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domingo, 17 de novembro de 2024

Sobre Recomeçar (Exílio)

Há seis anos atrás, pleno 2017, o mundo parecia outro.

Seis anos antes disso, em 2011, a mesma coisa.

Em 2017 minha namorada da época me contava sobre a morte prematura de um dos meus artistas favoritos, enquanto eu às 7 da manhã repetia o comportamento que o levou por esse caminho.

Nunca gostei de viver dentro da realidade.

Sempre doeu mais do que eu sabia explicar.

É frescura? Sim, sempre foi.

E também não, nunca foi.

Foi sempre algo em mim.

Nunca foi algo sobre mim.

Gosto de mim mesmo, gosto da minha vida.

Gosto da ideia da vida em si.

Nunca quis partir desse mundo.

Mas já quis partir para outros cantos dele.

Viver vidas que não eram as minhas, ao mesmo tempo que seguia com a minha própria.

Com o tempo perdi o que restava do sonhador em mim;

O mundo nunca esteve pronto pra lidar com esses sonhos.

E eu nunca estive pronto pra lidar com a rejeição desse mundo.

Faltou base.

Uma boa base psicológica.

Faltou usar menos muletas pra escapar dos pensamentos.

E agora, já adulto, é bem mais difícil do que parecia quando criança.

Não sei ser um adulto funcional sem essas muletas;

Então simplesmente não tento mais.

Me custou tudo e mais um pouco.

Perdi amigos, uma gata siamesa e um grande amor;

Familiares ficam, eles tem que ficar.

Mas a sensação de dever já se torna mais clara do que o amor que eu um dia presenciei.

De tudo, porém, não mudaria nada.

Principalmente o futebol; minha reaproximação com o esporte foi essencial para eu crescer.

Viajei, vi o país e agora vejo o mundo.

Escrevo de Kigali, Ruanda.

O “coração da África”.

Foi para onde eu precisei vir para recomeçar.

Escapar,

dos fantasmas da minha casa, da minha vida.

Porque há seis anos atrás, pleno 2017, o mundo parecia outro.

Seis anos antes disso, em 2011, a mesma coisa.

E se olharmos só para o passado, o futuro sempre vai parecer igual;

Pior do que o que já vivemos.

Voltarei na hora certa.

Volto quando os pesadelos acabarem.

Quando eu estiver bem o suficiente para ser bom para os outros.

Até lá…

Sigo no exílio.

Mas sigo com o futebol.

Autor durante partida entre APR-Gorilla, pela Premier League da Rwanda

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