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quarta-feira, 24 de julho de 2024

O tribunal da vida real: e você, já bateu o martelo hoje?

O título lhe parece um pouco sensacionalista? E o quanto lhe parece sensacionalista quando lhe dizem que: “tal celebridade relatou ter sido abusada no set de filmagens”?

E embora este seja um tema bastante presente na mídia nos últimos anos, o quanto as pessoas a levam a sério e refletem sobre os seus conflitos no dia a dia? Quantas mulheres conseguem falar abertamente – sem serem julgadas – sobre os cenários pelos quais passaram em que tiveram que aguentar “brincadeirinhas” tendenciosas seja no trabalho, na rua, com “amigos” ou, até mesmo, na sala de aula?

E NÃO! Este não é mais um artigo com papo feminista ou cujo objetivo é disseminar o ódio ou à luta entre os sexos, pois sabemos que tanto mulheres, quanto homens, passam pelo mesmo cenário; mas em um país naturalmente misógeno e com cultura popular ligada à fácil sexualização quem é que mais sofre com isso? Além de, é claro, também ter que lidar com os julgamentos, afinal, quem nunca acessou um site com o tema “abuso” e teve que ler um misto de comentários sarcásticos?

Este cenário me fez refletir sobre a personagem Rachel da recente série apresentada pela Netflix, “Inventing Anna”, ou, no português, “Inventando Anna”. Aparentemente, Rachel, é uma jovem que, ao conhecer Anna, se tornou, quase que de imediato, sua “melhor amiga”. E embora Anna lhe desse motivos para duvidar de seu caráter, Rachel lhe confiou a amizade seguramente… até ter descoberto ser mais uma vítima dos golpes financeiros de Anna. Mas calma, se você acha que a história se resume a isso, então espere para descobrir um pouco mais: após descobrir o golpe, em uma luta na justiça pelos seus direitos, Rachel também obteve atenção midiática e com isso, a chance de vender a sua história. Ela o fez, mas com isso, também recebeu um pouco mais que solidariedade: o julgamento e a incitação de ódio; “oportunista”, “sem vergonha”, “aproveitadora”; “hipócrita”, todas essas palavras e um pouco mais ela teve de ler e ouvir sobre si mesma. Isto era o que algumas pessoas achavam dela, independentemente de como ela tentasse se defender.

E como isso se aplica neste artigo, no assédio e na realidade de muitas outras mulheres no dia a dia? De modo fácil, pois muitas mulheres hoje têm medo de expor a sua realidade por causa do julgamento social. E foi exatamente dessa forma que eu me senti nos últimos dias, após sofrer “sutis” assédios verbais de meu instrutor de curso, eu estive pensando: “mas qual caminho eu devo tomar?” “o que preciso fazer?”

“E se eu disser isso à alguém, estaria sendo oportunista? Pensariam que eu me ofereci, mesmo não me comportando de maneira visual ou verbal sexualizada?” À mim me gerou um misto de sentimentos ruins e ansiedade desenfreada, movida pelo medo do julgamento e pela coragem de levantar a cabeça e seguir em frente, orando para que esse período logo terminasse e eu nunca mais precisasse voltar àquele local.

E nisto, eu me pergunto, quantas mulheres passam por cenários similares ou piores e se calam frente aos seus medos? Quantas mulheres dormem todas as noites e têm pesadelos com passados engolidos ou guardados a sete chaves?

Exercitando um pouco de empatia, eu me pergunto, o que será que a Rachel deve ter sentido ao expor a sua dor e ainda assim ter sido ignorada e ridicularizada por muitos?

E você, já bateu o seu martelo hoje? Quantas vezes você parou para julgar, ridicularizar ou disseminar ódio sem, ao menos, tentar sentir o que a pessoa do outro lado está sentindo?

Autora:

Kauane Oliveira Dos Reis. Redatora e universitária de Letras, Literatura e Língua Inglesa. 14 de abril de 2022. São Paulo.

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