Réquiem para um Sonho” é, em seu princípio, um filme sobre vício, e sobre como ele consegue destruir tudo que, supostamente, construir. O filme aborda esse fator em seus diversos núcleos. Desde a história da mãe de Harry em busca de emagrecer para se encaixar em seu vestido – ou melhor, em seu sonho -, até a incessante busca de Harry e Marion por cada vez mais e mais drogas para seu negócio, e até o quão longe os dois pretendem ir para consegui-las.
A direção habilidosíssima de Darren Aronofsky consegue sintetizar muito bem todos os sentimentos envolvidos na construção dos personagens, além de criar um cenário perturbador, cruel, brutal, aterrorizante, agonizante e traumatizante que transmite todo o horror absurdo do caminho sombrio em que o vício irá guiar os personagens. 
Em certos momentos, é nítida uma veia de um certo surrealismo lynchiano na direção de Aronofsky, em especial nas cenas envolvendo a mãe de Harry. Apesar de funcionar muito bem na trama – em especial, no final do filme -, tais elementos em alguns momentos revelam até certo teor de ridículo. Talvez faça parte da estrutura estético-narrativa proposta por Aronofsky, mas eu percebi tudo aquilo como, talvez, um conjunto de efeitos especiais que envelheceram mal e que tiravam um pouco do peso das cenas da velha. Ademais, todo o desenvolvimento da personagem – assim como o dos outros protagonistas – é sensacional. Do início ao fim. 
É difícil dizer qual dos personagens principais teve um destino pior. Vale ressaltar que a sequência final mistura uma – suposta – delicadeza e fineza ao retratar a preparação de Marion para uma das cenas mais perturbadoras vivenciadas pela personagem, enquanto ao mesmo tempo apresenta o ápice dramático dos outros personagens. Uma sequência magnificamente chocante, que finaliza com uma singela mensagem introspectiva que conecta emocionalmente todos os núcleos dos personagens principais. 
Réquiem para um Sonho” é tudo aquilo que promete ser. Impactante, perturbador e traumatizante, mas com uma delicadeza sublime, e um singelo toque emocional que conseguem desenvolver uma alma única ao filme.

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