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quarta-feira, 1 de maio de 2024

Casa de vó

Na infância de muitos de nós, o vermelhão era presença garantida na varanda e às vezes até no chão de dentro da casa de uma avó, tia ou conhecida das nossas mães. Era a cerâmica do pobre. Era o que dava para ter. Às vezes, as casas também tinham pisos de caquinhos na cozinha, área ou nos dois ou três degraus que levavam de um desses locais até o outro. O filtro de barro também sempre estava num cantinho da cozinha ou “lá fora”. Em tudo predominava a cor vermelha, inclusive nas listras do filtro. Não sei o motivo, mas me recordo bem que era assim, até os estofados tinham essa cor.

A sala da casa das nossas avós sempre tinha uma estante com uma televisão, uma bíblia, uma santinha e umas peças de louça, na parede, um ou mais quadros: de um circo, um palhaço, Jesus, Maria e fotos do seu casamento com vovô. Um grande relógio de pêndulo que quase matava a gente de susto quando fazia aquele barulhão de hora em hora também não podia faltar, assim como aquela cadeira de balanço de assento e encosto em vime.

Algumas avós gostavam de tomar café com aquele pão de sal fresquinho que acabou de sair na padaria e depois juntar os farelos com a faca de serrinha até formar um montinho, outras gostavam de ficar coçando a cabeça com o dedo médio enquanto mordiscavam o lábio e tinham aquelas que entrelaçavam os dedos das mãos e ficavam girando os dedões, um sobre o outro, para a frente e depois para trás.

Era comum as famílias serem bem grandes, as avós tinham muitos filhos e o dobro ou o triplo de netos. A criançada se reunia naquela casa lotada de gente e começava a correr, brincar, brigar, fazer as pazes, cair, se machucar e deixar a avó maluca. Em toda casa de vó era assim e, apesar de às vezes não demonstrarem, elas adoravam essa bagunça, afinal de contas, éramos todos delas. Filhos e netos delas. Pertencíamos a elas. Agora elas é que são nossas. Dentro de nossas cabeças, elas pertencem às nossas memórias.

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