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sexta-feira, 26 de abril de 2024

A taça de cristal

Capítulo Sessenta e Seis

Cecília estava de pé, olhando para a relva verde que se abria a sua frente… era como se fosse um oceano… não se conseguia ver onde terminava aquela vegetação. Estava parada, de pé, segurando seu cavalo pelas rédeas… engraçado… desde quando ela montava? Não conseguia se lembrar. De qualquer forma, apesar de não saber desde quando se tornara uma amazona, tinha certeza de que poderia cavalgar sua montaria sem medo. Continuava fitando o horizonte… não sabia explicar exatamente porque… simplesmente sentia que deveria permanecer ali…

Depois de algum tempo ouviu um tropel e virou-se… eram suas irmãs que se aproximavam… engraçado vê-las vestidas de vaqueiras… Estela trazia, junto à sua sela, um chicote… desde quando ela sabia manusear um chicote?! E Helena… trazia um laço. As duas estavam portando um cinturão, e dois coldres, cada uma. E, claro, em cada coldre, um revólver. No coldre preso à sela, um rifle… Cecilia olhou para seu cavalo… ele também trazia um coldre preso à sela, e no mesmo, um rifle. E, como suas irmãs, portava dois revólveres… era estranho, ao mesmo tempo que parecia perfeitamente normal… as duas se aproximaram, apearam e seguiram em sua direção…

– Achou alguma pista?

– Eles se dividiram… um foi para Leste… os outros cinco seguiram rumo a Estrada do Ouro…

– O que será que pretendem?

– Não faço ideia… mas acho que uma de nós deveria seguir o que está sozinho…

– Não me parece uma boa ideia…

– Por quê?

– Lembra do que o Juvêncio falou? Que jamais deveríamos nos separar?

– Mas é um só… eu acho que deveríamos capturá-lo… se conseguimos, mesmo que os outros consigam escapar, pelo menos teremos um deles…

– Continuo achando que não devíamos…

– Graça, eu sei que você é cuidadosa, mas acho que consigo pegar ao menos esse fugitivo… e você e a Rosa vão atrás do resto do bando… e assim, que eu puder, vou dar apoio a vocês…

Cecília não entendeu muito bem porque chamou Estela e Helena de “Graça” e “Rosa”…. mas lhe parecia perfeitamente normal chamá-las assim…

– Tudo bem, sua cabeçuda… você não quer ouvir a razão…

– Acho que a Maria já se esqueceu de seus filhos, que a estão esperando… só pode…

– Deixa de ser chata, Rosa… depois que cumprirmos essa missão, pretendo ir visitá-los…

– Já estava na hora… a quanto tempo não os vê?

– Uns cinco anos, eu acho…

– Será que eles ainda se lembram de você?

– Graça, deixa de graça… é claro que se lembram… sempre que posso, mando alguma lembrancinha para eles… mas vocês sabem que a gente não tem tempo para viver nossa vida…

– Eu sei… vamos fazer assim… você vai ficar com as nossas partes da medalha, está bem?

– E por que eu faria isso, Rosa?

– A gente não deveria se separar… como você é cabeça dura, pelo menos leve a medalha completa…pode ser que ajude…

E assim as três moças tiraram um amuleto que carregavam no pescoço, juntaram as peças fazendo um único medalhão com as mesmas… Cecília a colocou no pescoço….

– Será que terá o mesmo efeito?

– Espero que sim…

– De qualquer forma, não se esqueça de uma coisa, Maria… esse amuleto não pode cair em mãos erradas…

Cecília ia dizer alguma coisa, mas tudo começou a girar ao seu redor. Então, de repente, viu-se em sua cama… sentou-se, e ficou pensando em seu sonho… que coisa estranha… chamar suas irmãs por outros nomes… ser mãe de crianças que não visitava a mais de cinco anos… balançou a cabeça, como se para espantar as imagens que teimavam em permanecer em sua mente… Helena continuava a ressonar tranquilamente ao seu lado… Cecilia tirou sua medalha do pescoço e começou a examiná-la… tocou em determinadas partes da mesma e ela simplesmente dividiu-se em três… e cada uma das partes tinha impressa em sua face uma letra… I, R e G… pelo que ela entendeu, a peça com a letra I lhe pertencia…  letra G era de Estela e a R, de Helena…

Helena acordou e ficou olhando sua irmã, sentada na cama, olhando suas mãos… ficou assim por alguns minutos, até que a curiosidade foi mais forte…

– Perdeu o sono, Cecí?

– Uhn? Oh, não… na verdade acabei de acordar de um sonho…

– E foi legal?

– Na verdade, foi bem estranho…

– Por que?

– Lembra que te falei que tinha tido um sonho tipo “Rápida e Mortal”?

– Claro que sim… foi depois disso que você entrou em depressão…

– Eu não entrei em depressão… 

– Claro que não… quem ficou deprimida fui eu…

– Não, falando sério…

– Eu sei, estou brincando contigo…

– Então, no meu sonho…

– O que é que tem?

– Você e a Estela estavam nele…

– Sério?

– Sim… e me entregaram sua parte do medalhão…

– Para me proteger, disseram… lembra que você disse que essa medalha parecia um dobrão?

– Claro…

Cecília abre a mão e mostra as três peças para a irmã…

– Como você…

– Aprendi no sonho… e, pelo que entendi, uma dessas peças é sua…

– Tá de brincadeira comigo, não é?

– Não, é sério… essa, com a letra R é sua…

Helena olhou meio torto para a irmã, mas pegou a peça que lhe era ofertada. Quando ia perguntar como faria para usar aquilo, percebeu que o pingente tinha uma corrente dourada. Colocou-o em seu pescoço….

– Até que é bonito… 

Cecília acendeu a luz do quarto…

– Acho que vou chamar a Estela…

– Está louca, menina? Deixe a nossa irmã dormir…

– Não posso… é uma coisa muito importante para mim…

E Cecília levantou-se e dirigiu-se para o quarto da irmã caçula… quando ia bater na porta, essa se abriu, e uma Estela ainda sonolenta dirigiu-se a ela…

– O que você quer, Cecí?

– Que venha comigo para o meu quarto…

– Tá bom, mas vamos rápido, senão a bebê pode acordar…

E as duas foram se encontrar com Helena….

– Então você acordou mesmo a Estela… Cecí, você não tem jeito…

– O pior é que ela não me acordou… eu despertei sozinha e senti que tinha que abrir a porta… 

– Engraçado… eu também acordei de repente…

– Estela, você não vai acreditar… 

– No que é que não vou acreditar, Ceci?

E Cecília estendeu-lhe o segundo pingente. Estela olhou, incrédula, para o ornamento…

– Onde você arrumou isso, menina?

– Acredite ou não, é o medalhão que eu encontrei… descobri que ele pertence a nós três…

– Como assim?

– Não sei explicar… mas nós três temos que ficar juntas, para sei lá o que funcionar?

– Como assim?

– Eu já disse… não sei… mas esses pingentes são um tipo de proteção que só funciona se as três estiverem próximas…

E Estela e Helena trocaram um olhar como quem diz “não entendi foi nada”… e cada uma voltou para sua respectiva cama… dormiram tranquilas o resto da noite, só acordando de manhã, quando desceram para tomar seu desjejum e cada uma seguiu seu destino…

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

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