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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Senhores banqueiros…

Ontem foi lindo. Eu era um jovem, cheio de ideias e alegre. Tão entusiasmado com a vida, que fundei uma futura grande empresa – e dei a ela o meu próprio nome. E de porta em porta, ofereci minha genialidade. Em pouco tempo, vieram os primeiros clientes. Logo acreditei no sucesso certo – não tinha, na minha cabeça, como dar errado. Então, aumentei o número de colaboradores.  Me dei ao luxo de pensar alto: dei aumento e estágios: Jovens cheios de esperança, vinham e iam. Aí vocês me premiaram:

Deram-me crédito; cheque especial; e cartões mágicos – com eles eu poderia comprar qualquer coisa, em qualquer lugar e pagar depois. Fiquei extasiado! Compre agora e pague depois… que felicidade!

Troquei meu velho fusca por um Honda. Que automóvel! Sim, eu havia feito um upgrade na minha condição social. Agradeci a Deus, e a vocês.

Viajei pelas delícias litorâneas deste imenso país. Frequentei hotéis dez estrelas. Entrei no curso de Inglês:

E então, o meu vocabulário aumentou: nele, foram incluídas palavras importadas; Doctor, Boss, Mister etc. Jantares nos melhores restaurantes. Teatros, shows completavam o grande salto social: as cartas estavam a meu favor: Do jogo de buraco ao pôquer. Comecei a enxergar o mundo em dólares…

Novos amigos… Que grandes amigos?!

Veio e instabilidade colorida no país. Onda política que pegou todo mundo de surpresa, inclusive eu…

Um baque na economia. O dinheiro sumiu do mercado…

Os clientes iam-se…O caixa passou a ser caixinha.

Vocês foram cavalheiros: Renovaram minha esperança; descontando as minhas duplicatas.  Um jeitinho legal de comprar parte do meu lucro, vindo dos meus clientes.

Pagaram com juros baixos. Baixíssimos?!

Sofri. Chorei. Esperneei. Voltei ao fusca.

As dívidas cresceram e ficaram nos acordos. O lucro passou a ser passivo.

Vocês perderam a paciência comigo. Pensaram, julgaram e me culparam.” Mal administrador provavelmente”. Com toda razão!

Negócio é negócio. Não se mistura empresa com sentimentalismo.

Troquei o fusca por uma bicicleta. Fui registrado nos simpáticos órgãos oficiais de cobrança.

Que maravilha!

Finalmente fui reconhecido e registrado!!!

O que mais eu poderia querer?

Troquei a magrela por uma mochila. Hoje viajo a pé pelas estradas da vida.

Agradeço com alegria tudo que aconteceu: vocês fizeram-me sentir Dono do Mundo, obrigando-me a ser um cidadão com desapego total aos bens materiais, quase um monge, restando-me como consolo, a fé no criador…

Autor:

Jaeder Wiler

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