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terça-feira, 23 de abril de 2024

102 anos de Paulo Freire: 3 documentários para celebrar o Patrono da Educação Brasileira

Em 19 de setembro, comemoraríamos o 102º aniversário de Paulo Freire (1921-1997), Patrono da Educação Brasileira. Mesmo decorridos 26 anos desde seu falecimento, as ideias desse grande educador continuam a servir como um alicerce fundamental para escolas e universidades que enxergam a sala de aula como um meio essencial para promover a transformação social.

Freire cursou Direito na Universidade do Recife, que hoje é conhecida como Universidade Federal de Pernambuco. No entanto, ele optou por não seguir a carreira jurídica e, em vez disso, dedicou-se ao ensino da língua portuguesa, focando sua carreira na educação. Em 1963, ele realizou uma experiência pioneira de alfabetização de adultos em Angicos, no Rio Grande do Norte. Infelizmente, o programa, que tinha planos de expansão nacional, foi interrompido devido à Ditadura Civil Militar, que durou de 1964 a 1985.

Após ser preso e exilado, ele partiu rumo ao Chile e, posteriormente, aos Estados Unidos, onde lecionou na Universidade Harvard. Foi no exterior que ele produziu suas obras mais importantes. Com a anistia concedida pela Lei nº 6.683, de agosto de 1979, ele retornou ao Brasil. Em 1989, assumiu o papel de Secretário Municipal de Educação de São Paulo (1989-1991) ao lado de seu discípulo, Mario Sergio Cortella, durante a gestão de Luiza Erundina (1989-1993), que na época estava no Partido dos Trabalhadores (PT). Ele permaneceu nessa função até 1991.

Na mesma época, na cidade de São Paulo, nasceu o Instituto Paulo Freire com a missão de disseminar e aprofundar os conceitos e visões desenvolvidos por ele. Até os dias atuais, o instituto mantém a guarda dos arquivos pessoais desse ilustre pedagogo e também se envolve ativamente em diversas iniciativas voltadas para a preservação de seu legado intelectual, bem como para sua influência nas questões educacionais, tanto no contexto brasileiro quanto global.

Paulo morreu de um ataque cardíaco em 2 de maio de 1997, às 6h53, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a complicações em uma operação de desobstrução de artérias.

Seu trabalho é amplamente reconhecido em todo o mundo, com títulos honorários concedidos por 41 instituições de ensino, incluindo universidades de renome como Harvard, Cambridge e Oxford. Em obras notáveis, como o icônico “Pedagogia do Oprimido”, o intelectual enfatiza o papel fundamental da educação no processo de conscientização das pessoas e na promoção do desenvolvimento do pensamento crítico.

Freire concebia a educação como uma ferramenta para a emancipação tanto individual quanto social. Ele sustentava que todo processo educacional deveria iniciar-se a partir da realidade do próprio aluno. Além disso, enfatizava a importância da horizontalidade, o que significa não apenas a oportunidade de os alunos aprenderem com os professores, mas também o inverso, ou seja, a possibilidade de os professores aprenderem com os alunos.

Para Walter Kohan, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e autor de “Paulo Freire mais do que nunca: Uma biografia filosófica”, este notável educador conseguiu sintetizar várias tradições educacionais de sua época e expressá-las de maneira extraordinariamente poderosa, algo que ninguém mais havia conseguido.

Por sua vez, Sérgio Haddad, biógrafo de Freire e autor do livro “O educador: um perfil de Paulo Freire”, destaca a convergência do trabalho de Freire com o “espírito da época”, apresentando uma pedagogia voltada para a liberdade em um momento marcado pela Guerra Fria e por ditaduras na América Latina.

