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domingo, 29 de junho de 2025

O operário e a fábrica

O operário, cujo nome é desconhecido (e não importa muito para a crônica), vai para a fábrica em mais um dia de trabalho. Mora em um bairro próximo da indústria, cidade polo moveleira, e desce o morro diariamente embaixo do sol escaldante – no verão da pequena cidade mineira. O industriário vai tranquilamente, às 06h, pois precisa estar no local às 07h para iniciar a jornada. 

Ele observa o lugar em que mora: casas mal-acabadas, um morro, muita fauna e flora, cercado pela natureza. Nunca havia parado e observado o local. Respirava ar puro em sua residência. Na fábrica respirava um ar sujo, que se infiltra nos pulmões e causa sequelas seríssimas ao longo da vida. Mas o que é a vida? Para ele é acordar cedo, ir para a indústria, trabalhar arduamente o dia todo e retornar para casa, com um salário baixo no fim do mês. E para o dono da fábrica? Para ele é mais fácil: aparece lá de vez em quando e recebe o seu pão com o suor do rosto alheio – de seus empregados. É injusto ou natural? O industriário, indo para lá, pensa que é uma ordem estabelecida, que sempre houve desde que nasceu e perpetuará por longos anos – talvez por toda a vida humana. 

O trabalhador está chegando ao trabalho. Está a cerca de 50 metros do lugar. Em breve, começará sua jornada: mexe, encaixa, conserta, faz as peças. Movimento maquinal como os aparelhos que lá se encontram. É um vai e vem constante – como sua ida para lá: vai e volta todo dia na jornada 6 x 1. Faz hora extra, porque tem família para sustentar: três filhos e sua esposa que trabalha fazendo faxina para ajudar nas contas de casa. Os boletos (água, luz e compra do mês) nunca param de chegar. Eles vêm todo mês, não se cansando de adentrar a vida da família do trabalhador, sentar-se na mesa da cozinha e lá estarem esperando serem pagas – sob pena de vencerem, sua vida útil tem prazo de validade, e cortarem a energia elétrica, a água e a fome chegar para o pai, mãe e os filhos. A fome também chega conforme a vida das contas a pagar se esvai: semelhante à morte, que vem de mansinho e se aconchega na residência do operário caso não trabalhe. Semelhante à escravidão, mas de forma contemporânea. 

O industriário chegou ao ambiente de trabalho. Porém, a fábrica se encontrava fechada, vazia, sem a vida que a alimentava por dentro. O que houve com a grande indústria? O trabalhador foi à banca de jornal próxima do local e comprou o jornal da semana. A notícia dizia: A GRANDE FÁBRICA FALIU, DEIXANDO MUITOS DESAMPARADOS! O operário, no fundo, sorriu por dentro. Um alívio para o corpo não ter que trabalhar na escala 6 x 1, diariamente, dando sustento com o suor do próprio rosto para aquela família famosa e rica, enquanto ele recebia um mísero salário. No entanto, pensava em como sustentá-la. Passaria necessidade? Se o pão faltasse, a fome chegasse e a morte com ela de mãos dadas, como parte da família – passaria necessidade. Não se sabe. Arrumar emprego atualmente está muito difícil e o operário sabe disso. Precisa de um, agora que se encontra sem trabalho. 

Chegou em casa, a esposa também e os filhos os aguardando. Fizeram uma oração: a do pai nosso. “O pão de cada dia nos dai hoje…” Mas esse pão, que eles compravam diariamente, ia para a família rica, dona da fábrica. O operário pensou neles por um momento. Uma família desamparada. Todo dia há uma – ou umas e sempre muitas. A dele próprio estava. Enquanto ele tentava ganhar o pão com o suor do próprio rosto, a família burguesa não sabia como proceder: sem o nosso trabalhador, como ganhariam o alimento para o próprio sustento?

Erick Labanca Garcia
Erick Labanca
Graduando em Direito, estagiário da Defensoria Pública de Minas Gerais e escritor independente de crônicas.

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