israel afetará negativamente nas relações israelo-latino-americanas, principalmente países que são governados por partidos que possuem relações históricas com o PT, como Argentina e México. A volta do Brasil à CELAC, que reúne 33 países, além de fortalecer seu papel em organismos multilaterais do continente, como a UNSAR e o Mercosul, é o que devolverá ao Brasil seu papel de liderança no continente e, assim, liderará uma nova direção oposta à políticas da ocupação israelense, e também afetará as posições de alguns países do continente que se alinharam com a potência ocupante e se posicionaram contra as resoluções internacionais que apoiam os direitos palestinos, ou se abstiveram de votar nelas.

Autor:

Dr. Rasem Bisharat. Palestino e especialista em Assuntos Brasil-Palestina

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