20.9 C
São Paulo
sexta-feira, 3 de maio de 2024

Walküren – As Três Marias

Capítulo Sessenta

– Juvêncio…

– Pode falar, Rosa…

– É por sua livre e espontânea vontade que vai entrar nesse recinto?

– Quer dizer que…

– Por favor, Juvêncio… responda minha pergunta…

– Sim. É por minha vontade que pretendo entrar na caverna.

– Matilde…

– Sim, Graça?

– Você quer entrar nesse recinto por sua livre e espontânea vontade?

– Eu….

– Por favor, responda sem titubear…

– Sim… eu preciso saber o que tem nesse local…

Izabel aproximou-se do dois, e olhando em seus olhos, falou…

– Muito bem. Nós três iremos protegê-los. Mas tem que seguir nossas instruções….

– Entendo…

– Não, Juvêncio, você não entende. Esse é solo sagrado. Armas não são permitidas aí dentro…

– Deixa eu ver se entendi… vou entrar na boca da fera…. desarmado?

– Estaremos protegendo você e a professora…

– E como…

– Delegado, me desculpe. A única maneira de entrar nesse recinto é seguindo minhas instruções. Nem o senhor irá atacar a entidade, nem a entidade te atacará…

– E se atacar?

– Assim como no plano físico, no espiritual também existem regras. E nós as fazemos cumprir.

Juvêncio ficou alguns segundos pensativo. Ele confiava nas três moças o suficiente para entregar sua vida em suas mãos? Bem, a sua ele até poderia entregar… mas a de Matilde? Será que valeria a pena correr tal risco?

– Juvêncio, tem que se decidir. Se quiser seguir em frente, terá que confiar em nós….

– Dona Matilde… a decisão está em suas mãos…

Matilde olhou para as três moças.  Seus rostos estavam impassíveis, não demonstravam nenhum tipo de emoção. Não havia como saber o que pensavam… ela teria que tomar uma decisão… dependia apenas de sua confiança nas três para que Juvêncio se entregasse, também… mas… e se as moças não fossem realmente confiáveis… e aí?

Matilde ficou alguns segundos pensativa. Então, resolveu confiar em seu instinto….

– Se o senhor confia nas moças, eu também confio. Por mim, vamos em frente.

Tendo recebido o aval da professora, Juvêncio desafivelou seu cinturão e entregou todas as armas que carregava nas mãos das três. Entregou inclusive o punhal de prata, do qual jamais se separava. Matilde fez o mesmo. No final, Izabel guardou todas as armas em uma das muita reentrâncias na parede da caverna…

Quando começaram a caminhar dentro da caverna, Izabel tomou a dianteira. No meio, ficaram Juvêncio e Matilde. Fechando o grupo, Graça do lado direito e Rosa, do esquerdo. As três desenharam um triangulo, onde Juvêncio e Matilde ficaram no centro do mesmo. E recomendaram aos dois que não saíssem dessa formação. 

Caminharam por aquele pedaço pedregoso e escuro por algum tempo. Não demorou muito e logo avistaram uma luz no final do túnel…. e o terreno começou a se modificar, também. De pedras brutas passou para um piso trabalhado. E as paredes pareciam revestidas de mármore, onde desenhos haviam sido esculpidos nas mesmas.

Logo estavam em um grande átrio. Diferente do caminho que haviam feito até ali, todo o lugar era iluminado. E era muito lindo de se ver. A luz, ao refletir na pedra lisa do mármore, refletia mil e uma cores, formando um arco simplesmente lindo, tal a profusão de cores que se espalhavam pelo teto. Matilde ficou simplesmente fascinada pelo espetáculo.

Durante a caminhada Juvêncio acabou indo muito para a esquerda, no que foi prontamente repreendido por Graça, que estava logo atrás de nosso amigo, pedindo ao mesmo voltar à formação original…

– Delegado, só poderemos protegê-lo se ficar dentro de nossa zona de segurança. Enquanto o senhor estiver dentro do triangulo que formamos, nada te acontecerá… agora, se sair da trindade…

– Por que?

– Por que o que? 

– Você me entendeu…

– E o senhor, também. Estamos nos domínios de Anhangá. Nós somos imunes a ele. O senhor, não. Então, por favor, nos escute…

Continuaram a caminhar por mais algum tempo, quando então chegaram em um local que poderíamos chamar de “sala do trono”. Alguns guardas armados de lança perfilavam-se por todo o corredor e, no centro, um trono, onde um homem de compleição robusta estava sentado. Tinha um ar de enfado. Quando os recém chegados se aproximaram do trono, ele levantou-se e desceu até o nível em que estavam.

Juvêncio ficou admirado. Aquele homem de ar majestoso em nada lembrava o vampiro que ele perseguira noites atrás. Alto… deveria ter, tranquilamente, uns dois metros de altura, se não mais. Porte atlético, musculoso. Lembrava as gravuras que vira do Hércules, em alguns livros na biblioteca. Cabelos loiros, tão amarelos que chegavam a ferir a visão, tão brilhantes eram. Olhos de um azul profundo, que lembrava as águas a correr pelo leito do rio. Sim, o estranho tinha um ar garboso…

Matilde ficou fascinada pelo estranho. Ele tinha uma beleza ímpar. Seu olhar era hipnotizante. Aquele queixo forte, emanando masculinidade… e os bíceps? Nossa, o homem simplesmente não existia (o pior é que não existia mesmo, ao menos nesse plano), tal a perfeição de seu corpo e rosto. Sim, podemos dizer que, em uma situação normal, Matilde se atiraria aos pés daquele homem formoso… 

Ele desceu de seu trono, como eu havia dito. Deu uma volta, circulando o grupo, estudando a formação do mesmo. Não se aproximou muito do grupo… ficou mais ou menos uns dois metros deste… aparentemente não podia aproximar-se mais que isso. Olhou para as três Marias. Seu olhar era de surpresa, como se não esperasse vê-las ali. E em seu olhar havia a sensação de que as reconhecia de outras eras, de outros tempos…

Parou em frente ao grupo e começou a examinar Juvêncio, da cabeça aos pés. Depois de algum tempo, balançou a cabeça, como se não acreditasse que aquele homem fora o responsável por seu recolhimento precoce. Não havia ódio ou raiva em seu olhar… apenas incredulidade. Colocou a mão direita sobre seu ombro esquerdo e foi a primeira vez que o grupo notou um ar de desconforto do mesmo… mas foi uma ação muito rápida.

Foi aí que Juvêncio percebeu que um de seus disparos havia atingido o ombro de seu oponente. Mas tinha uma coisa que ele ainda não compreendera… o ser ao qual deu combate era coberto de vermes… esse ser que estava à sua frente estava bem trajado, com roupas riquíssimas, bordadas com fios de ouro. Era difícil de acreditar que este era o vampiro que ele cassara incessantemente. Mas Juvêncio tinha consciência de que esse realmente era o inimigo que perseguia.  E lembrou-se de que tudo que via no momento era resultado da magia….

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Reflexões

Brincar de “Poliana”

A batalha da vida

Quem somos nós?

Patrocínio