29.6 C
São Paulo
segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Meu corpo tem memória e dele eu não posso fugir

Hoje eu acordei com um nó no peito, no estômago e um amargor na boca. Exatamente, do nada. Motivos? Só se durante meus sonhos tiverem um evento estressor que não me recordo. Mas sim, acordei com nó no peito que atingiu a boca do estômago seguido de um nó na garganta. Tenho sentido uma tremedeira interna em todo o meu corpo, algo que vem de dentro, que só quem sente sabe.

Quando levantei da cama, percebi que seria um dia de sol muito quente, então recordei de Manaus. Ao sair da casa, peguei minha bicicleta para ir ao trabalho, mas, ao longo do caminho, eu comecei a sentir um cheiro que não era das ruas ou das árvores, mas sim de uma sala que eu frequentava enquanto trabalhava em uma agência de propaganda na minha cidade natal, em meados de 2016. Esse cheiro me trouxe lembranças de um período traumático da minha vida. Eu amo o sol, mas o sol de hoje seguido desse cheiro não está me trazendo boas sensações.

Ao chegar no trabalho, o cheiro se intensificou ainda mais, e eu senti um enjoo ansioso, incontrolável, que esmaga meu estômago e retorce minhas entranhas. Meu nariz não é o culpado, mas sim o meu inconsciente, que tem memórias que eu não sou capaz de contabilizar, muito menos saber. Memórias que, em dias como esse, se tornam tão fortes que me fazem sentir cheiros e sensações que eu preferia esquecer.

No entanto, por algum motivo ele quer que eu recorde, e eu sei porque, porque o trauma uma vez instalado, ele jamais vai embora, o que me resta é aprender com a terapia a criar mecanismos para diminuir sua influência em mim, mas ir embora? Depois de um longo período de análise, descobri que embora, ele não vai. Pode até aquietar, mas enquanto eu o negar, tentar enterrar, esquecer, ele sempre voltará como um morto-vivo que se recusa a ficar soterrado. Me traz o famoso medo sem nome, que surge como uma angústia tão forte, que engasga e sufoca. Em dias de chuva e céu nublado, é batata! A angústia chega e se instala por um dia inteiro.

Por isso sempre digo a todos que tentam fugir das suas dores, traumas e medos:

  • Você até acha que consegue escapar, mas enquanto estiver se distraindo com algo que você considera um escape, seus traumas estão crescendo e se tornando um monstro que um dia será capaz de te engolir. Não haverá filme, bebida ou vídeo game que possa salvá-lo.

O que aconteceu hoje não foi um evento isolado, essas sensações voltam e meia me visitam, trazendo essa agonia e desespero. Foi então que eu percebi que não importa o quanto eu tente me enganar me distraindo de mim. O meu corpo tem memória e ele sempre vai me mostrar que eu não superei aquele trauma. Se é que dá para superar um trauma.

Autora:

Juliana Sena. Redatora Publicitária – Escritora no blog: O Mundo de Ju Wix. Gosta de escrever crônicas sobre o seu mundo: onde tudo é possível e toda dor é sublimada. Siga seu trabalho nas redes sociais através do Instagram: @juprimavera_

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio