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sexta-feira, 3 de maio de 2024

Walküren – As Três Marias

Capítulo Cinquenta e Nove

Já estavam avançando a mais de meia hora pela mata fechada, quando finalmente ouviram o barulho da queda d’água… seu destino estava próximo. O ar estava mais úmido… o rio não estava longe. As poças d’água começavam se formar no chão. E o frio… sim, devido ao fato das árvores serem tão próximas, e a penumbra constante, o local era muito frio. O cheiro da vegetação, misturado com a terra, dava um ar diferente ao local…

Durante a caminhada, Matilde quase pisou em uma serpente que passava pela vegetação. Juvêncio a parou a um passo de acertar o animal, que não lhe deu a menor importância e continuou em frente. Os grilos faziam seu barulho característico… uma ou outra borboleta esvoaçava por seu caminho. A sinfonia dos pássaros deixava o lugar menos lúgubre, e até algumas cigarras se aventuravam, mesmo naquele local em que a luz simplesmente se fazia ausente.

Finalmente chegaram à margem do rio. Quer dizer, chegaram próximo… pois a vegetação era de tal forma tão emaranhada, como o cabelo quando não é penteado constantemente e fica todo embaraçado, que não era possível se aproximar realmente da margem do rio. O quinteto deu uma olhada no local e decidiram que o melhor lugar para começar suas pesquisas estava a uns quinhentos metros à frente… a cachoeira ainda estava fora do alcance da visão, mas seu barulho indicava que não estava assim tão longe…

O facão foi liberando o caminho para o grupo e, de metro em metro, finalmente chegaram ao local desejado. Examinaram ambos os lados do rio, observando cada detalhe, tentando notar algo de diferente em sua formação. Sabiam que dificilmente identificariam o que procuravam logo em um primeiro olhar… afinal, o que estavam procurando havia sido abandonado a, no mínimo, algumas centenas de anos…. mas como dizem, a esperança é a última que morre…

Continuaram a caminhar em direção a queda d’água, atentos a cada detalhe que surgia em sua frente. Mas nada chamava sua atenção, o que significava que ainda não haviam encontrado o que procuravam. Mas tinham certeza de que estavam no lugar certo e, mais cedo ou mais tarde, se deparariam com aquilo que confirmaria suas teorias.

Juvêncio continuou manejando o facão, liberando a trilha junto ao rio. Em um dado momento, pensou ter visto algo diferente. Desafivelou seu cinturão, tirou as botas e a camisa. Então saltou nas águas do rio, tentando confirmar aquilo que imaginou ter visto. Nadou até o meio, entre as duas margens. Então mergulhou, como se fosse um boto. Ficou debaixo d’água mais ou menos uns dois minutos. As quatro moças já estavam apreensivas com a demora do delegado em emergir… mas logo ele retornou à superfície. Com braçadas vigorosas, logo estava de volta à margem.

– Porque isso, Juvêncio?

– Eu precisava confirmar algo que vi….

– Uma caverna…

Era Izabel falando…

– Sim Izabel… era uma caverna… mas você já sabia, não é mesmo?

Izabel limitou-se a sorrir. Sim, ela realmente sabia da existência daquela caverna submersa. Assim como sabia, de antemão que não era aquela a passagem que Juvêncio procurava. Não sabia como podia ter certeza disso. Somente sentia… mas não ia contar isso para o delegado. Não podia. Ele teria que descobrir sozinho.

– O que vai fazer agora, Juvêncio?

– Não tenho certeza. Mas acho que devemos seguir um pouco mais em frente.

– Não vai investigar a caverna que encontrou?

– Mais tarde. Agora estou mais curioso quanto a cachoeira…

– Não deve estar longe… afinal, o que não falta na região são morros.

– Pelo menos aqui no rio dá para ver o céu… e, sim, acho que a cachoeira não está muito longe… logo vamos alcançá-la…

– E essa caverna?

– O que tem ela?

– Não vai… mergulhar novamente?

– Depende do que a gente encontrar mais para a frente…

Dito isso, Juvêncio calçou suas botas, afivelou o cinturão e pegou novamente o facão, para continuar a liberar a trilha. Logo avistaram a cachoeira, depois de uma curva que o rio fazia mais à frente. Não era uma queda muito grande. Três metros, no máximo. Mas de onde estavam, dava para perceber que várias quedas formavam o curso do rio, como se fossem uma escada…

– Acho que o que procuramos está em um desses níveis…

– E porque acha isso?

– Ora, é óbvio.  Um templo debaixo d’água não faz muito sentido…

– Porque não? Pode ser que, na época, esse rio não passasse por aqui….

– Acho difícil. As águas não mudam seu curso assim, de uma hora para outra…

– Mas estamos falando de um grande transcurso de tempo…. de repente, quando tudo aconteceu, esse rio nem existia!

– Pode até ser, mas não acredito muito nisso. É por isso que penso que o que buscamos pode estar em um desses intervalos da queda das corredeiras…

– E por que você acha isso?

– Simples… esse rio é antigo…. dificilmente alguém iria mergulhar nas águas para prestar homenagem a quem quer que fosse…

– Eu não sei… talvez você tenha razão…

– Então vamos em frente….

E continuaram sua caminhada, até que chegaram na primeira queda d’água. Examinaram o local, à procura de uma forma de subir até a próxima plataforma, uma vez que nada que lhes interessasse se apresentava no primeiro nível.

– Moças, tomem cuidado! Algumas vezes, cobras costumam cair pela queda d’água… não é algo muito agradável, principalmente se for uma cascavel ou uma jararaca…

Matilde recuou, apavorada. Graça tratou de acalmá-la…

– Calma, menina… isso pode acontecer, mas não é tão comum assim… fica tranquila…

Começaram a subir com cautela, um passo por vez… depois de uma meia hora estavam em um platô, onde o rio corria tranquilamente, antes da queda abrupta. Cinquenta metros adiante, uma outra queda… desta vez, Juvêncio viu algo que poderia ser o que estava procurando…

O facão não precisou entrar em ação. Como a margem das águas tinha uma faixa de areia a separando da mata, o grupo pôde desbravar o local com mais tranquilidade. Podiam apreciar cada pedaço daquela praia fluvial. Claro que não era recomendável tentar nadar naquele trecho do rio, pois as águas se precipitavam com muita violência para baixo…. mas dava para molhar os pés…

O que realmente interessava ao Juvêncio era a mancha escura que avistou atrás da cachoeira… será que finalmente tinham encontrado a tão procurada entrada para o tal templo? Ele esperava que sim…

Juvêncio não conseguia controlar sua excitação… examinou todo o redor da cachoeira e constatou que nada de anormal havia para se preocupar… começou a explorar a queda, propriamente dita, e percebeu que, sim, havia uma caverna que ficava protegida pelas águas que caiam. E ela tinha algo peculiar… era possível acessar a entrada sem molhar os pés nas águas do rio, uma vez que existia uma trilha que conduzia até lá, um pouco mais elevada que o nível da queda d’água…

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

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