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quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Redes sociais – do eufemismo à crítica escancarada, e o adoecimento emocional

Um sucesso

Quem hoje em dia não participa de alguma rede social? 

O Brasil hoje tem cerca de 67 milhões de adeptos do Facebook, rede que começou a ser usada em nosso país no ano de 2006. Sucessor do Orkut, que foi criado em 2004, o Facebook é sucesso nacional. 

Sem dúvida, as redes sociais têm conectado pessoas e encurtado distâncias. Além do que, tem servido de acervo para fotos e imagens, além de vídeos e textos. Além disso, posso afirmar que, é praticamente impossível conviver sem acesso a essas plataformas.

E ainda, segundo pesquisa publicada na Folha de São Paulo passamos mais tempo nas rede sociais do que, comendo, lendo, nos exercitando ou interagindos com outras pessoas.

Portanto, isso se torna algo preocupante diante de tanto adoecimento e tantas intrigas que vemos iniciando nas redes sociais e externando-se para a vida real.

Nem tudo é benefício

As crianças, na mais tenra idade,  cobram constantemente seus pais querendo um celular para se conectar à rede. Mas, você já se perguntou quais mudanças as redes sociais trouxeram para nossa vida, e quais os malefícios? Pois é, as redes sociais não trazem apenas benefícios.

O site Medley relata sobre uma pesquisa feita no exterior que demonstra o adoecimento da sociedade através do uso desmedido das redes sociais.

Em um trecho da pesquisa é possível constatar isso, veja: 

Pesquisas sugerem que jovens usuários frequentes de mídia social gastam mais do que duas horas por dia com o uso de redes sociais como Facebook, Twitter ou Instagram irão, provavelmente, relatar problemas de saúde mental, incluindo sofrimento psicológico. Esse tipo de sentimento surge, por exemplo, quando se vê amigos constantemente em férias ou curtindo em festas, o que dá a sensação de que estão perdendo algo.(medley.com.br)

Minha infância

Longe de ser nostálgico, lembro-me muito bem de como foi minha infância sem as redes sociais. Não conhecíamos tantas pessoas “superficialmente” como conhecemos hoje. Na verdade, quando conhecíamos  alguém, era na íntegra, “face a face”.

Atualmente, “desejamos ser quem sequer conhecemos”, e “almejamos possuir aquilo que está em uma realidade totalmente alheia à nossa”. Dai vem as frustrações.

Naquela época, tínhamos contato  uns com os outros e, esse contato, gerava real afeto e carinho, sentimentos necessários para o nosso desenvolvimento.

É claro que não serei demagogo em dizer que os tempos eram melhores e toda aquela “ladainha da nostalgia”, até porque, alcanço você leitor através das mesmas redes.

No entanto, é sempre bom refletir sobre o que éramos, sobre o que somos, e sobre o que queremos ser, e tudo isso, dependerá da forma com a qual usamos o que temos disponível em nossas mãos.

Adoecendo na Rede

Tudo isso que estamos vendo até aqui, sem dúvida, trás adoecimento emocional, tanto a jovens como a adultos.

Evidentemente, as redes sociais trazem em si uma característica muito forte que se incorpora aos usuários, que é a necessidade de pertencimento. Você sabe o que é necessidade pertencimento?

A necessidade de pertencimento foi primeiramente mencionada por Baumeister e Leary (1995), sendo definida como uma motivação que os seres humanos têm para procurar e manter laços sociais profundos, positivos e recompensadores.(scielo.com.br).

O interessante é que muitas vezes imagina-se que alguns laços nutridos nas redes sociais possam ter alguma profundidade, quando na verdade são apenas superficiais.

Outro ponto chave, é que saltamos do eufemismo para crítica escancarada. Dessa forma, os usuários tentam suavizar algumas palavras em suas postagens para não serem vistos como ”indelicados”, para o escancaramento em algumas críticas. Esse eufemismo transmite em algumas ocasiões a falsidade , enquanto a crítica exacerbada demonstra a falta de preparo. Tudo isso, contibui para um debate vazio, o qual demonstra a ausência de uma análise contextual sobre o que se está criticando.

