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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

E se fossemos flores?

Faríamos um colorido jardim ou todas teriam que ser rosas?

Imagine que todas as pessoas são flores: existem tulipas, margaridas, girassóis etc. Agora, imagine que as pessoas que trabalham com neurodesenvolvimento fossem rosas e acreditassem que quem não funciona como uma rosa, tem um transtorno, uma doença, algo a ser modificado.

Imagine como seria para um girassol entrando num consultório e descobrindo que não é correto girar no sentido do sol; e que cactos descobrissem que devem tirar seus espinhos e secar a água que armazenam; e se você descobrisse que, por suas pequenas pétalas azuis, há algo de errado com você; como você se sentiria ao te obrigarem a se comportar e parecer-se como uma rosa?

É assim que pessoas neurodivergentes se sentem cada vez que dizem que elas precisam olhar nos olhos ou sorrir mais; que precisam serem mais atentos; que têm que se acostumarem aos sons, abraços etc.; que precisam relaxar com algum tema relacionado ao TOC; que não podem ficar tristes; que são preguiçosos, mortos; etc.

Existem comportamentos que são danosos, como a automutilação, mas a maioria dos comportamentos que criticam e querem obrigar a mudar têm muito mais a ver com as expectativas que os neurotípicos absorveram socialmente e naturalizaram que com problemas reais.

Deixe que crianças, adolescentes e adultos neurodivergentes stimem, pulem, riam, tenham cara sem expressão ou com muita expressão, olhem pro lado, não abracem ou deem longos abraços, dancem… respeitem quando eles precisem ficar a sós, pedem para baixar o volume ou para não se aproximarem com perfume forte, que precisam de mais tempo de descanso, sua maneira de organização e o seu espaço próprio; não tentem que sejam cópias de um modelo que só causa sofrimento.

PS: a analogia das flores é uma proposta do dr. Armstrong para criticar a patologização das neurodivergências. A neurodivergência inclui condições nas quais o cérebro experimenta um funcionamento diferente do padrão, à exemplo do autismo, do TDAH, da superdotação, da bipolaridade etc.

Autora:

Morgana Marinho é ativista neurofeminista, escritora, advogada, historiadora, e pesquisadora latino-americana. Entre os anos de 2020 e 2021 foi identificada como autista e superdotada, aos 34 anos.

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