17.2 C
São Paulo
quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Placas tectônicas e deriva dos continentes são impulsionadas pela gravidade.

Diagrama esquemático do novo modelo de deriva continental, demonstrando que o processo é impulsionado principalmente pela oscilação do manto – devido à gravidade.
[Imagem: Liang Guanghe/CAS]

Deriva impulsionada gravitacionalmente

Há poucas semanas, emergiu uma nova teoria que sacudiu o campo da geologia como se fosse um terremoto: A ideia de que as placas tectônicas se movem devido à interação gravitacional entre a Terra, a Lua e o Sol.

Em outras palavras, a parte sólida da Terra também seguiria um impulso do espaço, assim como as marés fazem com a parte líquida do planeta, impulsionadas sobretudo pela interação gravitacional com a Lua.

Até então, a teoria aceita pela ciência propunha que as placas continentais flutuam e derivam impulsionadas sobretudo pela convecção do calor interno do planeta. Mas esta teoria não explica tudo. Por exemplo, nenhum dos múltiplos modelos desenvolvidos a partir dela consegue explicar razoavelmente a formação de numerosas cristas lineares com fragmentos continentais flutuando no Oceano Atlântico.

Além disso, essas hipóteses não explicam por que a abertura do Oceano Atlântico é mais ampla no sul do que no meio.

Agora, um dupla de geólogos acredita ter encontrado a explicação, e essa explicação está justamente na força da gravidade, defendem Liang Guanghe, da Academia Chinesa de Ciências, e Yang Weiran, da Universidade de Geociências da China.

Diagrama da fratura do Atlântico Sul e do processo de deriva das duas placas, com o processo impulsionado pela gravidade.
[Imagem: Liang Guanghe et al. – 10.13745/j.esf.sf.2021.12.27-en]

Novo modelo de deriva continental

Guanghe e Weiran elaboraram um novo modelo dinâmico que sugere que, embora a energia térmica possa causar a deriva das placas continentais, a principal força motriz é fornecida por um deslizamento gravitacional da crosta continental e pela ressurgência do manto quente – imagine uma panela quente onde um pedaço de manteiga ainda sólido flutua sobre a maior parte da gordura já derretida, podendo se mover em qualquer direção por si só.

A ideia surgiu justamente quando os dois geólogos estudavam dois perfis de reflexão sísmica profunda no Oceano Atlântico. Para isso, eles calcularam a magnitude da força de cisalhamento do deslizamento gravitacional da crosta no continente africano ao longo de Moho (a camada limite entre a crosta terrestre e o manto), nas margens de duas bacias continentais passivas.

Isso levou a duas descobertas importantes: A deriva continental depende de sua própria gravidade para deslizar com base na constante ascensão do manto, sugerindo que a força de deslizamento gravitacional é o motor principal; e, segundo, o deslizamento ocorre apenas sobre a superfície de Moho devido à maior espessura da crosta continental em relação à crosta oceânica, fazendo com que a deriva produza um deslizamento gravitacional ainda maior.

Com base nesses dois resultados, a dupla estabeleceu seu modelo de deriva continental, segundo o qual a força motriz em ambos os lados do Oceano Atlântico é um movimento autônomo da crosta continental propelido pela ação da gravidade.

“A ressurgência do manto resultante leva a uma superfície inclinada de Moho, na qual a placa continental começa a deslizar, devido ao seu próprio peso,” explicou o professor Guanghe. “Esse movimento contínuo das placas continentais causa mais ressurgência do manto e inclinação da encosta de Moho, resultando na deriva da placa continental acima da placa oceânica.”

Este é o primeiro modelo a explicar a fratura do Atlântico Sul.
[Imagem: Liang Guanghe et al. – 10.13745/j.esf.sf.2021.12.27-en]

Teoria com poder explicativo

Usando seu novo modelo, a dupla reconstruiu a história do processo de separação do Atlântico Sul. Os resultados da simulação mostram que a força motriz por trás do movimento da placa africana ao longo do Moho é maior no sul do que na região central do Atlântico Sul, fazendo com que a parte sul da região africana se desloque a uma velocidade muito maior. Isso é exatamente o que se vê na realidade, finalmente explicando a maior abertura da parte sul do Oceano Atlântico.

Além disso, o modelo também explica por que existem fragmentos continentais menores espalhados no Oceano Atlântico. De fato, as cristas lineares no Oceano Atlântico são simplesmente os blocos continentais iniciais que se esticaram e se dividiram em fragmentos menores.

Finalmente, o modelo também pode responder a perguntas como por que a Índia está se movendo para o norte, e como as ilhas da Nova Zelândia, Islândia e Japão se formaram.

“Embora Wegener [Alfred Wegener (1880-1930)] estivesse certo sobre a deriva continental, ele estava errado sobre a força motriz. A nova explicação oferecida pelo nosso modelo mudará muito a maneira como as pessoas entendem o movimento das placas na Terra,” concluiu o professor Guanghe.

Bibliografia:

Artigo: Decipher the driving force in continental drift from new insights about the South Atlantic breakup process
Autores: Liang Guanghe, Yang Weiran
Revista: Earth Science Frontiers
DOI: 10.13745/j.esf.sf.2021.12.27-en

José Ruiz Watzeck
José Ruiz Watzeckhttps://escolassempatria.blogspot.com/
Jornalista, Escritor, Autor, Físico, Geógrafo, Matemático, Historiador, Professor Universitário, Neuropsicopedagogo, Especialista em Docência do Ensino Superior, Pós graduado em Auditoria, Gestão e Licenciamento Ambiental, Pós graduado em Geoprocessamentos e Georreferenciamentos, Pedagogo, especialista em Astronomia e Astrofísica.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio