Todos nós ainda que singelamente em algum momento ou situação nos preparamos para a vida, mas nunca para a morte, aliás, é salutar, reconstruir o conceito e entendimento de morte porque não somos seres humanos que possui espíritos, somos espíritos vivenciando uma experiência humana, logo a morte não existe, porém o que chamamos de morte é um fim de uma existência material humana, permanecendo viva nossa principal essência, o espírito, é quem realmente somos, princípio ativo imortal da criação divina. “Tudo que provém das mãos do criador é eterno, porém o demais, se degenera nas mãos dos homens”.
Culturalmente o temor a morte é quase unânime por conta de raízes adubadas pelo pouco conhecimento de nossos ancestrais que modularam a morte como um fim tenebroso, de sofrimento para todos que ficam e muitas dúvidas quanto o destino dos que partiram, o que gera um atroz desconforto e angústia na vivência do luto.
Vejamos um ponto de vista que sugere reflexão. O momento que antecede o fim da existência terrena, é uma ocasião extremamente reveladora, pois é nessa hora em que todas as condições se igualam, onde os arrependimentos afloram, onde a consciência se expande mostrando a realidade comum a todos, sem exceção. É nesse momento em que se ver o outro com transparência, sem rótulos e preconceitos sob o pressuposto da igualdade. É a hora em que verdadeiramente se entende a diferença entre preço e valor.
Quando chegam os instantes que antecedem o desligamento da matéria, inicia-se uma preparação onde todos os cenários se descortinam, dando vista a uma tela por onde passa toda a nossa construção da vida, se erguemos ou demolimos, os valores onde foram concentrados maior atenção, o que foi feito com as oportunidades concedidas, o que poderia ter sido feito e foi negligenciado, o perdão negado, as preocupações causadas e como foram tratados aqueles que mais foram amados.
Bastante comum e portanto acredito que todos já tenham vivenciado com pessoas próximas ou ouvido falar de pacientes em estado de saúde grave e terminal, quando repentinamente são acometidos por uma súbita melhora do corpo e da mente, e após poucos dias partem. A chamada “melhora da morte” ou “lucidez terminal”.
Dentre alguns sentidos para essa situação, muito me chamou atenção a seguinte explicação: As células pressentem o fim da matéria e interagem de forma a beneficiar a reversão do quadro clínico do paciente, o que remete o corpo e todo o sistema orgânico, assim como a expansão da consciência, a reagir, oportunizando a melhora que conota uma evolução com esperança de cura, porém essa é a maior armadilha para os médicos. Não obstante a perfeição de nosso criador, essa situação é uma circunstâncial providência, para que o momento da suposta melhora seja utilizado na revisão do perdão que precisa ser dado, no eu te amo silenciado a anos, no reconhecimento do que poderia ter sido evitado, a reparação moral dos prejuízos causados, o apego material que tanto aprisionou a alma, o agradecimento por tantas graças que passaram despercebidas. É nesse instante que se toma consciência de que a maior doação que poderia ter feito é “do que sou” e não “do que tive”.
A relação que foi tida com Deus durante toda a atual existência, vai revelar a essência dos valores que foram nutridos e onde foi depositado o coração junto aos apegos.
É lamentável que em algumas situações esse momento seja desperdiçado, o que impede a compreensão do prosseguir na realidade que está prestes a imergir
É chegada a hora da passagem. Minha bagagem: a consciência. Minhas vestes: ainda vou conhecer. Para onde vou: só as respostas de meu questionamentos finais, podem dizer. Meu desejo: prosseguir e encontrar alguma forma de reparar meus débitos deixados. Meu consolo: a bondade divina. Minha certeza: continuarei vivo.
Autor:
José Romero Gomes da Silva