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sexta-feira, 26 de abril de 2024

A taça de cristal

Capítulo Sessenta e Sete

Pela primeira vez, depois de muito tempo, Helena sentia-se descansada. Era como se, de repente, um escudo a envolvesse, protegendo-a de todos os percalços que costumavam afligi-la. Sim, desde que colocara o pingente ofertado por Cecília, uma paz indescritível tomou conta de seu ser. Sua noite de sono foi tranquila, serena… os pesadelos simplesmente sumiram, como que por encanto. Sonhou novamente com Oscar, nesta noite. Como sempre, ele se apresentou sereno. Mas, diferente da última vez, quando a alertou para possíveis problemas que enfrentaria, desta vez a orientou a procurar aprender a usar seu amuleto. Sim, foi assim que ele se referiu ao pingente que a moça usava quando conversavam naquele que convencionaram chamar de “Jardim do Infinito”. O lugar, desta vez, era aprazível. Não tinha aquele ar de terror e mistério da última vez. Não. Era um local que transmitia paz de espírito para a moça…

– Então você encontrou sua runa da sorte…

– Minha o que?

– Este amuleto que você traz no pescoço…

– E isso é isso que você está dizendo?

– Sim… isso é uma runa… se olhar do outro lado, verá uma inscrição… nela encontrará seu destino.

Helena, curiosa olhou os dois lados da peça. Notou que o “R” havia sumido e, em seu lugar, havia uma inscrição em uma língua para ela desconhecida. Voltou-se para Oscar, novamente…

– Sabe o que está escrito aqui?

– Não. Cada runa tem uma mensagem que apenas a pessoa a quem ela é direcionada pode decifrar. A única coisa que posso te dizer com certeza é que você é uma Walkyria…

– Sou uma o que?

– Um dos três anjos da Morte…

– Uhn? Está brincando comigo, não é mesmo?

– Não. De tempos em tempos as Walküren retornam a este plano para combater algum tipo de perigo místico…

– Está tirando uma da minha cara…

– Pensei que já tivesse entendido que eu não brinco, Helena. Não me é permitido. Não neste plano… 

– Tá… então sou uma Walkyria… seja lá o que for isso… e…?

– Você não sabe o que é uma Walkyria?

– Não. Deveria?

– Acho que não… afinal, elas pertencem a uma outra cultura… você está mais familiarizada com a cultura greco-romana…

– Está falando de mitologia?

– Não. Estou falando de um outro mundo que a poucos é dado conhecer… e nem sempre é uma benção abrir as cortinas deste mundo oculto…

– Está bem… mas sobre o que você queria me falar, desta vez?

– Vou lhe transmitir uma mensagem…

– Tá… e que mensagem é essa?

– Unidas, são invencíveis! Separadas, serão derrotadas.

– Hein?

– Essa é a mensagem. Mais não posso dizer…

– Mas que diabos de mensagem é essa?

– É a que me mandaram transmitir. 

– Não entendi uma palavra….

– Vai entender no tempo certo… de qualquer forma, cuide da sua irmã. Ela ainda corre perigo.

– Quem corre perigo?

– Você sabe de quem estou falando… agora tenho que partir…

E Oscar foi se desvanecendo na frente de Helena, que a tudo assistia de boca aberta, pela surpresa apresentada. Afinal, ele nunca havia desaparecido dessa forma, antes… geralmente ela acordava, quando a conversa acabava… mas desta vez, continuou em seu estado onírico…

Helena levantou-se do banco de pedra onde se encontrava e começou a caminhar pela campina. As flores perdiam-se de vista. E havia todos os tipos… dálias, rosas, lírios, sempre-vivas, palmas… de todas as cores e tamanhos. O perfume que estas flores exalavam era algo inebriante. Helena sentia-se em paz, caminhando entre as flores daquele imenso jardim… enquanto caminhava, notou ao longe a silhueta de duas pessoas que se aproximavam. Forçou a vista, na tentativa de identificá-las, mas ainda estavam muito longe. Depois de algum tempo finalmente conseguiu ver quem eram… e a surpresa estampou-se em seu rosto… eram suas irmãs que se aproximavam. A surpresa se devia ao fato de que Helena estava ciente de que continuava dormindo em sua cama, que estava tendo um sonho. E nesses sonhos nunca havia visto suas irmãs… era a primeira vez que tal fato acontecia… enfim, vai entender, não é mesmo? O mundo de Mr. Sandman é cheio de surpresas…

Depois de algum tempo, as três se reuniram. Olharam-se, não trocaram nenhuma palavra. Simplesmente se deram as mãos e assim começaram a caminhar em direção ao Leste. Motivo? Helena não sabia. E tinha certeza de que suas irmãs também não. Mas seguiram em frente…

Depois de muito caminharem, chegaram até uma construção de madeira… lembrava um pouco uma capela… era um templo. Não um templo cristão, mas era um local de adoração… as três chegaram, empurraram a porta e entraram. O salão era grande, e sua decoração era austera… nada comparada as igrejas que as três estavam acostumadas a frequentar. Não havia bancos dispostos no salão. No centro, um altar. As três permaneceram ali por alguns momentos, sem entender bem o estavam fazendo. Depois de algum tempo saíram do local, caminhando novamente pelo grande jardim que se descortinava a sua frente. E assim seguiram caminhando. Até o momento, nenhuma delas pronunciou uma palavra que fosse. Apenas trocavam olhares entre elas…

Enquanto caminhavam em direção ao Oeste, por alguns instantes Helena desviou o olhar, para apreciar o pôr do sol. Quando voltou seu olhar para onde suas irmãs a acompanhavam, descobriu-se sozinha… elas haviam desaparecido, simplesmente. De certa forma, não estranhou. Afinal, era seu sonho… suas irmãs não deveriam estar presentes nele. E continuou a caminhar. E, aos poucos, foi acordando… Cecília também acordava neste momento… as duas, quando se sentaram na borda da cama, falaram ao mesmo tempo…

– Menina, que sonho estranho eu tive…

Se olharam espantadas. Depois, riram juntas… Cecília fez sinal para que a irmã falasse primeiro…

– Sonhei que nós três estávamos caminhando por um imenso jardim… e acabamos visitando um templo antigo…

– Acredita quer sonhei a mesma coisa?

– Essa não! Só falta a Estela ter sonhado também…

– Duas pessoas terem o mesmo sonho ainda passa… mas três… acho difícil…

Dito isso, trataram de fazer sua higiene matinal, se trocaram e foram tomar seu desjejum… o dia estava para começar… e parecia ser um dia muito lindo…

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

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