Também encontramos outra definição muito importante no site “vivendo.com” que esclarece muito bem como o ser humano reage a essa condição de pertencimento.

Os seres humanos são seres sociais, isto é, não vivem e/ou se desenvolvem sozinhos. De acordo com o psicólogo americano Abraham Maslow, as pessoas têm necessidade de pertencer a um grupo, amar aos outros e ser amados, o que conhecemos como necessidade de pertencimento.(vivendo.com.br)

Portanto, toda essa necessidade (legítima do ser humano), acaba por aprisioná-lo dentro das redes sociais, onde ele procura afeto verdadeiro, porém, não encontra.

A confusão 

Por uma série de motivos muito pessoais os usuários das redes acabam confundindo algumas reações que recebem em suas postagens como algo mais profundo. Diante disso, é muito importante a salientar algo.

As redes sociais mudaram culturalmente sociedade. Anteriormente às redes, tínhamos álbuns de fotos pessoais, os quais só apresentava-mos aos “mais chegados”, hoje, disponibilizamos a estranhos.

Nossos passeios, visitas que recebemos, e os acontecimentos mais íntimos eram compartilhados apenas com familiares e talvez com amigos, hoje, compartilhamos em uma rede mundial.

Essas atitudes, criadas dentro dessa mudança cultural, tem gerado uma grande confusão.

Essa confusão consiste em nosso desejo de privacidade dentro de uma rede aberta, isso é algo antagônico. Disponibilizamos o diário da nossa vida, porém o nosso desejo é a aprovação em tudo o que fazemos e em tudo que mostramos. Parece um tanto incoerente querer privacidade em um ambiente social, onde estamos sujeitos a críticas das mais diversas categorias.

É claro que, cada usuário tem um contexto social que reverbera sobre o conteúdo que ele disponibiliza nas redes. Alguns, são profissionais expondo seu trabalho, outros, são influenciadores digitais. Temos ainda, aqueles que apenas querem se divertir, os que procuram um relacionamento, mas também aqueles que buscam aprovação social, e esses, são os que mais sofrem dentro da rede. 

A revelação

As redes sociais, diga-se de passagem, vieram em momento oportuno da história da sociedade. Elas têm fortalecido muitos debates acerca de vários assuntos, e ainda, trazido à lembrança muitas coisas que no passado seriam esquecidas facilmente. A exemplo disso, temos discursos de autoridades importantes, e de políticos das mais diversas instâncias legislativas que ficaram gravadas nos acervos dessas redes.

Essas plataformas têm sido instrumento de revelação tanto da sabedoria de alguns como da insensatez de muitos, e tudo isso, em questão de segundos percorre o mundo todo. Elas têm mostrado a contradição em discursos, e através disso trazido luz que nos auxilia, principalmente, em decisões políticas.

O Gran Finale – Regulação da mídia

Inegavelmente, rede social é sinônimo de discussão, de frustração, de encontros e desencontros, mesmo assim, ela tem um papel de suma importância na sociedade quando usada de forma correta. Contudo, ela é capaz de informar, de salvar vidas, mas também de tirar vidas.

Ela é uma ferramenta de informação , mas que também pode estar a serviço da desinformação.

Diante disso, vemos em pauta que, o presidente Lula (PT) afirmou ter recebido um projeto do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), para colocar em debate na sociedade a regulação das redes sociais, com o objetivo de combater a propagação de fake news. (Uol)

Sabemos que esse assunto vem se desenrolando desde 2014, mas nunca chegou a um exato consenso de como regulamentar e punir os infratores sem cercear o direito de liberdade de expressão, também previsto em lei.

O certo é que, enquanto cada um de nós não tiver a consciência de que as redes sociais não são “terra de ninguém”, e que também não é “terra habitável”(tem quem gostaria de morar dentro da rede) , mas só serve de passagem. De fato, muitos de nós irão continuar infringindo o direito alheio, e outros, ferindo seu próprio “eu” , adoecendo pelo excesso de tempo dentro da rede.

Carlos Literato
Carlos Literato
Carlos Literato é Articulista, Graduando em Pedagogia, Psicanalista e Bacharel livre em Teologia.

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