A Gata e o Cachorro se encontram todas as noites,
depois que o “dono” dela (mais amigo do que dono) vai dormir.
Ela sai da casa, pois seu sono é bem mais leve, e vai passear no quintal.
Lá, toda noite, está o Cachorro.
“Oi, Cachorro”, dizia ela.
“Olá, Gata”, ele respondia.
E ele espera que ela conte sobre o dia que ela teve.
Sempre é ela que o conta sobre as coisas que ela fez;
Nunca o contrário.
Não que ela tenha feito muito.
“Dormi na mantinha, perto do pé dele”, ela contou cheia de orgulho.
Dormiu, comeu, deu umas voltas pra falar que andou.
Deitou-se ao lado do dono/amigo e dormiu mais.
E assim passa seus dias.
Contou cheia de ciúmes de quando ganhou uma irmãzinha.
“Ela me assusta e parece um morcego”, disse a Gata.
“Com o tempo você se acostuma. E os morcegos são ótimos!”, ele a confortou.
E o Cachorro ama ouvir essas histórias em detalhe.
Dela apostando corrida até o fundo da casa, sempre vencendo.
“Sou muito mais rápida que meu Dono/Amigo”, brandeia a Gata.
Nos mais mínimos e possíveis detalhes.
Mas ele nunca conta as suas.
“Quando vai me contar sobre seu dono, Cachorro?”
“Um dia, Gata… um dia!”
E nesse um dia, a Gata chegou cabisbaixa.
O Cachorro já sabia o porquê.
“Ele te contou?”, pergunta o Cachorro.
Ela o olha com tristeza e responde:
“Disse que meu pêlo lembra o seu.”
O Cachorro se aproxima a tenta confortar:
“Eu queria saber como ele estava. E vi que você o faz muito bem.”, ele explica.
A Gata o questiona:
“E você? Está bem?”
Ele sorri e diz:
“Se vocês estão, eu também estou.”
A Gata e o Cachorro seguem dividindo o luar;
Uma das coisas que mais amam dividir.