Em uma entrevista concedida à Edison Veiga da DW Brasil, para a reportagem “Por que a extrema direita elegeu Paulo Freire seu inimigo”, o sociólogo Abdeljalil Akkari, da Universidade de Genebra, afirmou que a essência da obra de Freire é fundamentalmente política, no sentido mais elevado da palavra, não se referindo à política partidária. É por essa razão que, em todas as partes do mundo, sua obra é reconhecida como algo de grande interesse para a reflexão sobre o futuro da educação contemporânea.

Ítalo Francisco Curcio, professor do curso de pedagogia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, compartilhou com Veiga que muitos daqueles que rejeitam Paulo Freire geralmente não têm expertise na área da educação. Ele observou que essas pessoas frequentemente repetem declarações propagadas por líderes com os quais se alinham, e considerou essa situação bastante prejudicial. Em sua perspectiva, essa discordância acaba afetando a própria população, desde as crianças até os adultos.

Na mesma entrevista, o educador Daniel Cara, que é professor da Universidade de São Paulo e líder da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, destacou que a pedagogia freireana tem como objetivo capacitar cada indivíduo a descobrir sua própria voz. Isso, por sua vez, permite que eles adquiram a capacidade de interpretar o mundo ao seu redor e se expressar diante dele. Essa abordagem é notável por sua ênfase na promoção da autonomia e da esperança, sendo considerada libertadora no sentido de empoderar as pessoas para que possam se libertar das opressões que tentam silenciá-las.

Por fim, é relevante mencionar que neste ano foi anunciada a cinebiografia “Angicos”, na qual o ator Wagner Moura assume o papel de Paulo Freire. O filme é descrito como uma sincera homenagem a Paulo Freire, que acreditava que a educação era uma poderosa ferramenta de libertação capaz de transformar a sociedade. “Angicos” vai contar a história do experimento pedagógico realizado pelo educador em 1963, na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte. Nesse experimento, Paulo Freire conseguiu alfabetizar cerca de 300 pessoas em apenas 40 horas.

O argumento do filme, desenvolvido com a consultoria da família de Paulo Freire, foi elaborado por Felipe Hirsch, também responsável pelo roteiro de “Severina”. A cinebiografia ainda não possui uma data de lançamento definida.

Abaixo, conheça o grande Paulo Freire em três imperdíveis documentários:

Paulo Freire – Contemporâneo (2006), de Toni Venturi

Um tocante documentário para a TV sobre o pensamento e a antropologia do pedagogo Paulo Freire. O filme atualiza Freire, mostrando as experiências educacionais atuais nas mais afastadas regiões do Brasil e como seu revolucionário método de alfabetização vai tirando os excluídos.

De Pé no Chão se Aprende a Ler (1961), de Heinz Forthmann

A campanha foi criada em Natal em fevereiro de 1961, sendo prefeito Djalma Maranhão e Moacyr de Góes secretário de educação, implantou o ensino primário para criança nos bairros pobres, em escolas de chão batido, cobertas de palha e metodologia inovadora. Valorizou as festas, músicas e danças populares e instalou bibliotecas populares, praças de cultura, museus de arte popular. Ampliou-se com a alfabetização de adultos pelo Sistema Paulo Freire e pela campanha De Pé no Chão também se aprende uma profissão.

Paulo Freire, 100 anos (2021), TV Cultura

Na semana em que se comemoram os cem anos de nascimento do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, a TV Cultura exibiu um documentário inédito sobre o educador, produzido pelo departamento de jornalismo da emissora.

Apresentado pelo jornalista e na época diretor de jornalismo da TV Cultura, Leão Serva. “Paulo Freire, 100 Anos” traz os principais estudiosos da obra do educador para explicar a sua importância e, ao mesmo tempo, os motivos dele estar sendo vítima de tantos ataques extremistas.

Vanderlei Tenório Pereira
Vanderlei Tenório
Vanderlei Tenório é jornalista, professor de atualidades no cursinho popular Emancipa, colunista, correspondente freelance de veículos portugueses (Cinema Sétima Arte e Central Comics) e foi bacharelando em Geografia (IGDEMA/UFAL).

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