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domingo, 21 de julho de 2024

“Guardiã das Pérolas”


Em pleno século XXI, numa cidade repleta de arranha-céus e luzes de neon, eu, decidi compartilhar uma reflexão profunda que ecoa há séculos. Em Mateus 7:6, a passagem que nos alerta para não dar pérolas aos porcos, ganha novas contornos em meio à agitação moderna.

Hoje, mais do que nunca, vivemos num mundo saturado de informações, onde as redes sociais são nossas praças centrais. É difícil escapar da constante exposição aos dramas alheios e à superficialidade que inunda nossas interações diárias. Em meio a esse turbilhão, a sabedoria ancestral ressoa como um farol, iluminando a importância de discernir onde depositamos nossas palavras mais profundas.

Compartilhar palavras de ternura em um ambiente feito de amargura é como atirar pérolas aos porcos no mundo digital. Aqueles que não sabem o valor das pérolas muitas vezes as pisam sem perceber, enquanto outros, voltando-se contra você, despedaçam as palavras com uma crueldade virtual.

Lembro-me de uma noite em que, diante de uma tela brilhante, refleti sobre o Mito da Caverna de Platão. No entanto, o escravo que tenta libertar seus colegas encontra um desafio adicional hoje em dia: a resistência à mudança, enraizada nas bolhas digitais que criamos ao nosso redor. Às vezes, ao compartilhar novas perspectivas, somos incompreendidos e até atacados, uma realidade que o filósofo antigo não poderia ter previsto.

A palavra “santo” ou “perfeito” assume uma nova roupagem na era das selfies e das conquistas exibidas. A busca incessante por perfeição muitas vezes nos cega para a imperfeição humana, impedindo-nos de compreender que nem todos estão prontos para assimilar coisas mais elevadas.

Há momentos em que a exaustão bate, e o ato de jogar pérolas aos porcos, seja na forma de palavras de amor ou de ideias inovadoras, parece fadado ao esquecimento. O cansaço se torna palpável quando as oportunidades se esvaem, e a rotina preenche o vazio deixado por lembranças boas e gestos cordiais.

A paixão, esse sentimento inebriante e mordaz, às vezes distorce nossa visão, fazendo-nos ver coisas que nunca existiram. Entretanto, olhando friamente para trás, percebo que a paixão muitas vezes nos impulsiona a verbalizar e guardar sentimentos que, em retrospecto, são raros e valiosos.

Hoje, assumo o papel de guardiã das pérolas, entendendo que, em meio ao caos digital, é preciso discernir quando e como compartilhar o que é mais sagrado. Cada interação é uma escolha consciente, e a sabedoria das antigas escrituras continua a guiar-me num mundo que, embora digitalizado, ainda carrega as complexidades humanas de sempre.

Autora:

Josanne Gonzaga
Poetisa e escritora com 6 livros publicados.  
instagram @poetisajosannegonzaga

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